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A adaptação do livro The Handmaid’s Tale, de Margaret Atwood, é uma série especulativa onde misoginia e fanatismo religioso se cruzam. Estreia-se segunda-feira no NOS Play.
Em 1985 Margaret Atwood escreveu um pesadelo. Olhou para a sociedade capitalista e patriarcal em que vivemos, adicionou-lhe (ainda mais) fervor religioso, extrapolou as consequências da exploração e objectificação dos corpos femininos, e teceu uma ficção especulativa e aterradora. Chamar-lhe distopia é um eufemismo.
Na história, os Estados Unidos deram lugar a Gilead, uma nação fundamentalista cristã e misógina, onde as mulheres são rebaixadas e, entre outras coisas, proibidas de ler. Se são férteis, a situação piora: são reduzidas a mercadorias e sistematicamente violadas pelos seus donos, para assegurarem a descendência da elite. A protagonista, Elisabeth Moss, é uma dessas servas.
Poucas séries reflectem o zeitgeist e o mal-estar dos sectores mais progressistas dos Estados Unidos na era Trump como The Handmaid’s Tale. A realidade ainda está longe da ficção, mas já o esteve mais. Afinal, o actual presidente americano gaba-se de “agarrar [mulheres] pela rata” e o Partido Republicano esteve disposto a apoiar um alegado pedófilo – e alegado bom cristão – para tentar não perder um assento no Senado. Chega tarde para figurar na nossa lista das melhores séries do ano, mas de certa forma é a série do ano.