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1. Péssimas visitas guiadas
Mas no bom sentido. Como as Worst Tours, no Porto, que levam turistas pelos bairros onde nenhum turista se lembraria de ir.

©Christopherd/worst tours
Os guias não são bem guias, os percursos são decididos em cima da hora e os monumentos obrigatórios da cidade são completamente ignorados. E no entanto, as Worst Tours do Porto são essenciais para quem quer conhecer uma faceta da cidade ignorada pelas passeatas tradicionais. Ou seja, para quem quer conhecer a cidade a sério e não a versão efabulada dos postais. As Worst Tours são uma ideia de três arquitectos, Pedro, Gui e Isabel, que se apresentam como desorganizados, sem sentido de orientação e com um humor ácido. E todos apaixonados pela cidade. São eles quem leva turistas por becos e vielas, pátios e tascas. Recantos de tripeirice genuína, a salvo do bicho da gentrificação. Para marcar uma visita basta preencher um formulário no site e iniciar uma troca de mensagens com os “péssimos” guias. Depois é marcar encontro (normalmente na Praça do Marquês) e seguir viagem. A Worst Tours prefere grupos pequenos e não cobra qualquer preço pela viagem. No entanto, os turistas não devem ser tão “péssimos” como os passeios em si e são encorajados a deixar gorjeta.
2. Beber uns copos com o Donald
Ou melhor, um bar decorado como a sala de Donald Trump. Estão a ver o Trumps? Não tem nada a ver.

Devem ser poucas as pessoas no planeta que querem tomar um copo com o Homem Mais Poderoso do Mundo – que por esta altura será também O Homem Mais Satirizado do Mundo e O Homem Mais Alaranjado do Mundo. Mas se há gente a pagar para apanhar sustos em casas de terror ou a tirar cursos de pára-quedismo, por que é que um humano saudável não pode sentir a adrenalina de visitar uma réplica dos escritórios de Donald Trump? Em Dalston, no Este de Londres, abriu em Outubro o Twumps, um bar pop-up que serve cocktails e, é claro, comida vinda do lado de lá do muro: mexicana. Existe na sala uma réplica da secretária do presidente e uma pequena biblioteca onde se podem ver livros como “O Alcorão para Totós” ou uma volumosa biografia de Hitler. A brincadeira é temporária – o bar desaparece no final desta semana – e uma parte do dinheiro feito com os comes e bebes vai para associações dedicadas à defesa dos direitos humanos e várias causas de justiça social. Por cá, a nossa sugestão é esta: um bar decorado com motivos referentes aos cinco meses de Santana Lopes como primeiro- -ministro. E é com alegria que assumimos não ter um exemplo à altura do descalabro americano.
3. O regresso da casa dos espelhos
Grande, exuberante e ligeiramente assustadora, como a House of Mirrors de Sydney.

©Anna Kucera
É diversão para toda a família — menos para as famílias de vampiros, porque não têm reflexo. Mas o resto dos seres que habita este planeta pode-se divertir à grande a olhar para a imagem distorcida de si próprio. E não, não estamos a falar das projecções mentais que fazemos do nosso aspecto e capacidades intelectuais, para sempre desajustados da realidade. Estamos a falar de espelhos anamorfizantes, como os que houve em tempos na Feira Popular e no Jardim Zoológico. Um bom exemplo a seguir é o da House of Mirrors de Sydney, na Austrália. Uma instalação artística que leva os visitantes a perderem-se por entre um labirinto de vidro espelhado e ilusões ópticas. Esta diversão é particularmente interessante à noite e, sugere a Time Out australiana, “depois de uns quantos cocktails”. Para evitar sete anos de azar, a receita é simples: não partir um espelho ou, melhor ainda, não ser supersticioso. Caro curador de diversões da futura Feira Popular. Se nos está a ler, por favor traga de volta este divertimento. É simples e barato. Basta comprar uns espelhos usados e, vamos lá ver, todos os espelhos são usados. E sim, claro que pode usar este argumento para negociar os preços. Nós deixamos.
4. Placas evocativas como estas
O sistema “blue plaques” de Londres é perfeito para bisbilhotice histórica.

Desde 1866 que os londrinos homenageiam as pessoas notáveis que por lá pernoitaram com estas lindíssimas placas azuis. O sistema de tributos é gerido pela English Heritage, associação responsável pelas mais de placas da capital inglesa. Estas discretas rodelas de história assinalam a passagem de estrelas pop, como John Lennon ou Jimmy Hendrix, pintores como Van Gogh ou activistas como Gandhi; e gente improvável como Harry Beck, o homem que desenhou o diagrama do Metro de Londres, ou Luke Howard, o meteorologista inglês que deu nome às nuvens. Quer saber o que é preciso para ter uma placa com o seu nome? Em primeiro lugar, tem de estar morto há mais de anos. Essa é a parte fácil. Depois é esperar que o edifício por onde passou tenha uma relação forte com a sua vida ou carreira. Não pode ser o sítio onde foi dormir uma sesta, mas pode ser o sítio onde fundou a Confraria das Sestas, por exemplo. Finalmente, alguém tem de propor o seu nome à English Heritage, que todos os anos junta um painel de peritos e analisa os casos. Se a proposta passar – e o processo chega a demorar três anos – terá uma placa feita à mão com o seu nome na parede de uma casa londrina.
+ Também queremos: tudo o que invejámos de outras cidades em Outubro