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Três anos depois, o colectivo Coral chega ao fim. “Fizemos coisas lindas”

Colectivo que juntava três pequenos negócios de Lisboa numa só morada, com uma forte actividade cultural, não vai continuar. Mudanças na dinâmica da cidade e cansaço na origem da decisão.

Cláudia Lima Carvalho
Editora de Comer & Beber, Time Out Lisboa
Associação Cultural, Colectivo Coral, Anjos
©Gabriell VieiraColectivo Coral
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Foi na ressaca da pandemia, à procura de uma reinvenção e de um novo modo de vida em Lisboa que o Valsa, o Café Mortara e a Artesanalis se juntaram numa só morada, num novo espaço na Rua Angelina Vidal. Juntos deram forma ao Colectivo Coral, que agora chega ao fim. “Entre os principais factores que influenciaram a decisão, estão as mudanças da cidade e do público, questões com a vizinhança e algum cansaço”, revelam à Time Out. Até dia 14 de Dezembro, é possível fazer a despedida das pizzas, das massas e dos eventos que foram animando esta zona da cidade.

Os rumores já circulavam e na última sexta-feira veio a confirmação através do Instagram: “A Valsa e o Coral coletivo vão fechar portas”. “Lisboa tem passado por mudanças económicas, sociais, culturais, um turbilhão que afecta direitos fundamentais, como o acesso à habitação e aumento da precarização do trabalho. Também tem impactado pessoas que, como nós, actuam nos sectores da cultura e restauração, especialmente pequenos projectos independentes que não possuem financiamento”, lê-se na publicação. “A Valsa sempre buscou ser um projecto baseado no fortalecimento de uma comunidade e, acima de tudo, ser casa para tantas pessoas, mas sabemos como a nossa rede também está a sofrer esses impactos. Já não conseguimos firmar nosso lugar nessa transformação em meio às nossas próprias limitações e não é mais viável manter esse projecto em pé”, acrescentam ainda. 

Associação Cultural, Colectivo Coral, Anjos
©Gabriell VieiraColectivo Coral

Questionados pela Time Out, via email, e através de Nika, membro do colectivo a par de Thiago Rocha, Vítor Mortara, Marina Ginde, Letícia Mendes, Martha Varella e Pedro Mendes, o colectivo diz ter-se reinventado “muitas vezes nos últimos anos para fazer ‘dar certo’. “Não foi uma decisão fácil de ser tomada. Analisámos muitos aspectos, fizemos ajustes, nos reorganizamos internamente algumas vezes, mas ao fim chegamos à conclusão de que já não era sustentável seguir com o projecto”, explica Nika, referindo-se às “mudança [em Lisboa] que têm afectado directamente os direitos fundamentais das pessoas que aqui vivem e trabalham. “Principalmente pessoas como nós e a nossa rede, maioritariamente imigrante, com projectos independentes que não possuem financiamento”, especifica. “As pessoas que trabalham cononsco (colaboradores, artistas, etc.) estão a sofrer com esses impactos”, acrescenta, relatando que “muitos tiveram que sair do centro de Lisboa, outros tiveram que encontrar trabalhos extra para complementar a renda”. “Ou seja, ou não tem dinheiro, ou não tem disponibilidade para a cultura”.

“Além disso, o público do turismo que chegava até nós também mudou de perfil – o que fazemos, da forma que fazemos, já não é valorizado por esse novo público”, lamenta ainda 

Nika, esclarecendo que a “Artesanalis segue com sua bottle shop original em Alvalade”, enquanto o “Café Mortara está com novos projectos em desenvolvimento e a Valsa vai fazer uma pausa para talvez dar seguimento a projectos individuais no próximo ano”. Quanto ao colectivo, que nasceu como “como solução/salvação de três pequenos negócios independentes” chega efectivamente ao fim. “Cumpriu o seu propósito até onde foi possível. Sobrevivemos e fizemos coisas lindas até aqui.”

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