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Série documental de Ana Gomes mostra a herança cultural portuguesa na Indonésia

A antiga diplomata portuguesa em Jacarta regressa àquele país do Sudeste Asiático como a anfitriã de ‘A Minha Indonésia’. Estreia esta segunda-feira na RTP2.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
A Minha Indonésia
©Francisco Manso - Produção de AudiovisuaisAna Gomes, em 'A Minha Indonésia'
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Em 1999, Ana Gomes assumiu o cargo de embaixadora de Portugal em Jacarta, num período da história em que acabou por se tornar figura de proa no processo de autodeterminação de Timor-Leste. Vinte e cinco anos passados, a Indonésia permanece na memória colectiva portuguesa como um país hostil, embora as relações diplomáticas se tenham reatado no final de 1999, quando já se trilhava o caminho para independência timorense. O que muitos também desconhecem é que Indonésia e Portugal partilham vários aspectos culturais, da língua e da música à arquitectura e à religião. A Minha Indonésia é um retrato do que nos une, em cinco episódios.

Foram 130 os anos de presença portuguesa na Indonésia, em particular no século XVI, fruto da exploração marítima portuguesa. Nesta região, está localizada a ilha de Timor, cujo território foi durante muito tempo partilhado entre portugueses e holandeses, os outros colonizadores do território que é hoje a Indonésia. Uma história longa que para os portugueses culmina, em 2002, no reconhecimento internacional do Estado de Timor-Leste, invadido pela Indonésia em 1975, após a descolonização portuguesa. Um dos momentos mais marcantes desta ocupação foi o massacre no cemitério de Santa Cruz, em 1991, que ainda hoje sobrevive na memória colectiva dos portugueses. No entanto, hoje a história escreve-se com o que nos une e não com o que nos separou nesses anos de conflito.

Numa apresentação da série que decorreu sexta-feira na sede da RTP, Ana Gomes recordou à Time Out os tempos de apaziguamento. “Nós restabelecemos as relações no final do ano de 1999, depois de a questão de Timor-Leste estar resolvida. Aliás, nós pedimos o restabelecimento das relações no dia a seguir ao Parlamento indonésio ter cancelado a anexação de Timor, porque nós é que as tínhamos quebrado. E foi um gosto, de facto, que menos de um ano depois de eu estar lá tenhamos restabelecido relações”. Ana Gomes reconhece a “percepção muito negativa sobre a Indonésia” sentida pelos portugueses, mas acredita que esta pode agora ser atenuada dando a conhecer um “extraordinário acervo de cultura portuguesa viva na Indonésia que os indonésios valorizam muito”. Ora, A Minha Indonésia serve precisamente para “ajudar a redescobrir e ajudar a tornar conhecido” esse lado do país.

Para desenvolver esta produção, um desafio que Ana Gomes lançou ao realizador Francisco Manso (Abandonados), a antiga diplomata explica que a ideia foi partir do livro de António Pinto da França (diplomata que trabalhou como Encarregado de Negócios em Jacarta entre 1965-70), intitulado A Influência Portuguesa na Indonésia, e trazer a história para “os novos media”, para que “levassem mais portugueses a procurar conhecer esta herança comum”. Uma viagem que releva um lado cultural “que é tão valorizado lá e também deve ser valorizado pelos portugueses”.

A Minha Indonésia
©Francisco Manso - Produção de Audiovisuais'A Minha Indonésia'

"Valorizar a diferença é muito importante"

Ana Gomes fala a língua indonésia (e os espectadores poderão comprová-lo enquanto assistem à série documental) e são várias as palavras que o idioma tem em comum com o português – como manteiga (mantega), mesa (meja), tinta, janela (jendela), sapatos (sepatu), bandeira (bendera), entre muitas outras. Na música, um instrumento musical chamado kroncong faz lembrar o cavaquinho e logo no primeiro episódio ficamos a conhecer a Semana Santa na Ilha das Flores, uma das ilhas onde estão mais presentes os vestígios da cultura portuguesa e onde podemos ver uma procissão marítima católica, num país maioritariamente muçulmano.

“Há aqui aspectos que vão para além da simples questão cultural e que aproximam os povos, que aproximam as culturas e que mostram que é possível de facto viver em harmonia. Nesse aspecto, a Indonésia tem uma filosofia muito sincrética. O próprio Islão tradicional indonésio é muito respeitador das influências que tem da cultura hindu, do budismo e do cristianismo. Portanto, valorizar essa diferença que faz a diversidade, mas que não é impeditiva da unidade, é muito importante. Acho que é um belo exemplo político nos dias que correm”, defende Ana Gomes.

A Minha Indonésia estreia esta segunda-feira, pelas 20.35, e os cinco episódios são emitidos diariamente, até à próxima sexta-feira.

RTP2. Estreia Seg 20.35

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