Notícias

‘The Bikeriders’, de clube de amigos a gangue de criminosos

Jeff Nichols apoiou-se num livro de fotografias publicado em 1968 para rodar um filme sobre um grupo de motociclistas americanos da década de 60.

Escrito por
Eurico de Barros
The Bikeriders
DR
Publicidade

Desde que Marlon Brando apareceu em O Selvagem, de Laszlo Benedek (1953) usando um blusão de couro, montado numa potente moto e dizendo com insolência que era um revoltado contra o que quer que lhe propusessem, que o cinema americano nunca mais deixou de fazer biker movies. Ou seja, filmes sobre gangues de motociclistas, que rapidamente passaram a fazer parte da sua iconografia e a formar um subgénero, saíssem dos grandes estúdios ou fossem rodados por realizadores independentes como Roger Corman. E já foram feitos tantos biker movies que em 2009 apareceu um documentário intitulado Johnny Legend Presents Biker Mania!, que conta a história deste subgénero através dos trailers e de excertos das fitas que o compõem, de O Selvagem até ao século XXI.

Até a televisão já se apropriou deste formato, como se viu recentemente pela série Sons of Anarchy (2008-2014), sobre um grupo de bikers fora-da-lei da Califórnia com o mesmo nome. O mais recente realizador a interessar-se pelos chamados “clubes de motociclistas” é Jeff Nichols (Histórias de Caçadeiras, Procurem Abrigo, Fuga), com The Bikeriders. Há mais de 20 anos, desde que descobriu o livro de fotografias homónimo publicado por Danny Lyon em 1968, que Nichols acalentava este projecto. Entre 1963 e 1967, Lyon, um fotógrafo e cineasta, seguiu de muito perto os membros do The Vandals Motorcycle Club de Chicago, documentando esses anos fotograficamente e por entrevistas, que dariam origem à obra referida. 

Tendo começado por querer “glorificar o estilo de vida do bikerider americano”, Danny Lyon acabaria por se desiludir com o Vandals Motorcycle Club quando começaram a aparecer bandeiras nazis nos piqueniques que este organizava, e compreendeu que era errado romantizar os bikers que no início tanto o tinham impressionado. São realidades que não interessaram a Jeff Nichols no seu filme, que apesar de ter um aspecto documental conta uma história ficcional cujos protagonistas são os membros do Vandals, um clube de motociclistas fundado em McCook, no Illinois, por Johnny (Tom Hardy), um pai de família e biker local, depois de ter visto O Selvagem na televisão e ficado profundamente impressionado.

The Bikeriders é narrado por Kathy (Jodie Comer), a mulher de Benny (Austin Butler), um dos mais lacónicos e carismáticos membros dos Vandals. A história passa-se ao longo dos anos 60, acompanhando a ascensão e a degradação deste grupo, desde o tempo em que era como uma “família” paralela às dos seus membros e se apresentava com um clube de homens da classe trabalhadora (praticamente todos tinham empregos, e muitos mulher e filhos) com uma paixão comum pelas motos, e que ocasionalmente podiam ter comportamentos violentos e pisar o lado errado da lei.

Nichols mostra como o clube transita de um grupo restrito de amigos e bikers que se conhecem todos para uma organização com membros a mais e cujo presidente já não consegue controlar, nem conhecer todas as caras. A partir de finais dos anos 60, a entrada para os Vandals de muitos veteranos do Vietname, vários deles viciados em drogas duras, bem como de delinquentes, e a morte ou a saída de grande parte dos seus membros fundadores, dita a transformação daquilo que foi um clube de bikers num gangue criminoso sobre duas rodas, e o fim da sua “inocência” original. Rodado no Ohio em 2022, The Bikeriders conta também no elenco com Michael Shannon (no seu quinto filme com Jeff Nichols), Norman Reedus e Mike Faist no papel de Danny Lyon. E de certeza que as motos não vão parar de rodar no cinema.

Siga o novo canal da Time Out Lisboa no Whatsapp

+ Quem é Paul Leduc? Doclisboa e Cinemateca dedicam-lhe retrospectiva

Últimas notícias

    Publicidade