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Nenhum videojogo é tão inclusivo como The Sims 4. Não é de agora: no trailer de apresentação do primeiro título, em 1999, um casal do mesmo sexo beijava-se; sempre foi possível definir a orientação sexual das personagens; e desde o lançamento de The Sims 3, em 2009, que pessoas do mesmo sexo se podem casar no jogo, muito antes disso ser legal na maior parte dos países ocidentais. Porém, nunca um título se esforçou por representar tantas pessoas e identidades como o mais recente da franquia, lançado originalmente em 2014 e desde então aprimorado e ampliado frequentemente através de expansões como a mais recente My Wedding Story, cujo trailer acompanha um casal lésbico inter-racial.
“A inclusão de relações entre pessoas do mesmo sexo sempre foi importante para nós. Desde o início que nos esforçamos por incluir pessoas com histórias de vida diversas e que normalmente não se encontram representadas na indústria do entretenimento. Ao longo dos anos, esse desejo de permanecer na vanguarda da inclusão de diversas histórias não parou de crescer”, revela o produtor associado John Faciane. Quando o primeiro The Sims saiu, ele ainda estava no ciclo. “Lembro-me de jogá-lo nessa altura e achar que era espantoso poder ter uma relação com uma pessoa do mesmo sexo num jogo de vídeo.”
É também por isso que, para Chloe Carter, uma artista da Electronic Arts que esteve directamente envolvida na produção do trailer de My Wedding Story, a escolha das protagonistas não podia ter sido mais natural. “Estes casais existem, eu conheço-os”, conta. “Só posso falar por mim, mas quis fazer algo que reflectisse as pessoas à minha volta.” Chloe é uma mulher trans e assume que é “natural querer contar histórias LGBTQ+”, mas reconhece que a sua experiência de vida não é representativa das experiências de toda a gente – incluindo outras mulheres trans – e é necessário um esforço contínuo e consistente para representar todos os tipos de pessoas e culturas na franquia.
“É preciso continuar a ouvir a comunidade [de fãs]”, diz a artista. O produtor concorda que é necessário “escutar os fãs e perceber o que podemos fazer para continuarmos a aumentar a representatividade e a diversidade” nos jogos. Igualmente importante, é “ter uma equipa diversa e apoiá-la”, de acordo com Chloe. Mas às vezes isso não é suficiente. “Eu sou membro de uma tribo nativo-americana, por isso gostaria de ver mais conteúdos relacionados com as experiências de vida indígena”, conta John. “Esse é um exemplo de uma área onde podemos melhorar e aumentar a representatividade do jogo.”
E vão melhorar, garante. “Estamos sempre a planear actualizações, incluindo conteúdos gratuitos, de modo a introduzir e representar mais culturas”, afiança o produtor. “Também estamos a trabalhar em maneiras de fornecer uma melhor representatividade de género, adicionando por exemplo pronomes personalizáveis ao jogo.” Ainda não se sabe quando vai ser possível escolher os pronomes com que se identificam as personagens, mas John adianta que estão a trabalhar com parceiros como a organização não governamental It Gets Better para garantirem que não cometem erros e proporcionarem uma melhor “e mais gentil” experiência aos jogadores transgéneros e não-binários.
Adoptar uma linguagem neutra e inclusiva é uma prioridade, mas um desafio, uma vez que The Sims está actualmente traduzido em 18 línguas, incluindo o português. “A nossa equipa de tradução e localização está a tentar perceber como as diferentes línguas e culturas usam os pronomes de género. Alguns países, como a Suécia e a Espanha, têm pronomes oficialmente aceites e prontos para serem usados, mas noutras isso ainda não está bem definido”, reconhece. “É um processo de aprendizagem ainda em curso, também para nós. Mas estamos a trabalhar de perto com as comunidades e com a It Gets Better para encontrar as melhores soluções.”