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“Se quero fazer cinema, tenho que provar que o faço bem, com rigor. Mesmo que seja uma comédia”

Na comédia romântica ‘Podia Ter Esperado por Agosto’, César Mourão é actor, mas também argumentista, realizador e produtor. Fomos à produtora 313 conversar.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
César Mourão
Fotografia: Francisco Romão Pereira/Time OutCésar Mourão
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Este artigo foi originalmente publicado na revista Time Out Lisboa, edição 670 — Verão 2024.

Quase uma década depois de A Canção de Lisboa, no qual vestiu a pele de Vasco, César Mourão voltou ao cinema. Mas agora é mais do que o protagonista: é o cérebro por detrás de Podia Ter Esperado por Agosto, comédia romântica portuguesa que estreou nos cinemas a 18 de Julho e é exibido, a 18 de Outubro, na edição lisboeta do Festival Tribeca. Uma obra dos estúdios da produtora 313, co-fundada por César Mourão (juntamente com Diogo Brito), de onde já saíram as séries Santiago (2022) e Futre – O Primeiro Português (2022), ambas disponíveis no streaming da OPTO SIC. Foi na sede que nos sentámos a conversar com César Mourão sobre primeiras ideias, improvisação, comédia, cinema em Portugal e um percurso que já leva mais de duas décadas.

Podia Ter Esperado por Agosto é uma comédia romântica que se apresenta como “rocambolesca” e que, nas tuas palavras, nos fala da “importância de sabermos rejeitar a primeira ideia”. O que é que isto quer dizer?
Uma das grandes regras da improvisação é sabermos rejeitar a primeira ideia, porque é a ideia mais fácil, mais evidente, menos surpreendente. E, muitas vezes, é a que nos traz problemas. No palco, passamos a vida a fazer esse exercício, assim que temos uma ideia é a que temos de deitar fora. E, depois, a experiência dá-nos a capacidade de usarmos já só a terceira ou a quarta ideia e rejeitarmos as primeiras duas ou três, porque são fáceis. Numa plateia que está a ver improvisação, ou somos realmente muito surpreendentes ou dizem: ‘Ah, esta ideia também eu tive’. E este filme fala um bocadinho disso. Logo no início, Xavier, que neste caso sou eu, tem muitas saudades da Laura, que só lá vai no Verão, nas festas da aldeia, visitar o avô. O amigo dele já não o pode ver triste por causa disso e diz: ‘Mas como é que ela poderia vir antes do Verão?’ E eu digo: ‘Sei lá, só se o avô morresse’. O outro tem uma ideia e o caos dá-se aí. Portanto, se eu não tivesse aceitado a primeira ideia, isso não se punha. Não tínhamos filme, mas também não tínhamos a desgraça que acontece depois. Este filme trata de duas coisas. Um: saber rejeitar a primeira ideia e pensar um bocadinho melhor – e isto serve para nós no quotidiano. E dois: também fala de muita gente que tem familiares nas aldeias, que acabam por estar sozinhos anos inteiros, e só lá vão no Verão e eles só vêm a Lisboa visitar em datas ocasionais. Talvez nos momentos mais difíceis nos lembremos que devíamos ter vindo mais do que só no Verão.

Podia Ter Esperado Por Agosto
©DRCésar Mourão e Júlia Palha, em 'Podia Ter Esperado Por Agosto'

Chegaram a estar outras ideias em cima da mesa em relação ao argumento?
Chegaram. Nós fizemos o mesmíssimo exercício no texto que eu acho que deve ser feito em palco. Tivemos outras ideias, e até vos posso dizer que houve duas ideias que tivemos na escrita, as duas primeiras, que dissemos: ‘Não podemos aceitar isto, não faz sentido’. Mas mantivemos e são duas das melhores cenas do filme. É um bocadinho um contrassenso.

Pode acontecer.
Pode acontecer. Mas esse exercício foi feito na escrita também. Houve ideias que estiveram para acontecer que depois abandonámos, porque queríamos dificultar-nos a vida a nós próprios.

Estás a falar no plural.
Sim, porque eu escrevi com o Pedro Goulão.

O que é que funciona entre vocês os dois? Também trabalharam em Santiago [2022], na Esperança [2020]…
É uma técnica que não sei se muita gente usa… Neste caso eu tive a ideia do filme. E o diálogo normalmente é o Pedro ao computador e eu em pé a fazer as personagens todas a improvisar. E depois vamos mandando fora coisas e pondo outras. Mas eu faço o texto em pé e ele vai escrevendo no computador aquilo que eu estou a dizer. E depois arrependo-me aqui e não me arrependo acolá. E vamos construindo assim.

É um processo criativo muito particular. Aqui, sendo a primeira longa-metragem, o que é que foi diferente das séries que já desenvolveram juntos?
A abordagem é diferente e o cuidado é outro. Não sei se é melhor, se é pior, não tem a ver com isso. [...] Uma pessoa que está sentada à frente da televisão a qualquer altura põe pausa, vai comer alguma coisa, volta, puxa atrás, é uma linguagem diferente. Se aborrece, não quer ver mais – temos que os agarrar de maneira diferente. Se calhar numa série, o primeiro episódio tem que ser logo impactante, os primeiros minutos muito impactantes, tem que terminar de forma a segurar para eu ver o segundo episódio. O cinema é diferente. É raríssimo alguém sair a meio de um filme. Não digo que não aconteça, mas é muito raro. Portanto, o tempo de respiração e de abordagem é outro. A open scene pode ser feita de outra forma… Nós já os temos lá, as nossas presas já estão sentadas numa cadeira, é só manipulá-los à nossa maneira, com tempos de comédia muito diferentes, com tempos de filme muito diferentes do que hoje em dia a televisão nos obriga.

Eu não sou um humorista. Sou um actor que trabalha com comédia aqui e ali, não tenho aquele drive. Portanto os meus filmes e séries não têm esse gargalhar, têm humor pelo seu todo.

Há quanto tempo é que estavas a matutar nesta ideia?
Não há muito. Este filme surge quando eu vi Os Espíritos de Inisherin [2022] no cinema. Que não é uma comédia pura e dura, tem algum humor, na minha opinião, mas se calhar para muita gente não tem. Mas quando estava a ver o filme pensei: não existe em Portugal, pelo menos que eu me lembre, uma comédia que se passe com este tom, sem ser sempre ao sol, sem ser com muita luz. Eu queria uma comédia de Inverno, escura, cinzenta, passada no Norte de Portugal, não precisava de ser uma comédia sempre a estalar a luz e a cor. E depois que fosse também trágico-cómico, porque nem sempre é para gargalhar e tem coisas que nos deixam a pensar. Portanto, eu gostava que também tocasse a tragédia. Um bocado como as minhas coisas, mais ou menos, têm sido. A Esperança era muito isso também, era uma comédia que não era uma comédia. E eu digo sempre isto: eu não sou um humorista. Sou um actor que trabalha com comédia aqui e ali, mas não tenho aquele drive de humorista. Portanto, os meus filmes ou séries não têm esse gargalhar, têm humor pelo seu todo. Quando terminamos o filme, conseguimos dizer que o filme tem muita graça pela premissa, pelos minutos todos e não por punchlines.

César Mourão
Fotografia: Francisco Romão Pereira/Time OutCésar Mourão no escritório da produtora 313

Fazendo a ponte também com a Esperança, que de facto comove, as comédias muitas vezes dão-nos murros no estômago. Mas eras menino para fazer uma produção categorizada como drama?
Claro, sem dúvida. Gosto muito, quem me dera. Já fiz a produção de um drama, o Santiago, com um serial killer, embora eu não seja protagonista, mas ajudei na escrita e tive a ideia com o Diogo Brito. O drama está muito próximo da comédia, os dois estão muito próximos. Porque a comédia é muita coisa, não é só o que nos faz rir. Pode ter muita graça só por si, um serial killer nos caminhos de Santiago. O tal filme que eu estava a dizer, é muito isso. A premissa é só uma: “Eu não quero ser mais teu amigo, não tenho mais paciência.” E o outro diz-me, “mas porquê?” E é só isto, o filme é só isto. Mas faz sentido, “não quero ser mais teu amigo. Não tenho tempo a perder, não quero ser mais teu amigo.” E o outro tanto o chateia – fazendo um bocado de spoiler – que ele diz, “se me voltares a chatear, a ir a minha casa, a querer ser meu amigo, eu arranco um dedo e deixo à tua porta”. E ele arranca os dedos todos. Acho que tem muita comédia.

Eu queria falar também do elenco do Podia Ter Esperado por Agosto, que tem pesos pesados como a Júlia Palha, o João Reis, a Carla Vasconcelos, o Manuel Cavaco, a Luísa Cruz, o Marco Paiva, com quem tens trabalhado…
O Marco Paiva é o meu actor fetiche.

A sério?
Ele tem um papel pequeno neste, embora eu não ache que haja papéis pequenos. Nesse tal filme que eu estava a dizer, o papel mais pequeno do filme é o meu preferido.

E uma figura aqui que tem muito destaque é o Kevin Dias, o lusodescendente conhecido pela série Emily in Paris. Este filme traz o Kevin um bocadinho também para perto de casa dele, não é?
Sim, é de Guimarães. Ele ficou muito surpreso e lisonjeado com o convite. Embora eu achasse que ele não ia aceitar, por falta de tempo. A Emily in Paris estava a voltar para mais uma temporada e de repente acertamos no único mês e pouco em que o Kevin não tinha absolutamente nada. Aliás, tinha uma ou duas coisas que fez o favor de cancelar. E ele adorou poder fazer alguma coisa em Portugal, poder fazer alguma coisa com a língua mãe dele. Foi engraçado que, mal surgiu o convite, começou logo a ter aulas de português para melhorar e perceber algumas subtilezas do humor que ele não percebia logo. E foi uma grande aposta, vão-se surpreender.

Há aqui também uma ideia de levar para França, ou exportar este filme para o público francês? Na verdade, o cinema francês lança imensas comédias todos os anos, com grande sucesso…
Seria uma ousadia dizer que isto é um género de uma comédia francesa. Eu acho que é, na sua essência, mas não me estou a comparar ao cinema francês. Até porque todos nós sabemos que o cinema francês é muitíssimo bom. É muito fechado, acho difícil entrar ali naquele meio, mas é uma tentativa, vamos ver.

Kevin Dias
©DRKevin Dias, em 'Podia Ter Esperado por Agosto'

Como é que vão parar ao Soajo? Já percebi que procuravam um ambiente mais cinzento. É uma zona lindíssima, não é?
Lindíssima. Um dia fiz o Terra Nossa em Arcos de Valdevez, fomos ao Soajo entrevistar uma senhora e aquele largo pareceu-me cinematográfico, imediatamente. E mal eu pensei no filme, disse: “Até já sei onde é que é.” O engraçado é que 95% do filme é exactamente nos sítios onde é filmado. Ou seja, quem está a ver percebe até que a distância é real, do café à igreja, da igreja à GNR, da GNR à funerária, que era mesmo a antiga funerária. Soubemos sem querer, até essa coincidência acabou por ser feliz. Portanto, tudo aquilo é como se fosse uma cidade cenográfica, é muito bonita.

Agora falando do teu grande superpoder, a capacidade de improvisação: quando estás em cena há sempre espaço para o fazer? Porque às vezes parece.
Tudo o que eu faço com texto – como a Esperança, Volto Já [2022], Podia ter Esperado por Agosto – tem zero de improviso. Confesso que até podia ter um bocadinho mais de improviso, porque muitos realizadores, e neste caso eu era realizador, pedem: “Aqui podes ir na tua, dá-me mais coisas para além do texto.” Portanto, até acredito que em alguns sítios podia ficar melhor, mas sou muito rigoroso no texto e muito rigoroso nas marcações. Uma coisa que me fascina no cinema é pegar exactamente no copo naquela altura onde peguei no take anterior, dizer exactamente o mesmo texto enquanto olho e com a mesma inflexão. Tenho fascínio pelo rigor.

Engraçado, porque às vezes, por exemplo na Esperança, parece mesmo improviso.
Eu tenho uma técnica com que o Pedro Goulão brinca variadíssimas vezes: “Eu sou o único escritor que escreve para um tipo que faz improviso.” Eu faço muitas vezes questão de que aquilo que parece que eu improvisei não seja improvisado. E não é, está escrito. Mas eu acho que esse é o truque: a verdade é muito diferente da naturalidade. Eu não gosto muito de ver no cinema a naturalidade, porque a naturalidade dá um ar… começam algumas interjeições tipo ‘oh pá’ e o ‘olha lá’... eu não acho que fique bonito. Tanto que no cinema dos Estados Unidos não vemos isso acontecer, as frases são ditas daquela maneira. Tem que parecer que aquilo é verdade, não tem que parecer que é natural, porque eu estou a criar um personagem.

César Mourão
©DRCésar Mourão, em 'Esperança'

Chegaste há 20 anos como apresentador, depois comediante, actor, agora argumentista, realizador, produtor, sem contar com os palcos também. Mas no meio disto tudo, este crescimento passo a passo, porque nada aconteceu de repente, sentes que houve algum ponto de viragem?
Nunca tinha pensado nisso dessa maneira, mas acho que houve alguns. Eu fazia as manhãs da SIC e fui convidado para integrar o elenco do Herman José em 2017, no programa do Hora H [2007]. Aí há um ponto de viragem, não apenas no sentido de ter sido um dos escolhidos, como no que eu aprendi com o Herman em plateau. E não estou só a falar de humor ou timing de humor, estou a falar de tudo o que está para além das câmaras. A maneira de olhar para os técnicos, para um texto, para o rigor, para o profissionalismo do Herman. [...] Depois houve outro ponto de viragem que foi o primeiro Vale Tudo [2013-2014]. Verdade seja dita, a minha carreira deve muito ao Daniel Oliveira, porque muito antes de ser director da SIC foi uma das vozes defensoras do meu trabalho. [...] O elenco do Vale Tudo, que era sobretudo improvisação, estava praticamente fechado e eu não fazia parte. Há uma despreocupação de quem manda nisto, de assistir a algumas coisas para além daquilo que aparece na televisão. E na minha opinião, ninguém que pertencia à direcção da SIC na altura tinha visto o Comédia a La Carte ao vivo. Se o humor é o parente pobre das artes, o improviso é o parente pobre do humor. O Daniel diz: “Acho que devíamos convidar, não convidamos a única pessoa que faz improvisação para um programa de improvisação? Não faz muito sentido.” Ligaram-me, e quase que não aceitava, porque estava meio melindrado de não ter sido pensado no início. Lá aceitei e no Vale Tudo há um olhar do público perante a minha rapidez de raciocínio, se quisermos, ou o meu lado de improviso. E aí a estação achou que foi muito bem conseguido e deram-me os parabéns. Depois, nos Globos de Ouro [2015], interpreto uma senhora de 80 e muitos anos, que também a direcção não queria na altura. Tinham umas ideias para eu fazer que eu achei paupérrimas e disse: “Jamais, se quiserem eu tenho uma ideia e faço a minha ideia; se não, não aceito, obrigado pelo convite.” [...] Aceitaram, fiz e correu muitíssimo bem. E depois, talvez, a última viragem de todas foi o Terra Nossa [2018], que era para ser só quatro programas. Eu não ia aceitar, ao início. Disse: “Sou envergonhado, não tenho talento para andar na rua com as pessoas, não vai correr bem.” [...] E estamos no sétimo ano, ininterruptamente, a fazer o Terra Nossa. Ah, e não me posso esquecer da Esperança. A Esperança traz algum rigor que o Terra Nossa parece que não tem. Espero que o Podia Ter Esperado por Agosto seja mais uma viragem. E que possamos, daqui a uns anos, estar a conversar sobre esta viragem enquanto realizador.

César Mourão
Fotografia: Francisco Romão Pereira/Time OutCésar Mourão, na 313

É o primeiro filme que realizas, mas já fizeste o Volto Já e o documentário Futre – O Primeiro Português [2022]. Já agora, bom sotaque do Porto no Volto Já [a entrevistadora é portuense]. Porque é também uma coisa muito física.
Não se fala muito do Porto nas séries. É uma segunda cidade e as séries não se passam muito no Porto. Lembro-me de haver uma coisa há uns anos na RTP, Os Andrades.

A actriz d’Os Andrades entrou no Volto Já, a Arlete de Sousa.
E o actor [Mário Moutinho] era para entrar e não teve disponibilidade. Portanto, não se passa muita coisa numa segunda cidade, que é o Porto. Enquanto humor focado para ali. E eu disse: “Este homem tem que ter esta loja, tem que ser no Porto. E logo vejo se com o sotaque me aguento.” Foi uma descentralização propositada.

De uma forma muito geral, e porque há um mercado muito pequenino português de cinema, o que é que faz valer a pena criar uma produtora, a 313?
Fazer cinema com os tempos de cinema, com o rigor de cinema, com o técnica de cinema, é um privilégio. É nós conseguirmos olhar para uma tela de cinema e dizermos: aquele filme é nosso, pensado por nós, com as nossas ideias, com as ideias de realização da minha cabeça. Tudo é diferente em cinema, só por aí já vale a pena.[...] E o cinema tem um fascínio um bocado próximo do que é o teatro: vemos as pessoas a saírem de casa. [...] Têm de combinar um dia com a família, têm de se deslocar a um cinema e assistir. É realmente o que vale a pena.

Além deste primeiro filme, a 313 produziu as séries Santiago e Futre. São três coisas completamente diferentes – qual é o ponto em comum?
Só há um, que é o rigor como se faz. Em tudo o que fizemos, a nossa preocupação maior de todas é o posicionamento e o rigor. Não procuramos ser só blockbuster e ter só audiências, mas preocupamo-nos em fazer bem feito. O que une estas três [produções] é, na minha opinião, esse rigor e esse cuidado.

Lúcia Moniz
©SIC/ OptoLúcia Moniz é a protagonista de 'Santiago'

Recentemente, nos Encontros do Cinema Português, voltou a debater-se o mercado nacional e, em particular, os financiamentos do cinema: se é o ICA – Instituto do Cinema e Audiovisual, se são os privados, se são todos. Quando pensas nestas coisas, o que é que te passa pela cabeça?
É um tema difícil e as opiniões que eu tenho ouvido acabam por ser todas válidas. O primeiro investimento com que eu me preocupo é o investimento pessoal. Ter investimentos do ICA e disto e daquilo, se não houver um investimento sério pessoal e um comprometimento de toda a equipa... [...] Depois, obviamente que sabemos que o ICA, por exemplo, não apoia toda a gente. Sabemos que um filme que seja mais blockbuster, toda a gente fica um bocadinho com o pé atrás… Ainda por cima é a primeira vez que realizo. Portanto, eu tenho consciência disso e até acho, de certa forma, que está correcto. Se calhar, eu tenho de provar que mereço esses investimentos e esses apoios. Isto não me choca. Porque é que eu havia de ter um investimento logo num primeiro filme que faço? Depois de provarmos que não é por ser um blockbuster que é menos cinema, nós, obviamente, precisamos muito [do apoio]. Sou fã e acho que deve existir o cinema de autor. Mas também precisamos muito do cinema, digamos, mais popular, e depois precisamos do cinema, que eu acho que é onde este está, que fica ali no meio. Não é um filme popular que arraste uma piada mais fácil ou uma coisa como Balas e Bolinhos [2001], por exemplo, que não é uma piada tão fácil, é um outro estilo de cinema que eu acho que é importante que exista. Mas depois também não é um Restos do Vento [2022], do Tiago Guedes, obviamente, com as diferenças e com o brilhantismo de todo o elenco e de uma pessoa como o Tiago. Situa-se ali no meio. Queremos que as pessoas vão ao cinema e não temos medo de dizer que é uma comédia romântica como elas devem ser escritas, não inventámos nada. Mas também é feito com cuidado e com rigor.


Mas, em relação ainda à pergunta, eu acho que eu e outros como eu teremos que provar – e não é com um filme nem com dois que se prova – que podemos ter outros apoios, podemos ter outros investimentos, e eu acho que isso se prova com o trabalho. Acredito que isso venha a mudar e que olhem para a 313 ou para mim de outra forma daqui a quatro, cinco filmes. Não seria correcto, da minha parte, estar a querer que olhassem para mim já, equiparando-me a um realizador como o Tiago Guedes ou como o Marco Martins, com os mesmos direitos e deveres. Se eu quero fazer cinema, mesmo que seja um cinema de blockbuster e mesmo que seja uma comédia, eu tenho que provar que o faço bem, com rigor, com equipa séria e com um trabalho sério. E depois olhar para os tais apoios. Obviamente que concorremos a esses apoios, mas temos muito mais atenção ao apoio pessoal, ao apoio que nós conseguimos fora: neste caso, a SIC apoiou-nos a fazer este filme, também temos uma marca, que não tenho problema de dizer que é a Nacional, que também nos apoiou neste filme, mas isso é tudo uma cabeça criativa como a nossa a tentar “como é que vamos colocar aqui apoios que não ofendam o espectador?”.

A Esperança tinha o apoio de uma óptica.
A Esperança tinha, uma coisa simples. No Volto Já era diferente, foi aquela marca que pagou uma série, era assumidamente uma publicidade, mas de ficção.

E que ainda assim conseguiram fazer de uma forma integrada.
Era pensado para isso.[...] Cabe a nós também termos criatividade. Essa é a minha preocupação. Vamos buscar marcas, mas não pode ser qualquer marca, nem pode ser enfiada de qualquer maneira. Tem que fazer parte de uma narrativa e esse cuidado também está no filme.

Depois de Agosto, vais estar com a Tragédia A La Carte a partir de Setembro. Tens mais alguma coisa que possa ser divulgada para os próximos tempos?
Não, e não é por maldade. Há muitas ideias. Há umas que estão no papel, mas não sei ainda para onde nos vamos virar. Não sei se haverá um Podia Ter Esperado por Agosto 2, vai depender do sucesso deste. Eu também não gosto de pensar a minha vida assim. Há uma coisa que eu tenho certeza: é que haverá para o ano Comédia A La Carte novamente. Portanto, até morrermos os três, e já morreu um, haverá Comédia A La Carte de certa forma. Isso é a única coisa que eu tenho certeza. Tudo o resto, eu gosto que vá acontecendo.

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