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1. Péssimas visitas guiadas
Mas no bom sentido. Como as Worst Tours, no Porto, que levam turistas pelos bairros onde nenhum turista se lembraria de ir.
Os guias não são bem guias, os percursos são decididos em cima da hora e os monumentos obrigatórios da cidade são completamente ignorados. E no entanto, as Worst Tours do Porto são essenciais para quem quer conhecer uma faceta da cidade ignorada pelas passeatas tradicionais. Ou seja, para quem quer conhecer a cidade a sério e não a versão efabulada dos postais. As Worst Tours são uma ideia de três arquitectos, Pedro, Gui e Isabel, que se apresentam como desorganizados, sem sentido de orientação e com um humor ácido. E todos apaixonados pela cidade. São eles quem leva turistas por becos e vielas, pátios e tascas. Recantos de tripeirice genuína, a salvo do bicho da gentrificação. Para marcar uma visita basta preencher um formulário no site e iniciar uma troca de mensagens com os “péssimos” guias. Depois é marcar encontro (normalmente na Praça do Marquês) e seguir viagem. A Worst Tours prefere grupos pequenos e não cobra qualquer preço pela viagem. No entanto, os turistas não devem ser tão “péssimos” como os passeios em si e são encorajados a deixar gorjeta.
2. Beber uns copos com o Donald
Ou melhor, um bar decorado como a sala de Donald Trump. Estão a ver o Trumps? Não tem nada a ver.
Devem ser poucas as pessoas no planeta que querem tomar um copo com o Homem Mais Poderoso do Mundo – que por esta altura será também O Homem Mais Satirizado do Mundo e O Homem Mais Alaranjado do Mundo. Mas se há gente a pagar para apanhar sustos em casas de terror ou a tirar cursos de pára-quedismo, por que é que um humano saudável não pode sentir a adrenalina de visitar uma réplica dos escritórios de Donald Trump? Em Dalston, no Este de Londres, abriu em Outubro o Twumps, um bar pop-up que serve cocktails e, é claro, comida vinda do lado de lá do muro: mexicana. Existe na sala uma réplica da secretária do presidente e uma pequena biblioteca onde se podem ver livros como “O Alcorão para Totós” ou uma volumosa biografia de Hitler. A brincadeira é temporária – o bar desaparece no final desta semana – e uma parte do dinheiro feito com os comes e bebes vai para associações dedicadas à defesa dos direitos humanos e várias causas de justiça social. Por cá, a nossa sugestão é esta: um bar decorado com motivos referentes aos cinco meses de Santana Lopes como primeiro- -ministro. E é com alegria que assumimos não ter um exemplo à altura do descalabro americano.
3. O regresso da casa dos espelhos
Grande, exuberante e ligeiramente assustadora, como a House of Mirrors de Sydney.
É diversão para toda a família — menos para as famílias de vampiros, porque não têm reflexo. Mas o resto dos seres que habita este planeta pode-se divertir à grande a olhar para a imagem distorcida de si próprio. E não, não estamos a falar das projecções mentais que fazemos do nosso aspecto e capacidades intelectuais, para sempre desajustados da realidade. Estamos a falar de espelhos anamorfizantes, como os que houve em tempos na Feira Popular e no Jardim Zoológico. Um bom exemplo a seguir é o da House of Mirrors de Sydney, na Austrália. Uma instalação artística que leva os visitantes a perderem-se por entre um labirinto de vidro espelhado e ilusões ópticas. Esta diversão é particularmente interessante à noite e, sugere a Time Out australiana, “depois de uns quantos cocktails”. Para evitar sete anos de azar, a receita é simples: não partir um espelho ou, melhor ainda, não ser supersticioso. Caro curador de diversões da futura Feira Popular. Se nos está a ler, por favor traga de volta este divertimento. É simples e barato. Basta comprar uns espelhos usados e, vamos lá ver, todos os espelhos são usados. E sim, claro que pode usar este argumento para negociar os preços. Nós deixamos.
4. Placas evocativas como estas
O sistema “blue plaques” de Londres é perfeito para bisbilhotice histórica.
Desde 1866 que os londrinos homenageiam as pessoas notáveis que por lá pernoitaram com estas lindíssimas placas azuis. O sistema de tributos é gerido pela English Heritage, associação responsável pelas mais de placas da capital inglesa. Estas discretas rodelas de história assinalam a passagem de estrelas pop, como John Lennon ou Jimmy Hendrix, pintores como Van Gogh ou activistas como Gandhi; e gente improvável como Harry Beck, o homem que desenhou o diagrama do Metro de Londres, ou Luke Howard, o meteorologista inglês que deu nome às nuvens. Quer saber o que é preciso para ter uma placa com o seu nome? Em primeiro lugar, tem de estar morto há mais de anos. Essa é a parte fácil. Depois é esperar que o edifício por onde passou tenha uma relação forte com a sua vida ou carreira. Não pode ser o sítio onde foi dormir uma sesta, mas pode ser o sítio onde fundou a Confraria das Sestas, por exemplo. Finalmente, alguém tem de propor o seu nome à English Heritage, que todos os anos junta um painel de peritos e analisa os casos. Se a proposta passar – e o processo chega a demorar três anos – terá uma placa feita à mão com o seu nome na parede de uma casa londrina.
+ Também queremos: tudo o que invejámos de outras cidades em Outubro