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Um bombo, um sintetizador e uma loop-station. O “one woman show” de Ana Lua Caiano

A cantora e compositora que funde música tradicional e electrónica vai lançar o segundo EP, ‘Se Dançar É Só Depois’, a 5 de Maio e está confirmada no cartaz do NOS Alive. "Podia ficar muito assustada mas não, até sinto que é um passo natural", diz.

Escrito por
Daniel Monteiro
Ana Lua Caiano
Joana CaianoAna Lua Caiano
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Ana Lua Caiano sempre teve uma relação próxima com a música. A cantora e compositora de 23 anos conta que a paixão vem desde muito nova. Começou pelo piano clássico, mais tarde fez um curso no Hot Clube de Portugal e entretanto integrou várias bandas. Mas foi a pandemia e o facto de compor sozinha que a levou a explorar a possibilidade de um projecto a solo. Os primeiros passos têm sido certeiros.

A estreia aconteceu em Setembro passado, com Cheguei Tarde a Ontem. Um EP de apenas seis temas, embora suficientes para lhe garantir lugar em algumas listas dos melhores discos de 2022. O sucessor não tardou. Não tarda. A 5 de Maio, sai Se Dançar É Só Depois. São mais seis canções, nas quais aprofunda a sua proposta de cruzamento entre a música tradicional e a electrónica. "Tentei experimentar e fazer coisas um bocadinho diferentes", diz à conversa com a Time Out, antecipando o lançamento do segundo EP. "Apesar de tudo, existiu uma progressão. Trago novas coisas mas mantenho a mesma identidade."

"Mão na Mão" e "Adormeço Sem Dizer Para Onde Vou" são os singles. São igualmente os temas que abrem e fecham o trabalho, respectivamente. Entre uma e outra há "Vou Abaixo, Volto Acima", "Dói-me a Cabeça e o Juízo", "Se Dançar É Só Depois" e "Casa Abandonada".

Ana Lua Caiano
Joana CaianoAna Lua Caiano

O processo de criação da sua identidade musical foi orgânico, afirma. “Nunca foi algo que pensei que quisesse fazer de forma racional. Eu já tinha um sintetizador e alguns instrumentos e foi uma questão de começar a experimentar coisas diferentes. Ouvia muita música tradicional, coisas mais alternativas e electrónica. Então acho que, como já tinha essa bagagem auditiva, a experimentação levou-me a este projecto.”

Fausto Bordalo Dias, José Afonso e Björk são, entre muitos outros, nomes que refere como influências musicais. Sempre gostou de os ouvir. Contudo, diz que não se inspirou em ninguém específico para a criação do seu estilo musical. “Acho que nunca houve assim alguém que eu ouvisse e dissesse: é isto que quero fazer. Eu ouço muita música, sobretudo álbuns. Então acho que o facto de ouvir tantos álbuns e músicas com géneros e estilos diferentes fez com que conseguisse facilmente combinar coisas diferentes.”

De resto, é uma tendência: são vários os artistas portugueses a regressar à música tradicional para a misturar com novas sonoridades. “Há uns tempos, havia um bocado uma certa reticência em pegar nos elementos tradicionais, quase como se a guitarra portuguesa fosse intocável e não pudesse ser usada noutras coisas. Acho super interessante como isso faz parte da exploração e fico contente, porque faz parte da nossa cultura e é giro ver como diferentes pessoas fazem diferentes coisas com esses elementos”.

Ana Lua Caiano
Joana CaianoAna Lua Caiano

Nos concertos, Ana também é um “one woman show”. Sobe ao palco sozinha com um sintetizador, um bombo e uma loop-station, o que lhe permite recriar as suas músicas ao vivo de uma forma diferente. “Nem sempre é fácil. Demora sempre um bocadinho mais do que a música original e não é bem a mesma coisa – é um loop –, mas eu tento sempre aproximar a recriação ao que o público ouve nos discos", adianta. "Ao vivo sinto que a música é mais intensa, gosto de transmitir energia nas músicas."

Os ritmos dançáveis e enérgicos são a plataforma que sustentam as reflexões, sobre o que vai vendo e experienciando, que Ana Lua Caiano não dispensa. "Eu gosto de pensar acerca daquilo que me rodeia", nota. "O EP é também essa minha reflexão sobre as coisas, e as letras brincam com situações de quotidiano de uma forma sarcástica e com humor".

A cantora anda em digressão pelo país a apresentar as novas canções, com datas em vários clubes, e em finais Maio terá mesmo a sua primeira internacionalização (na Sala Radar, em Vigo). Mas sem dúvida que o ponto alto da sua agenda é o NOS Alive, festival em que vai actuar a 6 de Julho. “Apesar de só ter começado a dar concertos em Março de 2022 e apesar de parecer tudo um pouco recente, sinto que aconteceu tudo naturalmente. Não sei bem como é que aconteceu mas fiquei muito contente", comenta. "Não sinto que tenha sido muito precipitado, podia ficar muito assustada mas não, até sinto que é um passo natural.”

Isto é apenas o começo. No final do ano tenciona lançar o seu primeiro álbum. “Já estive em estúdio a gravar mais músicas. A música às vezes é assim: apesar de ainda não ter lançado o próximo EP, já estou a trabalhar no álbum há alguns meses. Portanto, é sempre a pensar no próximo passo.”

Texto editado por Hugo Torres

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