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Um baile, um candelabro (ainda) intacto e muito drama. O Fantasma da Ópera está em Lisboa

O Campo Pequeno recebe, até 27 de Outubro, o aclamado musical de Andrew Lloyd Webber. Vimos um ensaio e falámos com os actores horas antes da estreia.

Beatriz Magalhães
Escrito por
Beatriz Magalhães
Jornalista
The Phantom of the Opera
Francisco Romão Pereira / Time OutThe Phantom of the Opera
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São 11 da manhã do dia de estreia de O Fantasma da Ópera. Quando entramos no Campo Pequeno, ainda estão a ser ultimados todos os preparativos. Enquanto os músicos ensaiam numa pequena sala, o palco está pronto a receber os actores. Mas o pano ainda não subiu, o candelabro parece estar bem preso ao tecto, e os assistentes de produção andam de um lado para o outro, a garantir que está tudo dentro dos conformes. Logo à noite, espera-se uma casa cheia para ouvir e ver desenrolar a história de Christine e do Fantasma. E, com uma produção que junta o elenco da Broadway e o do West End, não se espera menos do que um grande espectáculo.

Ao contrário do que se podia pensar, tendo em conta a amplitude da sala do Campo Pequeno, o palco não é enorme. Afinal, estamos numa arena e não num teatro. Mas isso não foi razão para deixar de trazer o musical de Andrew Lloyd Webber a Lisboa. “Há muitos anos que estamos a trabalhar para trazer esta temporada”, começa por dizer Álvaro Covões, antes do ensaio desta terça-feira. Segundo o director-geral da Everything is New, a missão foi cumprida – transformar a arena “num verdadeiro teatro”. Durante duas semanas, até 27 de Outubro, este espaço faz as vezes do His Majesty’s Theatre para apresentar The Phantom of the Opera, obra célebre do teatro musical.

The Phantom of the Opera
Francisco Romão Pereira / Time OutThe Phantom of the Opera

Da plateia, vemos os 14 membros da orquestra tomar os seus lugares e sabemos que o ensaio está prestes a começar. Os músicos são liderados por Ben Mark Turner, director musical, que, além de destacar o carácter operático e também pop e rock da obra, nota ainda uma “habilidade única de chegar a um público que, normalmente, não se considera fã de teatro”. “É arrebatador, é sinfónico, é cinematográfico. E acho que o que estas pessoas maravilhosas e a orquestra conseguem fazer é acentuar esses momentos cinematográficos e elevar os momentos incríveis de intimidade”, considera. De facto, a música é uma parte imprescindível da peça e, por isso, a primeira das três cenas que vemos é precisamente a que dá nome ao musical. 

The Phantom of the Opera
Francisco Romão Pereira / Time OutThe Phantom of the Opera

Sobe o pano e, em cima de uma estrutura que se move pelo palco, está Christine e o infame Fantasma. Ela de vestido branco no topo das escadas, ele com metade da cara tapada pela máscara a poucos degraus do seu alcance. “Algo que o Stephen [Barlow, encenador] fez tão bem foi explorar a complexidade de todas as personagens e, especificamente, do Fantasma. Aqui vemos, pela primeira vez, a Christine a conhecê-lo e a entrar no seu mundo e ele [Stephen] conseguiu empoderar a personagem da Christine – ela faz as suas próprias escolhas e vai numa jornada muito bonita para encontrar a sua independência”, diz Sophia McAvoy, assistente de encenação.

The Phantom of the Opera
Francisco Romão Pereira / Time OutThe Phantom of the Opera

O espectáculo, que é uma versão itinerante do original, é produzido pelo Broadway Entertainment Group e conta com o elenco tanto da Broadway como do West End. Nadim Naaman interpreta um dos papéis principais, para ele “um papel de sonho”. “O que é emocionante acerca desta personagem não é o facto de ele ser o Fantasma, porque o Fantasma é inventado. Ele cria esta personagem para lhe dar poder e estatuto num mundo em que não tem nenhum. É um homem muito solitário, é deixado de parte pela sociedade por causa do seu rosto e é tratado de forma horrível. O que é que isso faz a uma pessoa?”, questiona-se o actor inglês, que faz teatro musical há mais de 20 anos. Daqui, impõe-se um dos desafios desta personagem: “Como actor, tens de interpretar duas pessoas diferentes. Tens de interpretar o Fantasma da Ópera e o homem por detrás da máscara.”

The Phantom of the Opera, Bridgite Costello, Nadim Naaman e Georgia Wilkinson
Francisco Romão Pereira / Time OutBridgite Costello, Nadim Naaman e Georgia Wilkinson

Por outro lado, Christine é interpretada por duas actrizes, que vão alternando o papel ao longo das apresentações. Na estreia, quem veste a pele da personagem é a australiana Georgia Wilkinson. A actriz começou na ópera, mas rapidamente percebeu que pertencia ao teatro musical. Com Christine, Georgia sente que está em constante aprendizagem e crescimento, espectáculo após espectáculo. “Ele tem uma jornada muito completa como personagem. Começa muito ingénua e inocente, assustada e vulnerável, mas depois cresce e encontra a sua força e poder. É um papel realmente substancial”, diz. Bridgite Costello, que estava em palco no ensaio, vê o potencial no facto de a personagem ser interpretada por duas pessoas diferentes. “Acho que é essa a beleza, todos os actores trazem um pouco de si para cada papel. E deve ser muito bonito para todos os outros actores em palco ter diferentes interpretações de diferentes pessoas.

The Phantom of the Opera
Francisco Romão Pereira / Time OutThe Phantom of the Opera

Além do elenco, os cenários e os 230 figurinos também vieram de além-fronteiras. “A música é a primeira coisa à qual eu respondo e sinto sempre que a chave para desenhar um espectáculo como este é que o visual deve sublinhar o que estás a ver e a sentir”, explica Andrew Riley, encarregue dos figurinos e do set design. Inspirado pela arquitectura do Palais Garnier, em Paris, a pesquisa também tomou parte do seu trabalho, já que há muitos detalhes a ter em conta. Na cena do baile de máscaras, entramos numa sala rodeada de espelhos que, lembrando o foyer do Palais Garnier, não poupa na opulência. Os actores, que vestem fatos e vestidos coloridos, com penas ou asas nas costas, cantam e dançam, tal como pede uma festa do século XIX.

Francisca Mendo
Francisco Romão Pereira / Time OutFrancisca Mendo

A portuguesa Francisca Mendo é uma das bailarinas que compõem o quadro. Chegou a integrar várias companhias de dança no Reino Unido até ao ano passado, quando decidiu fazer a audição para The Phantom of the Opera. “É o meu primeiro espectáculo de teatro musical, por isso é um bocadinho diferente. É uma produção muito grande, há muitos departamentos, muitas pessoas envolvidas para fazer este espectáculo acontecer todas as noites, mas é uma experiência maravilhosa e muito gratificante”, partilha. Para a bailarina, o aspecto mais desafiante é mesmo o trabalho de bastidores, especialmente quando a estrutura destes muda consoante a cidade em que o espectáculo á apresentado. “Tem tudo um timing tão preciso que o mais desafiante é aprendermos toda a coreografia do backstage, mais do que a que fazemos em palco – termos a certeza de que estamos no sítio certo para entrar, onde é que vamos trocar de roupa…”

Lara Martins
Francisco Romão Pereira / Time OutLara Martins

É também aqui, com toda a pompa e circunstância, que ficamos a conhecer Carlotta, a antagonista da história. Lara Martins, que interpreta a cantora de ópera há muitos anos e também no West End, destaca os contrastes que tornam a personagem no que ela é. “Ela, de repente, vê a sua posição ameaçada por uma bailarina, que na hierarquia da casa de ópera não é nada, e fica muito magoada. É preciso mostrar essa vulnerabilidade de uma personagem que também é engraçada e ela acaba por ser o elemento cómico. Mas a Carlotta não é só para fazer rir, as pessoas quase que têm de sentir pena dela.” A actriz e cantora lírica costuma vir a Portugal apresentar-se em concertos de música erudita, já que no que toca ao teatro musical fá-lo, principalmente, lá fora. Contudo, acredita que é uma forma de arte que está a ganhar mais espaço, graças em parte à vinda de espectáculos como este. “O facto de haver portugueses lá fora a trabalhar no West End também motiva a nova geração. E sinto que há um interesse cada vez maior no teatro musical em Portugal, está a começar agora, mas acho que daqui a uns anos vamos ter muita coisa a acontecer”, remata.

Sagres Campo Pequeno. 15-27 Out. Ter-Sex 21.00, Sáb-Dom 15.30 e 21.00. 39€-125€

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