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A célebre obra de Antoine Saint-Exupéry foi publicada em 1943, durante a guerra, quando o aviador francês, que também escrevia e ilustrava, estava exilado nos Estados Unidos. Descoberta por sucessivas gerações de leitores, tornou-se numa das histórias mais traduzidas e lidas de sempre. Agora, é possível redescobri-la no Teatro Maria Matos, numa adaptação para palco promovida pela Universal Music Portugal. Com encenação de João Duarte, O Principezinho é baseado na versão espanhola de Àngel Llácer, Manu Guix e La Perla 29, encenada pela primeira vez em 2014. Em Portugal, o espectáculo estreou-se em 2018, no Teatro da Trindade – na altura, a direcção era de Pedro Penim, mas o elenco original mantém-se, com Paulo Vintém a interpretar o piloto perdido no deserto e Joana Brito Silva a dar corpo e voz ao rapazinho de cabelos dourados, que só quer aprender a amar a sua rosa.
“A ideia [depois de estrear em Portugal] era ser um espectáculo recorrente, [para ser representado] todos os anos, na altura do Natal, que é como fazem lá em Barcelona, em Dezembro e Janeiro. Entretanto, com a pandemia pelo meio, só retomámos agora”, diz-nos João Duarte Costa, no final de um ensaio. “Há um modelo para respeitar, mas foi bom [assumir a direcção]. Eu já conhecia grande parte do elenco e foi muito giro vê-los regressar a este texto e ouvi-los falar do quão diferente era fazer isto há quatro anos e o que é que, passado tanto tempo, isto lhes diz”, revela o encenador, que convida as famílias a marcar encontro no teatro até 29 de Maio. Com som surround e projecção em videomapping, inclusive de personagens com as quais os actores também interagem, esta produção musical promete transportar a plateia para as distintas paisagens de O Principezinho, o que inclui o famoso asteróide B612.
Em palco, Paulo Vintém apresenta-se como o narrador e conta-nos como, aos seis anos, fez o desenho de uma jibóia que havia engolido um elefante, sendo depois confrontado com a falta de imaginação dos crescidos. Para sua tristeza, os adultos viam apenas um chapéu e sugeriam que, talvez, ele devesse arranjar um passatempo mais maduro. Foi o que fez: trocou as suas aspirações de pintor por uma carreira de aviador. Infelizmente, num dos seus voos, ficou preso no deserto do Saara, onde conheceu um rapazinho peculiar, que lhe ensinou o que é verdadeiramente sério no mundo. “Há uma frase do aviador, que tem sido muito importante para mim, que diz que a tristeza é como os embondeiros. Temos de ter cuidado com ela, porque senão cresce e, quando for uma árvore gigante, será impossível ou muito difícil deitá-la abaixo”, partilha Joana Brito Silva, que interpreta o pequeno príncipe. Do poder da criatividade à importância de sermos responsáveis por aquilo que cativamos, são muitas as lições presentes na narrativa, nesta produção enriquecida através de canções fáceis de decorar e já disponíveis no Spotify.
“Esta obra tem muitas camadas de interpretação. Entendemos coisas diferentes consoante a idade que temos, e vamos descobrindo cada vez mais à medida que relemos. Por isso, o importante para mim era contar uma história que os miúdos fossem capazes de perceber e gostassem, mas que os adultos também achassem interessante”, conta Àngel Llácer, co-autor da versão original em espanhol. “O êxito deste espectáculo deve-se precisamente ao facto de também apelar aos adultos. Afinal, quem leva os miúdos ao teatro são os seus pais. E, para um pai, é muito bonito partilhar uma história de que gosta com o seu filho. No fundo, não é uma história para crianças; é para gerações”, remata, evocando a memória de uma senhora que, um dia, lhe disse que via o musical todos anos, porque a família continuava a crescer. “[Sabemos que] O Principezinho não existe, está dentro de nós, e o aviador tem uma crise e supera-a ao usar a imaginação para se conectar com a sua criança interior. Essa mensagem é muito forte.”
Teatro Maria Matos, Av. Frei Miguel Contreiras 52. Até 29 de Maio. Sáb 11.00 e 16.00 e Dom 11.00. 16€-20€.