[title]
Nasceu D. Amelia, fez-se São Luiz. Num exercício de memória e projecção, o teatro da António Maria Cardoso celebra 125 anos com uma programação vasta e transversal, que contempla teatro, dança, conversas, um livro e muita música, incluindo a estreia do novo Festival de Jazz de Lisboa.
A 22 de Maio, o dia em que se completam 125 anos desde a inauguração do então chamado Theatro D. Amelia, subirá a palco a opereta que o estreou, A Filha do Tambor-Mor, de Jacques Offenbach. Mas as comemorações no rebaptizado São Luiz – Teatro Municipal começam já este fim-de-semana e prolongam-se até ao próximo ano, com programação para duas temporadas, anunciada esta sexta-feira.
A festa de aniversário arranca com uma nova versão revista e aumentada do Espetáculo Guiado, de André Murraças, que sobe a palco a 9 e 10 de Março e a 13 e 14 de Abril. A peça, que se estreou o ano passado durante Os Dias do Público, é uma visita pelo teatro adentro, com um intérprete a “fazer luz” sobre os fantasmas que o habitam e quem, no exercício do seu trabalho, com eles convive.
Conta-se como em 1892 se constituiu uma sociedade a sonhar com a edificação de um teatro, na antiga Rua do Tesouro Velho (que passou a Rua António Maria Cardoso em 1907). A presidir estaria o Visconde de São Luiz de Braga, que em 1894 assiste à inauguração do Theatro D. Amelia, no oitavo aniversário de casamento da rainha com D. Carlos I. Dois anos depois, o teatro torna-se no segundo espaço em Portugal (o primeiro foi o Real Coliseu) a apresentar o cinema ao público português.
Em 1910, foi renomeado Teatro República e, quatro anos depois, consumido num incêndio, que destruiu praticamente todo o edifício, mas também parte da sanidade do visconde. Aquando da sua morte, em 1918, o teatro passa a chamar-se São Luiz em sua homenagem. Como Francisco Goulão realça, na peça Espetáculo Guiado, “o teatro é como uma pessoa, feito de várias coisas, sobretudo de memórias”.
“Este é um espectáculo particularmente querido para nós e conta uma boa parte da história desta sala onde estamos", explicou a directora artística do Teatro São Luiz, Aida Tavares, em conferência de imprensa. “A mim não me deixa de emocionar sempre que revisito estas memórias, porque me dão um sentido de missão, associado a uma enorme responsabilidade.”
Para que o passado não se dilua e o futuro não se dissipe, recordou ainda momentos marcantes da história de um dos pólos culturais mais antigos da cidade, como a primeira vez em que a actriz Eleonora Duse se apresenta em Portugal, em 1898, com A Dama das Camélias. A peça será agora revisitada, com encenação de Miguel Loureiro e estreia marcada para 6 de Setembro.
Programação do teatro ao desporto
Até ao final deste ano, contam-se nove peças de teatro, duas óperas, um espectáculo de dança, um documentário, uma visita-espectáculo, uma estreia de cinema e música e a segunda edição do programa Estar em Casa, com clubes de leitura, ateliers de pintura e até treinos com atletas profissionais.
Destaca-se também, por exemplo, Era uma vez um país assim: contar bem contadas a ditadura e a revolução, uma produção para os mais novos do Teatro do Vestido, com estreia a 1 de Abril; a reposição em Novembro da ópera A Voz Humana, em que a música de Francis Poulenc e a prosa de Jean Cocteau criam uma alternância entre o coloquial e o poético; as muitas actividades gratuitas que vão abrir as portas do teatro à cidade e o novo Festival de Jazz de Lisboa.
Em co-produção com o Hot Clube de Portugal, o Teatro São Luiz abre as portas, de 27 a 31 de Março, a cinco dias de concertos com músicos portugueses e estrangeiros, como João Barradas, Filipe Raposo, John Hollenbeck e Mark Turner.
“Estou muito contente [com a programação]”, disse a vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, Catarina Vaz Pinto. “Queria salientar o facto de a programação revelar muitíssimo bem o quão importante é o São Luiz como o teatro da cidade, que é feito para os lisboetas e para todos aqueles que vivem e visitam Lisboa, [e a reflexão sobre] como é que cada um de nós é responsável pelo que é o nosso passado e o nosso futuro.”
Com edição da jornalista Vanessa Rato, está ainda marcada a apresentação e lançamento do livro São Luiz 125 anos, a 6 de Setembro. Esse “manifesto” para o futuro do teatro compõe-se do olhar caleidoscópico de um variado naipe de autores, que reflectem sobre a narrativa feita de rasuras e recomeços das muitas artes de que se faz o São Luiz.
+ Dias da Música regressam a Belém e dedicam festival a Shakespeare