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Vamos ser honestos. O Vibra Caffé + Concept Store é uma ideia ambiciosa. Neste espaço, que se situa no 8 Marvila (fácil de encontrar pela cor vermelha com que está pintado), podemos fazer muita coisa diferente: beber um café solidário, comprar um Estúpido (uma figura antropomórfica gigante criada por Robert Panda), assistir a concertos de morna ou fado, gravar música ou comer um pica-pau.
Vamos por partes. Este projecto de Miguel Domingos Garcia, director criativo, fundador da editora Vibra Worldwide e da LX-XXX, responsável pelo agenciamento de artistas, foi materializado num café-restaurante com esplanada e, mesmo à frente, uma loja onde podemos adquirir obras de arte, como uma luva gigante com a cara de Basquiat (da colecção #PUNCHINTHEFACE da artista Rueffa), livros de música da Taschen, auscultadores da Marshall ou agendas da Moleskine.
A ideia de conjugar todos estes mundos num só espaço surgiu da vontade do proprietário de tornar a música e a arte “mais próximas das pessoas”. “Queria criar um espaço que fosse um ponto de encontro, de união e de conexão”, explicou, referindo que as lojas da Apple foram uma inspiração.
“Eram lojas muito minimalistas, mas tinham um conceito. O nosso conceito é misturar todas as nossas valências e marcas neste espaço físico”, diz-nos.
Uma das ideias de que Miguel mais se orgulha é o café solidário. Com o valor de 1,30€ – 30 cêntimos revertem a favor de um artista que faça parte da Vibra Worldwide, à escolha do cliente. “Pagamos mais do que o Spotify”, orgulha-se. Neste momento, o plantel de músicos inclui nomes como a fadista portuguesa Maura Airez ou o músico cabo-verdiano Alberto Koenig.
Ainda com a ideia da acessibilidade presente, o director criativo revelou também que vai criar, ao lado do balcão do café, um estúdio gratuito que qualquer pessoa poderá utilizar, bastando que reserve um horário numa aplicação. Tanto esta ferramenta como o estúdio ainda estão em desenvolvimento.
Inaugurado no final de Outubro, até ao momento, Miguel refere que a maior dificuldade que tem sentido em gerir este espaço é a resistência em aceitar o conceito. “O desconhecido cria uma resistência. A grande dificuldade tem a ver com ainda alguma incapacidade do português entender o conceito de uma concept store. Estamos formatados para ler e assimilar o que lemos textualmente e não para pensar. Este é um espaço que convida à reflexão. A grande dificuldade é as pessoas pensarem e interpretarem o que fazemos aqui, que é uma novidade.”
Porquê então abrir um espaço deste estilo em Portugal? Por que não abrir em Amesterdão, onde Miguel viveu e onde pretendia instalá-lo originalmente?
“Queria sofrer um bocadinho, é o meu fado”, diz entre risos, confessando que é o seu estilo musical favorito e que é um grande “Amaliano”. “Queria inverter aquele pensamento de que tudo o que vem de fora é melhor do que aquilo que começa cá.”
O amor por Portugal e a diáspora nota-se não só pela playlist (com curadoria de artistas) como pelo mural de Amadeo Carvalho, artista de Cabo Verde, que inclui figuras como Amália Rodrigues, Dino d’Santiago, Sara Tavares, Marisa ou António Variações. O menu do chef José Maria Lino também tem um papel fundamental na transmissão desta mensagem.
Com pratos como carpaccio de bacalhau (15€), pica-pau (16€) ou cachupa (22€), esta reinvenção da cozinha tradicional tem como missão transmitir o olhar de Miguel.
“Convidei o chef José Maria Lino, que já tinha trabalhado num espaço meu em Amesterdão, para assinar a carta. Ele conseguiu interpretar o meu pensamento. Somos os únicos no 8 Marvila que servimos gastronomia portuguesa, e sentimo-nos confortáveis em trazer um bocadinho mais de portugalidade e lusofonia a Lisboa. Nos últimos anos, cozinheiros passaram a ser chefs, perdeu-se o encanto pelos simples pratos portugueses. Recuperar esta tradição também é uma das missões do Vibra Caffé”, confessa.
No entanto, admite que o melhor do menu são os bolos da mãe. “Eles são muito especiais para mim. São feitos por ela com muito amor e com a mesma receita que me lembro da minha infância.”
O Vibra Caffé vai servir também como palco para concertos e DJ Sets. Aqui, Dino d’Santiago, amigo de Miguel, já mostrou os seus talentos, mas não será o único. O objectivo é que todas as quintas-feiras aconteçam concertos de morna ou fado com artistas lusófonos. Maura Airez e Alberto Koenig vão ser os anfitriões e convidar colegas para actuar. “São noites de fados e espectáculos, que esperamos que comecem às 21.00 e durem até à meia-noite, mas que, daqui a algum tempo, se prolonguem até às duas da manhã.”
Com tantas valências diferentes e serviços gratuitos, houve algo que tínhamos de perguntar ao director criativo: como pode este sítio gerar rendimento? “A resposta simples é que é preciso que as pessoas adiram a esta iniciativa. Têm de visitar o espaço, comprar e consumir. Essa é a forma de nos ajudarem a manter o nosso manifesto vivo.”
As ideias parecem não acabar nesta concept store, mas Miguel promete que a sua vontade é continuar a expandir a marca. “Este é apenas o projecto-piloto. Queremos abrir noutros locais, em Portugal e, essencialmente, no estrangeiro”, revela, abrindo a cortina também para outros projectos.
“Vamos solidificar e expandir o portfólio de artistas da Vibra Music; vamos lançar o Vibra Live Studio, que será um concorrente directo do Color Studio e do Tiny Desk; vamos editar a Vibra Magazine — uma revista que será como uma mistura da GQ, Vogue, Rolling Stone e Monocle. E, no futuro, gostaríamos muito de criar a Vibra TV e a Vibra Rádio”, diz.
“A cultura, a arte e a música são vistas como a cereja no topo do bolo, mas há um problema. Ninguém come a cereja. É apenas um adorno. O meu objectivo é que as pessoas olhem para a cereja como algo essencial. Quero dar espaço aos artistas para terem notoriedade e se reivindicarem. Só consigo isto através da comunicação, por isso, nada melhor do que ter uma revista, uma rádio e um canal de televisão. Não sabemos ainda o formato, nem como vamos financiar tudo, mas sabemos que temos uma editora, o Vibra Caffé + Concept Store e estamos a pouco tempo de lançar o Vibra Live Studio, tudo com capitais próprios que advêm de outros clientes que fomos angariando na nossa empresa, na LX-XXX, e financiando directamente esta loucura, este devaneio, que se chama Vibra Worldwide.”
Praça David Leandro da Silva 8 (Marvila). 218 870 703. Seg-Dom 12.00-00.00
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