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Território. “Não é admissível um jovem bailarino pagar para dançar”

A quinta edição do Território volta a juntar dois coreógrafos internacionais, Marcos Morau e Dorotea Saykaly, a 12 jovens de escolas de dança de todo o país.

Raquel Dias da Silva
Jornalista, Time Out Lisboa
Território V, nos Estúdios Victor Cordon
Fotografia: Mariana Valle LimaTerritório V, nos Estúdios Victor Cordon
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Afonso Nunes, Alef Carvalho, António Faustino, Diogo Santana, Filipa Bacelar, Francisca Santos, Isabel Marques de Aguiar, Joana Gonçalves, Margarida Colaço, Maria Sousa, Rita Salazar e Sofia Santos. Têm entre 15 e 18 anos, vêm de diferentes escolas de dança de todo o país e foram os escolhidos deste ano para o programa Território, que traz a Portugal os coreógrafos Marcos Morau e Dorotea Saykaly. “É uma plataforma de início de carreira, que proporciona o contacto com a vida profissional, no verdadeiro sentido do termo: dançar coreógrafos à escala universal, estar o mais perto possível do processo de criação e sair do universo das escolas, que muitas vezes são ilhas”, diz o também coreógrafo e coordenador dos Estúdios Victor Cordon, Rui Lopes Graça, que nos convida a ver os dois espectáculos que fecham a 5.ª edição da iniciativa. A estreia está marcada para esta sexta-feira, 22 de Julho, no Teatro Nacional São João, onde estará em cena até dia 23, antes de seguir para Lisboa, para apresentações no Festival ao Largo, nos dias 26 e 27 de Julho.

A ambição de Rui Lopes Graça para os Estúdios Victor Cordon sempre foi, por um lado, apoiar a comunidade artística independente e, por outro, dar experiência e palco a novos talentos. O Território é apenas uma das muitas maneiras que tem encontrado para o fazer. “A primeira motivação para criar o programa [lançado em 2017] foi ter-me apercebido que o ensino tinha mudado muito nos últimos anos, o que de repente revelou bailarinos por todo o país que, até então, não se encontravam. Mas, regra geral, esses jovens só têm oportunidade de mostrar o seu trabalho através de concursos, que lhes permitem ganhar bolsas de estudo e ingressar em escolas na Europa, nos EUA e por aí fora. Acontece, porém, que os concursos não representam a vida real. Se é verdade que há formatos muito interessantes a nível internacional, outros há que subvertem completamente o que é a dança. Não é admissível um jovem bailarino pagar uma inscrição para dançar. Se o objectivo é de facto apoiar, então o acesso tem de ser gratuito, ainda que sujeito a audição.” E é precisamente isso que tem assegurado nos últimos cinco anos.

As candidaturas para esta edição foram submetidas por várias escolas de dança durante o mês de Janeiro. As audições – depois de uma pré-selecção que reduziu uma leva de 70 a apenas 40 – aconteceram em Fevereiro. Escolhidos os 12 bailarinos, que são acompanhados pelos Estúdios durante o intenso mês de trabalho que os espera, deu-se início ao Território a 27 de Junho. Desde então e até 21 de Julho, não só frequentam aulas de dança, das 10.00 às 11.15, como têm ensaios alternados com os dois coreógrafos convidados, a partir das 14.00, de segunda-feira a sábado. “Tem sido muito desafiante, porque [na escola] tenho ensino articulado e aqui não, é o dia inteiro a dançar, sete horas a dar o máximo”, partilha Francisca Santos, 17 anos. É a primeira aluna da Escola Artística do Conservatório de Música de Coimbra a entrar no programa. “Eu já tinha feito audição no ano passado, mas não entrei. Agora, estava menos nervosa e mais motivada. Tem-me dado muito gozo perceber como será o dia-a-dia numa companhia profissional.”

Território V, nos Estúdios Victor Cordon
Fotografia: Mariana Valle LimaTerritório V, nos Estúdios Victor Cordon

Além da experiência profissionalizante, espera-se uma outra, tão ou mais importante: “Há mínimos olímpicos, mas nenhum é melhor ou pior por andar nesta ou naquela escola. São todos bailarinos, todos seres humanos. Perceberem isso e vencerem o preconceito daquilo que às vezes ouvem, só se consegue cara a cara. É aproximando pessoas de proveniências diferentes que se chega à conclusão que o outro é o mesmo que nós”, afirma Rui Lopes Graça. “É também por isso que trago coreógrafos de fora, para que se criem relações com o resto do mundo.” Formado entre Valência, Barcelona e Nova Iorque, Marcos Morau é um coreógrafo de referência mundial e apresenta o seu trabalho através da companhia que fundou e dirige, a La Veronal. Emergente, Dorotea Saykaly tem um currículo menos preenchido, mas nem por isso menos impressionante: tem recebido inúmeros prémios, entre os quais o prémio Emily Molnar (actual directora artística do Nederlands Dans Theater) na sua primeira edição, em 2021.

“Nunca tinha trabalhado com esta faixa etária, a mais nova fez 15 anos há uma semana. Eu era uma confusão com essa idade”, confessa a coreógrafa canadiana, por entre risos. “A princípio estava preocupada, porque peço sempre aos bailarinos para criarem material e não sabia se seriam capazes. Mas eles são mesmo profissionais, é impressionante. O ensino actual é incrível e deve ser mesmo forte em Portugal, porque estes miúdos são fantásticos.” Jon López, o assistente coreográfico do catalão Marcos Morau, concorda. “É muito bonito ver como evoluem e se transformam em tão pouco tempo. São muito mais maduros, vêm muito bem preparados e estão muito mais dispostos a mudar [do que as gerações anteriores].” Se há dúvidas, vamos tirá-las em palco. A programação inclui duas obras: Sunken, de Dorotea, que evoca a suavidade e a violência do mar; e Valse, de Marcos, que nos remete para a história da valsa a partir de um lugar mais abstracto. A intercalar as peças, inclui-se ainda uma curta-metragem. Dentro, de Sara Bernardo e Pedro Emes Nogueira, venceu o Prémio Território | Estúdios Victor Córdon, na categoria de Melhor Realizador Nacional, na última edição do InShadow Lisbon ScreenDance Festival.

Teatro Nacional de São João (Porto). 22-23 Jul, Sáb 19.00 | Festival ao Largo (Lisboa), 26-27 Jul, Ter-Qua 22.00 | Teatro José Lúcio da Silva (Leiria). 29 Jul, Sex 21.30

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