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Solidão, abandono e traumas. Vamos redescobrir Marilyn Monroe em palco

Interpretada por Anna Sant’Ana, ‘Marilyn, Por Trás do Espelho’ viaja do Brasil para Portugal e traça um perfil da actriz que vai além do glamour de uma grande estrela. Está em cena no Trindade.

Bárbara Carvas
Escrito por
Bárbara Carvas
Estagiária
Marilyn Monroe
ALIPIO PADILHA
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Marilyn, Por Trás do Espelho esteve dois anos em cena no Brasil, onde passou por várias cidades. Agora, chega a Lisboa e vai subir ao palco da Sala Estúdio do Teatro da Trindade Inatel, em Lisboa, de 14 de Novembro a 22 de Dezembro – mas esse não será o fim da carreira portuguesa da peça criada e interpretada pela actriz brasileira Anna Sant’Ana, visto que a visita a Faro está confirmada para Fevereiro.

O que o público nacional se prepara para ver nos próximos meses resulta de um trabalho de pesquisa e desconstrução da vida de Marilyn Monroe, célebre actriz, cantora, modelo e poeta norte-americana que, apesar de ter morrido em 1962, continua a ser uma figura marcante da cultura popular – como nota Anna, mesmo quem não conhece os filmes ou a sua história, "conhece a imagem".

A peça estreou-se no Rio de Janeiro a 4 de Agosto de 2022, precisamente no dia em que se assinalavam 60 anos sobre a morte de Monroe. "Eu não acredito em coincidências… não foi uma coisa pensada por eles, nem pedida por nós. Simplesmente aconteceu", refere Anna Sant’Ana, que desde então tem encarnado a actriz em palco e que, para o fazer, teve de “entender quem era essa mulher, quem foi Norma Jeane [Mortenson, nome de baptismo de Marilyn], o que ela passou e o que ela sentiu”.

Marilyn Monroe
ALIPIO PADILHA

Sobe o pano e, num cenário com um sofá, um espelho, um cabide com algumas peças, uma cadeira branca e um banco, encontra-se a protagonista, de costas para o público e copo na mão. No chão, os comprimidos, ou “fiéis companheiros”, como lhes chama. Marilyn começa por demonstrar comportamentos de uma certa instabilidade, à medida que se vai rindo e brindando sozinha. É o fio da saúde mental que se começa a desenovelar, desde logo com o histórico familiar: diagnosticada com esquizofrenia, a mãe foi afastada de Norma Jeane e seguiu para uma clínica de reabilitação (quanto ao pai, sabe-se que trabalhava com a mãe na indústria do cinema e que não tinha contacto com a filha). 

A peça vai à infância de Norma Jeane, aborda os abusos de que foi vítima por parte de um ex-companheiro da mãe, a ida para o orfanato, o piano branco que a tia Ana guardou e que simbolizava o lar que ela nunca teve, e o casamento com apenas 16 anos. Mas o monólogo desenvolve-se sobretudo à volta do seu esforço em ser alguém. “No fundo, ela só queria isso. Ela só queria a aprovação das pessoas. Ela só queria ser amada verdadeiramente”, diz Anna, após um ensaio, esta segunda-feira. Embora se tenha dedicado às aulas de canto, ao teatro e à dança, representando em inúmeros palcos, incluindo em Nova Iorque, Marilyn não deixava de ser vista como um objecto, como um sex symbol (os nus que fez para um calendário, a troco de 50 dólares, perseguiam-na). 

Marilyn Monroe
ALIPIO PADILHA

Os comprimidos, bem como o álcool, surgem em momentos de pressão sofridos em Hollywood, e acabam por se tornar um vício e fazer parte da sua vida até ao fim. Também devido à solidão, recorria a eles como uma solução para superar o vazio que sentia ou até mesmo as insónias, como é monstrado em cena. Quando o stock se esgotava, agarrava-se ao champanhe, numa tentativa de relaxar e, por fim, adormecer. Numa dessas muitas vezes, exagerou na dose e, aos 36 anos, acabou por morrer – “nesse dia não teve ninguém para salvá-la”, refere Anna. Nem mesmo a vizinha Eunice que, com a televisão alta, nem sempre conseguia ser uma ajuda.

Não foi assim há tanto tempo que a questão da saúde mental começou a ser vista verdadeiramente como um problema. E, neste sentido, a peça aparece num momento em que acharam que "fazia sentido", como refere a encenadora Ana Isabel Augusto, abordando temas como a solidão, o abandono e a rejeição. "Acho que, de repente, isto fala às pessoas de uma forma que se calhar há um tempo não falava", diz.

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Distinguidos com o prémio CENIN, no ano de estreia, para melhor texto original e melhor monólogo, a ideia da peça foi de Anna Sant’Ana, que para a pôr em prática voltou a unir esforços com a encenadora Ana Isabel Augusto. O argumento também é dela, embora a dramaturgia tenha depois sido entregue a Daniel Dias da Silva. Ao som de canções como "New York New York" e momentos como o "Happy Birthday" a J.F.K., ou até a famosa cena do vestido branco de O Pecado Mora ao Lado, a peça retrata os altos e baixos, entre o interior, o exterior e o glamour da vida de Marilyn Monroe. 

Teatro da Trindade Inatel – Sala Estúdio. 14 Nov-22 Dez. 10€-14€

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