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Superlinox, o artista mistério, deixou ‘Sofia’ no Elevador de Santa Justa

As esculturas do artista aparecem misteriosamente, no espaço público, de um dia para o outro. A nova peça pode ser vista na Rua do Carmo, junto ao Elevador de Santa Justa.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
Sofia
Fotografia: Francisco Romão Pereira"Sofia", de Superlinox
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Uma máquina de lavar roupa cor-de-rosa no telhado de um prédio abandonado em Setúbal. Foi a primeira aparição de uma obra de Superlinox no espaço público, corria o ano de 2020. Desde então, o incógnito artista setubalense, que dá pelo nome de Superlinox, já colocou dezenas de esculturas nas ruas das cidades, na sua maioria em Setúbal, a sua terra-mãe. Mas em Lisboa já foram achadas 19 esculturas de Superlinox. Falámos com ele por chat e por email, mas ainda não sabemos quem é.

Li que és formado em Escultura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. E o que podemos saber mais sobre ti? Tens um trabalho dito normal?
Para se mudarem as regras de um jogo é preciso entender as suas regras originais, não é verdade? Sim, estudei Escultura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Talvez seja, há alguns anos, um dos Falcoeiros do Aeroporto de Lisboa [risos]. Não sei se tenho um trabalho “normal”, mas oferece-me a estabilidade financeira e o tempo necessário para concretizar os meus “investimentos poéticos”.

Porquê tanto mistério?
Não sei se percebo a pergunta. Os artistas – ou os poetas – não deveriam ser, por definição e natureza, todos misteriosos? O que acontecerá à arte quando deixar de ser misteriosa?

Como foi escolhido o nome Superlinox?
Tendo em conta o que planeava iniciar, foi-me implícito que iria precisar de inventar um nome. Lembrei-me que quando jogava Wildlands ou Dying Light com amigos online, tratavam-me por Linox. Senti que a esse nome faltava atitude e uma carga conceptual. Inspirado na ideia de um “super-herói” ou um “super-vilão”, decidi inventar um “super-artista”. Imaginei que essa suave arrogância teria dois resultados possíveis: ou me vão amar ou me vão odiar. Creio que esse deve ser o nosso sentimento pela arte e pelos artistas: uma relação intensa.

Quantas esculturas é que o Superlinox já ofereceu às ruas das cidades (no total) e quantas apareceram no concelho de Lisboa? Alguma ainda permanece?
No total, já fiz 36 oferendas. Em Lisboa, 19. Em Setúbal, permanecem três esculturas. Fresh Air Urgency (2021) permanece em cima de um dos muros da estação de comboios, a refrescar o espírito dos setubalenses entediados. O Carlos (2021) voltou a aparecer e continua instalado na polémica “fonte do Ovo”, na rotunda do Hospital de São Bernardo, a controlar as águas da fonte e a alertar os setubalenses para o problema do sonambulismo. A Carta à Juventude (2022) permanecerá no pátio interior da Escola Secundária Dom Manuel Martins – foi a primeira obra feita por encomenda. Em Lisboa, a invasão dos monólitos, durou o tempo que estava previsto durar: pouco. O espírito festivo da Liliana (2021) e a irreverência do Puto Rasta (2021), também não lhes permitiu ficarem muito tempo no mesmo sítio – duraram apenas um dia. Permanecem os irmãos Melnyk, sob os cuidados da Escola Básica O Leão de Arroios; permanece a Margarida (2021), uma rapariga hipster, junto à Repsol do Casal Ventoso; Presente para a Poesia a alegrar o ambiente do Chiado e do Pessoa; e a Sofia, uma diva que não suporta migalhas, permanece confiante junto ao Elevador de Santa Justa, no Chiado.

Sofia
Fotografia: Francisco Romão Pereira"Sofia", de Superlinox

Quem é a Sofia que agora apareceu na Rua do Carmo?
A Sofia é uma mulher cheia de convicção, auto-estima e amor-próprio, que não tolera migalhas! Antes de respeitar os outros, preocupa-se em respeitar-se a si mesma. A Sofia é uma diva que se tem revelado bastante fotogénica. Desconfio que, entretanto, já se tenha tornado uma musa para muita gente. Talvez a pergunta se torne mais interessante ao contrário: quem é a Sofia para vocês?

Que mensagens queres passar com estes trabalhos?
A natureza de uma mensagem tende a ser uma coisa objectiva. Uma boa mensagem deve ser clara, directa e sem espaço para grandes interpretações. A comunicação da arte tem de ser de outra natureza. A arte transmite ideias, intenções ou energias. As energias têm impactos diferentes nas pessoas, não é? Cada pessoa interpretará e relacionar-se-á à sua maneira com a arte. Ainda que a arte seja uma mentira, em princípio deverá provocar reacções verdadeiras nas pessoas que têm a coragem de se relacionar com ela. Nem toda a gente tem essa coragem.

Ficas triste quando as esculturas são retiradas do espaço público?
Não sei bem... acho que já não fico triste. Não será a efemeridade que dá sentido à vida? Não será a efemeridade que origina em nós o sentimento de beleza? Interessa-me muito mais saber se a comunidade fica triste ou não. Na verdade, sinto-me um realizador de cinema: crio estas personagens que têm o seu momento no filme. A certa altura, as personagens têm de sair de cena, não é? Entretanto, entram outras. E por aí adiante.

Presente para a Poesia
Fotografia: Francisco Romão PereiraNo Chiado também encontra a peça “Presente para a Poesia”, de Superlinox

Já alguma vez quase que te apanharam?
Não. E daqui para a frente, dificilmente serei apanhado. Entretanto, a equipa cresceu. Se alguma autoridade interromper uma futura instalação, os meus assistentes saberão muito bem o que fazer e dizer.

Como reages quando te comparam ao Banksy?
O Banksy é claramente uma referência, não só para mim, mas mundialmente. Ainda que a metodologia de trabalho de Banksy seja muito diferente da minha, percebo a comparação e sinto-me lisonjeado, evidentemente. Como não? Banksy revolucionou a arte e o mundo de arte! No entanto, não consigo deixar de pensar que: se já tenho um nome, porque haveriam de me chamar outro? Será que andam a tentar fazer-me bullying? Admirar-me-ia se me comparassem a Marcel Duchamp ou a Andy Warhol.

Siga o trabalho de Superlinox na sua página oficial de Instagram.

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