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É bem sabido, e está bem estudado, que o nosso cérebro por vezes nos engana. É o que acontece com aqueles quadros de ilusão de óptica em que vemos círculos onde afinal só há quadrados. O cérebro prega-nos partidas. E é esta a única explicação que encontramos ao vermos um comboio no capitel de uma coluna de um convento de 1509 – ou então está para ali uma câmara qualquer escondida a filmar!
“O claustrim do antigo Convento da Madre de Deus foi reconstruído em gosto neomanuelino no decorrer da campanha de obras de recuperação iniciadas em 1872 pelo arquitecto José Maria Nepomuceno. O comboio a vapor era novidade em Portugal, e a estação de Santa Apolónia tinha sido inaugurada em Maio de 1865”, explica João Pedro Monteiro, do Museu Nacional do Azulejo.
Não é de admirar que José Maria Nepomuceno tenha tido o arrojo de celebrar o progresso simbolizado pelo comboio a vapor num edifício do século XVI, foi um arquitecto ousado e à frente do seu tempo. É dele o Pavilhão de Segurança Pan-óptico do Hospital Miguel Bombarda (1892-96), vanguardista no seu desenho de arredondamento de arestas e precursor do design e arquitectura modernistas dos anos 20 e 30 do século seguinte. Presentemente, o pavilhão, bem como a escadaria em ferro fundido do edifício principal do hospital, ambos de Nepomuceno, encontram-se classificados.
No entanto, para o visitante desprevenido, a visão de um comboio em pleno claustrim continuará a ser desconcertante. “Nas nossas visitas guiadas mostramos sempre isto aos visitantes, eles acham muita graça”, diz João Pedro Monteiro, rindo-se ele próprio também.
Museu Nacional do Azulejo, Convento da Madre de Deus. Rua da Madre de Deus, 4 (Xabregas)
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