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Jamie Hince e Alison Mosshart juntaram-se em 2001 e lançaram o primeiro EP, Black Rooster, passado um ano. Desde então,ele e ela têm estado quase sempre juntos, em estúdio ou na estrada. Até que a pandemia os obrigou a parar e a isolarem-se. Foi, em parte, esta paragem forçada que inspirou God Games, o sexto registo de longa duração, que The Kills vão apresentar na sexta-feira, 30 de Agosto, no MEO Kalorama. Encontrámo-nos no terraço da Galeria Zé dos Bois, para falar do álbum e do que se passou nos sete anos que separaram o mais recente disco do anterior Ash & Ice.
Passaram-se sete anos entre a edição do vosso quinto álbum, Ash & Ice, em 2016, e o sexto, God Games, no ano passado. Porquê tanto tempo?
Jamie Hince: Passamos muito tempo em tournée, é a nossa vida. Depois do Ash & Ice estivemos um ano e meio a apresentá-lo. A seguir lançámos o single “List of Demands [Reparations]” e fomos outra vez para a estrada. Mais um ano e meio. Quando a digressão acabou, em Novembro de 2019, estava tudo a correr de acordo com os nossos planos. Mas depois a pandemia roubou dois anos das nossas vidas. Das vidas de toda a gente.
Nesses dois anos que estiveram sem tocar, lançaram uma colectânea de lados-B e raridades gravadas no início do século, intitulada Little Bastards. Porque decidiram revisitar esse período?
JH: Porque a pandemia nos forçou a fazê-lo. Percebemos que íamos passar muito tempo fechados em casa, não sabíamos quando íamos poder voltar a tocar. Ou se íamos poder voltar a tocar. Se as coisas alguma vez iam voltar a ser como eram. E o Lawrence Bell, o patrão da editora [Domino], lembrou-se que havia muitas canções que as pessoas não tinham maneira de ouvir e talvez valesse a pena compilá-las. Até para as pessoas não se esquecerem de nós, entre os discos e sem concertos marcados.
Faz sentido.
JH: Eu confesso que, inicialmente, não apreciei a ideia.
Porque não?
JH: Porque estava a compor canções novas, muito entusiasmado com aquilo que estava a fazer. Além disso, não sou uma pessoa muito dada a análises retrospectivas. Não gosto de alimentar a nostalgia. Acabei por fazê-lo, mas não é algo que me agrade.
Alison Mosshart: Não gostamos de estar constantemente a revisitar o passado.
Disseste que estavas a fazer canções novas quando o Lawrence Bell sugeriu lançar uma compilação. Quando começaram a gravar o God Games?
JH: Tínhamos feito algumas maquetes ainda em 2019.
AM: Mas só fomos mesmo para o estúdio no Verão de 2022.
JH: Começámos entre Junho e Julho. Depois voltámos em Setembro e Outubro para acabar algumas coisas e canções que ainda não estavam exactamente como queríamos.
A Alison tocou teclados no novo disco. Normalmente era o Jamie que fazia isso. Porque decidiram mudar agora?
AM: Quis tentar escrever canções de outra maneira, porque compunha sempre na guitarra. E gostei muito da experiência. Sinto que alarguei os meus horizontes rítmicos e melódicos, e isso ouve-se no disco. É diferente dos anteriores.
A capa também não tem nada a ver com as anteriores.
JH: Quando mudei de casa, ofereceram-me uma pintura de um touro e de um toureiro. Durante mais de dois anos, olhei para ela todos os dias. Foi o ponto de partida para muitas canções deste disco. Para mim, é uma metáfora bizarra da condição humana. Somos cruéis, mas disfarçamos essa crueldade de tradição ou desporto, com pompa e circunstância.
Quem é o pintor?
JH: Essa é a parte mais estranha.
AM: Ninguém sabe.
JH: A nossa editora não nos deixou usar mesmo o quadro que eu tenho em casa. Porque, como não sabíamos quem era o artista, nem a quem pedir autorização para usar a pintura na capa, podíamos ser processados. Então a Allison lembrou-se de pedirmos a um artista comercial para recriar a pintura da minha sala. E adorei a ideia de termos de pedir alguém para copiar o original para evitar um processo judicial. É mais uma camada de simbolismo.
O título God Games está de alguma forma relacionado com a capa, com as touradas?
JH: Menciono um toureiro, num dos versos da faixa-título.
Eu sei.
JH: Há essa relação. Mas o que queria mesmo era descrever uma situação de impotência. Porque [durante a pandemia] parecia que alguém estava a brincar com as nossas vidas e não havia nada que pudéssemos fazer. E lembrei-me dessa expressão: “god games” [“jogos divinos”]. Depois fui perceber de onde vinha o termo e descobri que era um subgénero de videojogos.
Jogos como o Populous.
JH: Ou The Sims. E isso interessou-me. A ideia de ser um deus num metaverso. Naquela altura, tão isolado, a escrever só para mim, senti que o próprio acto de criação artística era um jogo divino.
MEO Kalorama. Parque da Bela Vista (Lisboa). 30 Ago (Sex)
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