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Cynthia Bitar é focada. Enquanto há mesas para servir não há quem a veja. Da cozinha só sai quando o serviço está terminado ou, pelo menos, muito bem orientado. Há anos que é assim, embora em Lisboa a aventura seja recente. O Touta abriu junto à Estrela no final de 2023 para nos mostrar que a cozinha libanesa também pode ser criativa, ter assinatura, sem que por isso perca o ADN.
“A abordagem pode ser diferente, mas o ADN é sagrado. A minha filosofia é nunca tocar no ADN de um prato ou de um sabor tradicional. Se uma pessoa libanesa aqui vier, fechar os olhos e provar a comida, saberá o que está a comer”, conta-nos a chef libanesa, com uma longa carreira na cozinha. “Eu nasci numa cozinha. Dou sempre exemplo do Astérix e do Obélix. Eu sou o Obélix que caiu no caldeirão. A minha mãe foi a primeira mulher chef no Líbano e no Médio Oriente. Estamos a falar em finais dos anos 1950”, revela Cynthia, explicando que foi com a mãe que criou o seu primeiro negócio, ainda hoje a funcionar, o Nazira Catering – Nazira é o nome da mãe.
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Quando Cynthia diz ter nascido na cozinha faz questão de reforçar que não está a exagerar. “Na nossa família, nós acordamos, abrimos e fechamos os olhos sempre a pensar em comida. Todos os dias temos que planear cada prato que vamos comer. É uma casa aberta, com mesas sempre cheias de comida, sempre com pessoas a chegar”, acrescenta ainda. “Eu não digo que tenho um emprego ou que vou para o trabalho – esta é a minha vida inteira.”
A paixão que mete em cada palavra é a mesma que mete em cada prato. “Esta sou eu”, afirma, como quem se apresenta através do menu, pensado ao detalhe, com uma atenção especial à qualidade dos ingredientes. “Eu trabalho com produtos frescos, pequenos produtores, artesãos, agricultores. Tenho de saber exatamente de onde vêm os produtos, como chegam, o bem-estar dos animais”, enumera.
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Em Portugal há pouco tempo, para onde se decidiu mudar depois de alguns viagens para cá, Cynthia admite ainda estar a meio caminho nessa descoberta pelo melhor produto, mas também pelos sabores.
Ciosa da gastronomia libanesa tradicional – o tal ADN –, a chef deixa-se também influenciar pelas viagens que faz e os sítios que conhece. Viveu muitos anos em França, onde aliás se formou no Paul Bocuse Institute, em Lyon. “É sobre ter credibilidade e ser profissional, mesmo que a tua mãe seja uma pessoa profissional é sempre melhor começar num lugar neutro”, contextualiza.
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À mesa, é perceptível o cruzamento da cozinha francesa com o Médio Oriente. De um lado, as técnicas, do outro os sabores. A carta divide-se em duas partes, entre entradas perfeitas para partilha e pratos principais, que também podem obviamente ser divididos. Tudo o que pode ser feito em casa é feito em casa, do hummus com sujuk (caseira, ora pois) e uma cesta de pão libanês (12€) aos bombons de queijo crocantes (6€) ou as batatas harra fritas com raspas de limão (10€). Inspirada pelo nosso arroz de tomate, a chef tem a sua receita com creme de queijo fresco e granita de tomate lacto fermentado (12,50€).
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“A primeira vez que vim a Portugal, apaixonei-me, depois de sentir a boa energia. Além disso, viver o dia a dia, provou quantas semelhanças existem entre o Líbano e Portugal. Os produtos, a mentalidade, a geografia, a fisiologia, a ética, a moral, a forma de pensar. Podiam perguntar-me porque não França [para abrir um restaurante], já que vivi uma grande parte da vida em França, mas a França de hoje não é mais o que espero que seja. Não é a França para mim. É muito agressiva, muito suja, muito corrupta, muito tudo. Estou numa metade da minha vida em que não quero perder mais tempo em ambientes errados”, defende.
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Voltando ao menu, nos pratos principais, o kebab é um borrego com molho de ginja e iogurte e pão libanês grelhado (20€), o peixe do dia é servido com dashi, arroz croacante e picles de cebola (30€) e a lula grelhada acompanha com ameijoas e salsa (26€). Cynthia já descobriu também o porco preto, aqui com abóbora, puré de feijão, alfarroba marshmallow e molho barbeque libanês (24€).
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Nas sobremesas, há um queijo derretido kadaif com pistáchio e xarope de água de rosas (9€), um confit de figos com anis, nozes e uma telha crocante (9€) e uma torta de chocolate, café e cardamomo (9€).
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Na carta de vinhos, o foco mantém-se no Líbano (29-48€/garrafa e 5,50-5€ o copo), apesar de existirem algumas referências portuguesas. Nos cocktails de assinatura, o Médio Oriente destaca-se nas combinações, como no bloody araq (11€), onde o araq, uma bebida alcoólica destilada de anis muito apreciada no Líbano, se mistura com uma sumo de tomate e especiarias, ou na margarita (12€) com zaatar, uma mistura de tomilho, sementes de sésamo e azeite.
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Resta dizer que Touta, que dá o nome ao restaurante, é o “petit non” de Cynthia Bitar, que não está sozinha neste projecto. Consigo, estão os sócios-gerentes, também libaneses, Rita e Wael El Haddad. E no fundo do restaurante, sem que nada faça adivinhar, fica uma mercearia, onde é possível comprar algumas das iguarias que servem também o restaurante.
![Touta](https://media.timeout.com/images/106125524/image.jpg)
Rua Domingos Sequeira 38 (Estrela). 960 494 949. Ter-Sáb 19.30-00.00
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