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The Swimming Pool Party, texto de Ricardo Neves-Neves e encenação de Mónica Garnel, estreia esta quinta-feira na Sala Mário Viegas do São Luiz Teatro Municipal. Estamos numa festa onde a piscina não enche e alguém é assassinado. Cautela.
A piscina teima em não encher. É que, sabem, os anfitriões estiveram no estrangeiro, foi um descuido, a mangueira não presta, mas a piscina continua a encher, ou a tentar encher. É bom que os convidados acreditem. Até porque na última party do ano tudo tem de correr bem, tem de superar o lanche temático dos vizinhos. “Há também aquela coisa da obrigação da diversão, há que conversar, isto é óptimo”, explica Mónica Garnel, encenadora do texto The Swimming Pool Party, escrito por Ricardo Neves-Neves. E explica lindamente. Sabe-se que nesta festa há um homicídio, resta saber se é uma festa, se é um crime. The Swimming Pool Party estreia esta quinta-feira na Sala Mário Viegas do Teatro São Luiz e por lá fica até dia 25.
Este é o regresso de Mónica Garnel à encenação, depois de ter feito Drive-In, na Casa Conveniente, em 2015. “Já não sou emergente nem jovem, mas esta é a minha sétima encenação e tenho feito isto de forma esporádica, parece-me que o São Luiz está a querer dar lugar a gente que aparece menos.”, comenta a actriz/criadora de 43 anos que, quando o convite de Aida Tavares, directora artística do São Luiz surgiu, já tinha uma ideia. “Gosto de policiais e de Agatha Christie, o último livro que li era uma Miss Marple que se chamava Anúncio de um Crime. Tinha uma premissa que era logo nas primeiras páginas havia um anúncio de jornal, para os habitantes locais irem à casa X, onde ia acontecer um homicídio. A população divide-se, há quem ache uma brincadeira de mau gosto e há quem ache que é uma festa. Adorei isto, o que seria fazer um espectáculo em que as pessoas vinham ao teatro, sabendo que ia haver um homicídio, podendo haver a confusão que era uma festa”, enquadra Garnel.
E agora enquadramos nós. Estamos num jardim com uma piscina por encher. E isso também é estar num baile ao ar livre, numa combinação de cumbia, rap, salsa e música clássica, também é estar num espectáculo onde tudo é coreografia, ao detalhe. Isto é, rara é a vez que alguém está aqui sozinho, é o grupo que predomina, quer nas danças puras e duras, nas canções, quer nos diálogos, sempre de frente para a plateia, sempre artificial. “O texto varia muito entre diálogos rápidos e grandes monólogos. Achei que podia ser muito desafiante fazer esse contraste, estamos sempre a funcionar em grupo, é o grupo que tem força, mas de repente, há uma solidão, porque não tem o afecto da contracena. Esse artifício do grupo é interessante”, conta a encenadora.
Esta coisa da festa, da party (sem carregar no T), do bora-lá-curtir, tem tudo menos naturalidade. Parece sempre existir uma cobrança dos convidados – quantos metros de profundidade tem esta piscina? – um mistério qualquer que cheira a crime (que mais lá para a frente se há de resolver e tem tudo a ver com uma narrativa de irmãs separadas à nascença). É tudo, seguramente, grotesco, como confirma Garnel: “Quando pensei na ideia de festa e o ambiente que me apetecia trabalhar, isso levou-me para uma coisa mais feérica. Comecei a pensar nas danças de sala, nas salsas e nos merengues, comecei a pensar no excesso e isso levou-me ao barroco e ao grotesco. Andei a ver muita pintura grotesca e fui a partir daí que comecei a desenhar a encenação.”
E como já tínhamos avisado, a mangueira não presta, a piscina não enche. Veremos se não enche.
São Luiz Teatro Municipal. Qua-Sáb 21.00, Dom 17.30. 5€-12€.