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Se o álcool é um conhecido desinibidor universal, a comida de conforto, neste caso asiática, pode muito bem ser o ingrediente que faltava para ganhar coragem, subir ao palco e pegar no microfone. Pelo menos, é esta a premissa do Golden Vista, o novo restaurante das Docas, determinado a introduzir o karaoke nos hábitos de entretenimento nocturno dos lisboetas. "Na China o hábito é muito este: saímos com amigos, bebemos uns copos, entramos numa box e divertimo-nos a cantar. No final, saímos e comemos na rua", explica Louis Bayle, um dos mentores do espaço, que viveu durante quatro anos na China.
A inspiração é clara, mal se entra. Os néons com caracteres chineses, os bancos altos, as paredes descascadas e a cozinha aberta recriam os balcões de rua onde milhares de pessoas saboreiam as iguarias a oriente. Um projecto da arquitecta Elsa Sibuet e um espaço pensado para refeições rápidas. Da massa dos baos às estrelas da lista de cocktails, tudo acontece à vista de quem entra. "O nosso objectivo foi trazer um pouco da China. Não há nenhum sítio assim em Lisboa. Podemos ir ao Martim Moniz e comer coisas maravilhosas, mas não te servem um bom cocktail num bom copo. Podemos ir ao JNcQUOI Asia, mas é bastante mais caro", refere Louis.
Com uma selecção reduzida de vinhos e algumas cervejas asiáticas (incluindo a clássica Tsingtao), as bebidas misturadas são o forte da carta. Os apreciadores de gengibre lacrimejarão de felicidade ao provar o Ginger Punch (10€), enquanto os fãs de sabores frutados podem começar a perder as estribeiras com um huang gua mule, com travo de maracujá (11€), ou com um mojito de líchia (10€). Encher a bexiga é igualmente boa ideia — vai permitir aos clientes conhecer as casas de banho decoradas a rigor.
André Santos e Bernardo Nabais são os chefs de serviço. Depois de meses a testar receitas e a afinar sabores (e também a gerir níveis de picante), Louis e Paul Cukierman, outra das pessoas responsáveis pelo conceito do Golden Vista, colocaram a responsabilidade sobre a dupla. A base é exclusivamente chinesa, com pretensões de ir explorado referências gastronómicas de várias regiões do país. Um menu único, comum aos dois pisos do restaurante, embora no andar de cima o prato do dia seja outro.
Subidas as escadas, avista-se finalmente o palco. Nas paredes, as pinturas aludem aos animais do zodíaco chinês, enquanto no tecto, as lanternas vermelhas dão outro conforto ao espaço. É este o andar reservado aos longos serões de microfone na mão e comida na mesa. Comer, beber e cantar resumem o plano de festas — a ordem fica ao critério de cada um, os ingredientes são todos fornecidos pelo Golden Vista.
O menu arranca com clássicos da cozinha chinesa — spring rolls suculentos (7€, três unidades) e asinhas de frango com glacé doce (10€), entrou outras entradas. A secção de dim sum cumpre os mínimos, com recheios de vegetais, frango, camarão e porco (entre os 6€ e os 7€, três ou duas peças). A selecção de baos segue a mesma lógica — dentro do pão fofo (feito em casa), pode vir carne de vaca, camarão, tofu, pato ou porco char siu, uma receita chinesa de carne assada e extra condimentada (7€, duas peças).
Do lado dos pratos principais, destaque para a vaca sichuan (14€), especialidade moderadamente picante, e para as beringelas hongshao (13€), uma das duas opções vegetarianas a par com o mapo tofu (10€). O arroz frito yangzhou (7€) e os noodles de vegetais fritos (9€) fazem parte da lista de acompanhamentos. Quem tiver estômago para sobremesa terá um dilema pela frente — entre o tiramisu da matcha (7€) e o sticky rice de manga (6€).
Mas existe outro menu a considerar, nomeadamente o musical. Através de um código QR espalhado pela sala, os clientes acedem a uma lista de mail de 5000 canções. Alistar-se para cantar (ou alistar o amigo do lado, com ou sem aviso prévio) está à distância de um clique — a única dificuldade será mesmo escolher entre o "Baby One More Time" de Britney Spears ou o "You Shook Me All Night Long" dos AC/DC.
Louis fala num hábito enraizado na cultura chinesa e que começa agora a despontar em países como França, Reino Unido e Estados Unidos. Além do palco montado no primeiro andar, com lugar para 50 pessoas (e onde é necessária reserva, ao contrário do piso inferior), existe uma sala privada — não é possível jantar lá dentro, mas proporciona total recato a grupos até 12 pessoas com dificuldades em apresentar os dotes vocais em público. O aluguer pode ser feito por duas horas e, consoante o dia e o horário, pode variar entre 50€ e 140€.
Confiante na popularidade do conceito, a dupla de empreendedores (que conta ainda com um investidor, proprietário do Visconti, no Chiado, e do Bohemian, na Costa da Caparica) admite a possibilidade de expandir a marca Golden Vista, situada na mesma correnteza onde o Descarado e o Contra abriram no último ano, mas não para já. Por enquanto, há muitas horas de música pela frente e mais um bom motivo para voltar às Docas.
Docas de Santo Amaro, armazém 13. 21 408 4217. Dom e Qua 12.00-00.00 e Qui-Sáb 12.00-02.00 (street food); Dom e Qua 20.00-00.00 e Qui-Sáb 20.00-02.00 (karaoke).
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