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Sem consentimento: documentário alerta para os perigos do deepfake

Os perigos da Inteligência Artificial estão em foco no documentário “Another Body”, que acompanha um dos muitos casos de mulheres vítimas de deepfakes em vídeos pornográficos. Estreia a 28 de Dezembro na Filmin.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
Another Body
©DRAnother Body
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Os cineastas Sophie Compton e Reuben Hamlyn mergulharam no mundo mais obscuro da internet para dar a conhecer uma das mais recentes armas da violência contra mulheres. O documentário Another Body, vencedor do Prémio Especial do Júri no SXSW Film Festival (Austin), acompanha a história real de uma estudante universitária que descobriu a sua cara em vídeos pornográficos, deepfakes criados com recurso a Inteligência Artificial (IA). Estreia na Filmin a 28 de Dezembro.

Uma das possibilidades criadas pelo advento da IA é o chamado deepfake, uma expressão que define a possibilidade de criar vídeos falsos com caras de pessoas que nunca neles participaram. E, em muitos casos, é quase impossível notar a diferença. Aliás, uma das reivindicações dos actores que estiverem em greve nos EUA, este ano, passou por salvaguardar os seus direitos à imagem neste âmbito. Um bom exemplo do potencial desta nova tecnologia é um vídeo chamado “This is not Morgan Freeman – A Deepfake Singularity” (ver abaixo), em que o actor aparece a dizer que não é ele próprio. Trata-se sim de um vídeo criado através de IA. Neste caso, é inofensivo e alerta precisamente para os perigos desta nova tecnologia. Entre eles, o objecto do documentário Another Body.

No documentário, acompanhamos Taylor, uma estudante de engenharia que descobre que está a circular um vídeo pornográfico com a sua cara na internet. Um vídeo em que nunca participou e uma manipulação digital que substitui a face da actriz pornográfica pela sua. O nome desta jovem denunciante é fictício e a cara que aparece no documentário também não é a sua, mas por outras razões. Os realizadores optaram por proteger a identidade de Taylor e de outras vítimas que dão voz às suas histórias nesta produção, contratando actrizes para as substituírem e, desta vez, com o seu consentimento.

“Começámos este projecto com uma fase de pesquisa extensa e inquietante, percorrendo os cantos escuros da Internet, como o 4chan. Sabíamos que queríamos contar uma história sobre esta tecnologia e sabíamos que queríamos que fosse contada através da experiência vivida por uma pessoa, mas como tão poucas pessoas falaram sobre deepfakes a nível global, não sabíamos se alguma vez encontraríamos alguém que se sentisse preparado para o fazer”, diz a dupla de realizadores em comunicado. Acabaram por encontrar as redes sociais de Taylor através da plataforma Pornhub, onde nunca se inscreveu.

A legislação não tem acompanhado a velocidade da evolução tecnológica e nos EUA, onde se conta esta história, os deepfakes são legais em 48 dos 50 estados. Por outro lado, 90% destes vídeos falsos usam imagens de mulheres para gerar vídeos com conteúdos pornográficos, sem o seu consentimento. O primeiro passo para a criação de uma lei que regule o novo mundo foi dado este mês de Dezembro pela Comissão Europeia, que desenhou o Regulamento Inteligência Artificial, um primeiro passo para a regulamentação de vários aspectos da IA que podem afectar, negativamente, a vida dos cidadãos, não só europeus, mas de todo o mundo.

Ao mesmo tempo que lançaram o documentário, Sophie Compton e Reuben Hamlyn lançaram também a campanha #MyImageMyChoice, para apoiar pessoas afectadas por situações semelhantes e alertar para o facto de que qualquer pessoa com perfis nas redes sociais é uma potencial vítima de deepfakes. Um movimento que já vai dando frutos: mais de 50 vítimas juntaram-se numa acção colectiva que levará a tribunal a impunidade de plataformas online como a Pornhub.

Filmin. Estreia a 28 de Dezembro

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