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Tino Navarro estreia-se em ‘Braga’: “Esta série toca em questões extremamente sensíveis”

Este policial em oito episódios envolve personagens de etnia cigana, além de padres, polícias e ladrões. É o primeiro argumento para televisão de Tino Navarro, que espera que este seja apenas o início de uma série de séries. Estreia a 7 de Junho, na RTP1.

Renata Lima Lobo
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Renata Lima Lobo
Jornalista
Maria Gil
©MGN FilmesMaria Gil, em 'Braga'
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Numa longa viagem de avião, Tino Navarro não ficou a olhar pela janela. Aproveitou para começar a desenhar o conceito da série policial que está prestes a estrear na RTP1, a 7 de Junho. Braga narra uma luta entre o bem e o mal em que se envolvem o clero, a polícia, uma comunidade cigana e outros habitantes da Cidade dos Arcebispos. É a história do jovem padre António (Hélder Afonso), que chegado à cidade assume as rédeas de uma paróquia num bairro desfavorecido. Aí, conhece Carlitos (Luís Henrique Matos), um miúdo cigano de 12 anos que lhe confessa algo muito grave. Mas, antes que possam contar tudo às autoridades, acontece uma tragédia.

Braga é o primeiro argumento para televisão de Tino Navarro (A Esperança Está Onde Menos Se Espera, Quarta Divisão), numa série que também se destaca por incluir no elenco actores de etnia cigana, como Maria Gil e António Oliveira Nunes, que interpretam Carmen e Bonifácio, os pais de Carlitos. E pode ser ainda a primeira série do produtor e argumentista passada numa das muitas capitais de distrito do país, uma vontade que Navarro expressou na apresentação que decorreu no Museu do Oriente, no passado dia 19 de Maio.

Hélder Afonso
©MGN FilmesHélder Afonso, em 'Braga'

Não são muitas as séries que rumam ao Norte do país para focar outras geografias. Há, no entanto, um esforço do serviço de televisão pública de apostar em conteúdos que descentralizam o audiovisual, como foi o caso de O Crime do Padre Amaro (Leiria), Capitães do Açúcar (Porto), Irreversível (Figueira da Foz) ou Contado Por Mulheres, um conjunto de telefilmes que tem corrido o país de cima abaixo. Para Tino Navarro, no entanto, o país ainda se encontra mal representado.

“No dia em que a gente queira ver coisas sobre cidades como Braga, Viseu, Vila Real ou Bragança, existe muito pouca coisa. Existem, como é evidente, alguns documentários, mas em termos de ficção existe pouca coisa, porque o país é muito Lisboa, um bocadinho de Porto, e o resto é paisagem, como se costuma dizer”, lamentou o cineasta. Por isso mesmo, quer que esta seja uma de muitas séries passadas em cada uma das capitais de distrito e regiões autónomas portuguesas, o que daria um total de 20 produções. A ideia é ambiciosa. “Vamos ver se conseguimos fazer muitas mais”, diz.

Braga foi integralmente filmada na cidade minhota, interiores incluídos, e socorreu-se de algum talento local para “dar oportunidade a pessoas que normalmente estão bastante longe de Lisboa e da maior parte das coisas que se fazem”, afirmou, revelando também como nasceu este projecto. “Eu tive a ideia de escrever esta história num voo que fiz no início de 2019. Um longo voo de dez horas na América. Não tinha nada para fazer e comecei a inventar coisas na minha cabeça, entre as quais este conceito do qual nasce Braga.

Mas há outro destaque relevante nesta produção: a inclusão de actores de etnia cigana: António Oliveira Nunes, em estreia absoluta, e Maria Gil, conhecida activista e também actriz, que destacou a importância da visibilidade. “Esta série efectivamente toca em questões extremamente sensíveis, em questões que nós, pessoas ciganas, passamos diariamente, apesar dos temas serem bastante variados e alargados”, sublinhando estar grata por “finalmente” se verem “pessoas ciganas, elencos com ciganos a fazerem de ciganos”. Destaque ainda para Salvador Gil, que faz de Valter, filho de Maria Gil na vida real e também nesta história.

Luís Henrique Matos
©MGN FilmesLuís Henrique Matos, em 'Braga'

Nos inspectores da Polícia Judiciária, a série conta com Patrícia André (3 Mulheres) no papel de Maria, uma profissional preocupada com a exclusão social, e com Marco Paiva (Esperança), que interpreta Jorge, um inspector mais nervoso que se identifica como nacionalista. “Estes são temas sensíveis e quem queira pensar neles pode ir um bocadinho mais longe. Nós aqui estamos a dar um mote para quem quiser, quem puder, quem tiver essa consciência, possa entrar na sociedade e entrar nesta discussão. Porque acho que são temas que precisamos discutir, estão na ordem do dia e é importante que o façamos. Para haver pessoas más, só basta que as pessoas boas fiquem caladas. Por isso é bom que falemos”, defende a actriz.

Um dos actores bracarenses que participa nesta série é Rui Madeira (Vento Norte), também director artístico da Companhia de Teatro de Braga, que veste a pele do Monsenhor Abel. E teceu largos elogios ao argumento escrito por Tino Navarro e Tiago Santos, dupla que já trabalhou junta em filmes como Revolta, Parque Mayer, Amor Impossível, Os Gatos Não Têm Vertigens, A Bela e o Paparazzo e Call Girl. Um “conteúdo limpo, seco, eticamente impoluto e moralmente sério que aborda os temas de uma forma clara, sintética, humana”, defende. “Esta série é importante para mim, porque humaniza. E talvez necessitemos de mais humanidade nos conteúdos televisivos. Sou director de uma companhia que está há 40 anos em Braga, quando a cidade tinha 40 mil habitantes. Hoje tem 200 mil e mais de 120 nacionalidades, mas há uma história sobre a diversidade cultural que começou há muitos anos com a comunidade cigana”, lembrou.

tino navarro
©MGN Filmes

A série é realizada por Pedro Ribeiro (editor em Bem Bom, Variações ou Snu) e o elenco conta ainda com as prestações de Carolina Frias (Golpe de Sorte), Beatriz Domingues (Praxxx), Tiago Sarmento (Capitães do Açúcar), Salvador Gil (Um Filme em Forma de Assim), Heitor Lourenço (Cuba Libre), João Maria Maneira (Flor Sem Tempo) ou Carlos Sebastião (Amor Amor). Braga tem estreia marcada para o dia 7 de Junho, uma quarta-feira, e os oito episódios serão emitidos ao ritmo de um por semana. A série ficará também disponível na plataforma de streaming RTP Play.

RTP1 e RTP Play. Estreia 7 de Junho (Qua) às 22.00

Notícia actualizada a 26 de Maio para incluir o nome do actor Salvador Gil.

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