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‘Toda a Luz Que Não Podemos Ver’: em tempos de guerra, nem tudo é escuridão

Numa França ocupada pelos nazis na II Guerra Mundial, há luz ao fundo do túnel. A minissérie ‘Toda a Luz Que Não Podemos Ver’ estreia esta quinta-feira na Netflix.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
Aria Mia Loberti e Mark Ruffalo
Timea Saghy/Netflix © 2023Aria Mia Loberti e Mark Ruffalo, em 'Toda a Luz Que Não Podemos Ver'
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Shawn Levy, produtor de Stranger Things, está de regresso à Netflix com Toda a Luz Que Não Podemos Ver. Além da (ambiciosa) produção, assegura também a realização da minissérie de quatro episódios que adapta o romance homónimo de Anthony Doerr, vencedor de um Pulitzer em 2015. Agora, os monstros não vêm do mundo invertido, mas sim do Terceiro Reich. Ambientado numa França ocupada durante a II Guerra Mundial, conta com prestações de Hugh Laurie e Mark Ruffalo, embora o protagonismo seja dos jovens actores do elenco. Está disponível no serviço de streaming desde 2 de Novembro.

Num mundo de escuridão, assombrado pela II Guerra Mundial, dois jovens de diferentes lados da barricada sintonizam uma rádio em que um homem conhecido como Professor ilumina as noites de crianças e adolescentes de toda a Europa, ensinando ciência e tecnologia através das suas emissões nocturnas. Um farol em tempos de guerra, num enredo que acompanha uma década da vida de Marie-Laure e Werner, desde que são crianças até serem jovens adultos. Ela é uma francesa cega, filha de Daniel LeBlanc, funcionário do Museu de História Natural de Paris que resgata a mais valiosa jóia do país quando os alemães ocupam a capital francesa e que encontra abrigo em Saint-Malo junto do tio Etiénne. Ele é um órfão recrutado pelos nazis, depois de estes descobrirem que Werner tem um talento especial para rastrear transmissões ilegais de rádio. É grande o mundo que os separa, mas têm algo em comum (a par de serem dois prodígios): desde pequenos que se refugiam na frequência 1310, para ouvir o tal Professor, de nacionalidade francesa, que lhes ensinou uma frase que os vai guiando ao longo dos anos: “A luz mais importante é a luz que não podemos ver.”

Louis Hofmann
©Katalin Vermes/NetflixLouis Hofmann (Werner), em 'Toda a Luz Que Não Podemos Ver'

A acção vai alternando entre o início e o fim da ocupação de França pelas forças alemãs e centra-se sobretudo na cidade portuária de Saint-Malo, na Bretanha, cruzando ficção e realidade no argumento e na escolha das actrizes que interpretam a verdadeira heroína desta história, Marie-Laure: as norte-americanas Nell Sutton e Aria Mia Loberti, ambas actrizes com deficiência visual e que se estreiam na representação em Toda a Luz Que Não Podemos Ver.

“Ela tem uma persistência de esperança num cenário de escuridão”, diz Shawn Levy sobre a personagem, citado pela Tudum, a plataforma de conteúdos para utilizadores da Netflix. Para o realizador, contratar actrizes cegas para o papel era o que lhe parecia mais correcto e a primeira a ser seleccionada foi a pequena Sutton, com apenas sete anos de idade. “Na altura, já estava a pensar em contratar actrizes cegas ou com baixa visão para interpretar Marie-Laure, mas só quando fiz um Zoom com a Nell é que percebi que não podia ter uma actriz a fingir. Era errado a todos os níveis. Por isso, ela foi o catalisador”, recorda o realizador. Para o papel da adolescente Marie-Laurie, a produção recebeu milhares de vídeos de todo o mundo, entre eles o de Loberti, uma jovem académica que estava prestes a ingressar num doutoramento em Retórica na Universidade da Pensilvânia e que foi alertada para o casting por um professor. Loberti acalentava o sonho de um dia ser actriz, mas, explica, era algo “com que não podia sonhar”. “Habituamo-nos a que as pessoas nos digam o que é possível fazer e aceitamos”, diz a agora actriz, que fez uma formação rápida antes de enfrentar as câmaras, também citada da Tudum.

O restante elenco merece também destaque. Para o papel de Werner foi escolhido o actor alemão Louis Hofmann (Dark), que descreve o personagem como “muito sensível, mas também muito despedaçado”. “Ele tem o dom de ser um génio e acho sempre interessante quando algo tão positivo provoca algo tão negativo. É um génio com rádios, mas isso torna-se um fardo quando os nazis fazem uso das suas capacidades e ele sofre com o regime. O que é bonito é que ele continua a tentar agarrar-se ao que é bom e isso acaba por levá-lo a Marie”, explica Hofmann, igualmente à Tudum. Para interpretar Daniel Leblanc foi contratado o norte-americano Mark Ruffalo (Poor Things), e no papel do tio Etiénne vemos o britânico Hugh Laurie (House). Há ainda um vilão, chamado Reinhold von Rumpel, interpretado pelo actor alemão Lars Eidinger (Babylon Berlin) um cruel oficial nazi e doente terminal que passa os seus últimos dias atrás de Marie-Laure e do valioso diamante que, diz a lenda, dá vida eterna ao seu detentor.

Todos os personagens desta história ou são franceses ou alemães, mas em Toda a Luz Que Não Podemos Ver, a série, todos falam inglês (mesmo com actores alemães ao barulho). Talvez a solução mais estranha desta produção, numa altura em que se vai optando, cada vez mais, pelo realismo linguístico na ficção audiovisual.

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