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The Kills: “Não gostamos de estar constantemente a revisitar o passado”

The Kills lançaram finalmente ‘God Games’ em 2023, depois de sete anos sem um novo álbum de originais. Falámos antes do concerto da dupla no MEO Kalorama.

Luís Filipe Rodrigues
Editor
The Kills
Myles HendrikThe Kills
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Jamie Hince e Alison Mosshart juntaram-se em 2001 e lançaram o primeiro EP, Black Rooster, passado um ano. Desde então,ele e ela têm estado quase sempre juntos, em estúdio ou na estrada. Até que a pandemia os obrigou a parar e a isolarem-se. Foi, em parte, esta paragem forçada que inspirou God Games, o sexto registo de longa duração, que The Kills vão apresentar na sexta-feira, 30 de Agosto, no MEO Kalorama. Encontrámo-nos no terraço da Galeria Zé dos Bois, para falar do álbum e do que se passou nos sete anos que separaram o mais recente disco do anterior Ash & Ice.

Passaram-se sete anos entre a edição do vosso quinto álbum, Ash & Ice, em 2016, e o sexto, God Games, no ano passado. Porquê tanto tempo?
Jamie Hince: Passamos muito tempo em tournée, é a nossa vida. Depois do Ash & Ice estivemos um ano e meio a apresentá-lo. A seguir lançámos o single “List of Demands [Reparations]” e fomos outra vez para a estrada. Mais um ano e meio. Quando a digressão acabou, em Novembro de 2019, estava tudo a correr de acordo com os nossos planos. Mas depois a pandemia roubou dois anos das nossas vidas. Das vidas de toda a gente.

Nesses dois anos que estiveram sem tocar, lançaram uma colectânea de lados-B e raridades gravadas no início do século, intitulada Little Bastards. Porque decidiram revisitar esse período?
JH: Porque a pandemia nos forçou a fazê-lo. Percebemos que íamos passar muito tempo fechados em casa, não sabíamos quando íamos poder voltar a tocar. Ou se íamos poder voltar a tocar. Se as coisas alguma vez iam voltar a ser como eram. E o Lawrence Bell, o patrão da editora [Domino], lembrou-se que havia muitas canções que as pessoas não tinham maneira de ouvir e talvez valesse a pena compilá-las. Até para as pessoas não se esquecerem de nós, entre os discos e sem concertos marcados.

Faz sentido.
JH: Eu confesso que, inicialmente, não apreciei a ideia.

Porque não?
JH: Porque estava a compor canções novas, muito entusiasmado com aquilo que estava a fazer. Além disso, não sou uma pessoa muito dada a análises retrospectivas. Não gosto de alimentar a nostalgia. Acabei por fazê-lo, mas não é algo que me agrade.
Alison Mosshart: Não gostamos de estar constantemente a revisitar o passado.

Disseste que estavas a fazer canções novas quando o Lawrence Bell sugeriu lançar uma compilação. Quando começaram a gravar o God Games?
JH: Tínhamos feito algumas maquetes ainda em 2019.
AM: Mas só fomos mesmo para o estúdio no Verão de 2022.
JH: Começámos entre Junho e Julho. Depois voltámos em Setembro e Outubro para acabar algumas coisas e canções que ainda não estavam exactamente como queríamos.

A Alison tocou teclados no novo disco. Normalmente era o Jamie que fazia isso. Porque decidiram mudar agora?
AM: Quis tentar escrever canções de outra maneira, porque compunha sempre na guitarra. E gostei muito da experiência. Sinto que alarguei os meus horizontes rítmicos e melódicos, e isso ouve-se no disco. É diferente dos anteriores. 

A capa também não tem nada a ver com as anteriores.
JH: Quando mudei de casa, ofereceram-me uma pintura de um touro e de um toureiro. Durante mais de dois anos, olhei para ela todos os dias. Foi o ponto de partida para muitas canções deste disco. Para mim, é uma metáfora bizarra da condição humana. Somos cruéis, mas disfarçamos essa crueldade de tradição ou desporto, com pompa e circunstância.

Quem é o pintor?
JH: Essa é a parte mais estranha.
AM: Ninguém sabe.
JH: A nossa editora não nos deixou usar mesmo o quadro que eu tenho em casa. Porque, como não sabíamos quem era o artista, nem a quem pedir autorização para usar a pintura na capa, podíamos ser processados. Então a Allison lembrou-se de pedirmos a um artista comercial para recriar a pintura da minha sala. E adorei a ideia de termos de pedir alguém para copiar o original para evitar um processo judicial. É mais uma camada de simbolismo.

O título God Games está de alguma forma relacionado com a capa, com as touradas?
JH: Menciono um toureiro, num dos versos da faixa-título.

Eu sei.
JH: Há essa relação. Mas o que queria mesmo era descrever uma situação de impotência. Porque [durante a pandemia] parecia que alguém estava a brincar com as nossas vidas e não havia nada que pudéssemos fazer. E lembrei-me dessa expressão: “god games” [“jogos divinos”]. Depois fui perceber de onde vinha o termo e descobri que era um subgénero de videojogos.

Jogos como o Populous.
JH: Ou The Sims. E isso interessou-me. A ideia de ser um deus num metaverso. Naquela altura, tão isolado, a escrever só para mim, senti que o próprio acto de criação artística era um jogo divino.

MEO Kalorama. Parque da Bela Vista (Lisboa). 30 Ago (Sex)

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