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Um regime absurdo, cómico e perigoso – e Kate Winslet é dona daquilo tudo

Kate Winslet é a chanceler de um governo autoritário na nova minissérie da HBO Max. ‘O Regime’ estreia a 4 de Março e é uma sátira política, absurda mas por vezes assustadoramente próxima da realidade.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
Kate Winslet
©DRKate Winslet, em 'O Regime'
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Uma nação europeia sem nome, liderada por uma chanceler autocrática e paranóica, é o fértil terreno de um argumento desenhado por Will Tracy, um dos produtores e argumentistas da série Succession e também co-argumentista do filme O Menu. A protagonista é Kate Winslet (Mare of Easttown), no papel da chanceler Elena Vernham, a mão-de-ferro e a cabeça-de-cartaz desta sátira política dos tempos modernos. Uma minissérie saída dos estúdios da Warner Bros. com estreia a 4 de Março, na HBO Max.

As ditaduras são assunto antigo e o seu florescimento não traz grande notícia. A não ser que ameacem renascer no Velho Continente, à boleia de extremismos que exploram descontentamentos e exacerbados sentimentos, da paixão aos medos. E é dentro das paredes de um sumptuoso palácio de um fictício pequeno país da Europa Central que conhecemos os meandros de O Regime, ao longo de um ano, repartido por seis episódios. Uma produção filmada em Viena de Áustria, com um elenco que é um caso sério de talento, contando com Matthias Schoenaerts (Django), Guillaume Gallienne (A Mamã, os Rapazes e Eu!), Andrea Riseborough (Para Leslie), Martha Plimpton (A Town Called Malice) ou Hugh Grant (A Very English Scandal); na cadeira da realização sentam-se Stephen Frears (A Rainha) e Jessica Hobbs (The Crown). Apresentada a ficha técnica, vamos ao enredo.

Matthias Schoenaerts e Kate Winslet
©DRMatthias Schoenaerts e Kate Winslet, em 'O Regime'

Elena Vernham (Kate Winslet), uma médica que resgatou da penúria o partido fundado pelo próprio pai, venceu as eleições há sete anos. Chegada ao poder, a nova chanceler afastou opositores, promoveu o culto da imagem e prometeu muito amor ao seu povo. Mas um amor assim mais inclinado para a linha política do Ministério do Amor, do romance 1984 de George Orwell. Rodeada de um séquito de ministros e de uma entourage pessoal como se de uma monarca se tratasse, Vernham acaba por depositar a sua confiança num militar de baixa patente, o cabo Herbert Zubak (Matthias Schoenaerts), um homem duro com um passado violento que, dentro da bolha palaciana, acaba por funcionar como um elo de ligação às vontades e sentimento geral do povo. Seja para convencer a grande líder a abandonar as negociatas com empresas norte-americanas, seja para a pôr em estado de alerta em relação aos que se passeiam pelos corredores do palácio, um antigo hotel antes da “reapropriação”. Mas a aliança entre Zubak e Vernham pode arriscar fraturar o palácio e o país que o rodeia, enquanto se apresentam como os predestinados à liderança de um país. Zubak que, pouco antes de trabalhar no palácio, tomou medidas, digamos, desproporcionais sobre um grupo de trabalhadores de umas minas de cobalto – a aparente principal riqueza natural desta pequena nação – que saiu à rua em protesto.

Vernham é uma mulher que clama amar o seu povo, mas que evita respirar o mesmo ar. Kate Winslet, num vídeo partilhado pela HBO Max, diz de sua justiça. “Elena Vernham quer instituir mudanças. Nem sempre sabe exactamente o que fazer, a não ser fazer com que as pessoas a amem. Ela é absolutamente delirante e acredita que as pessoas a amam de facto”, diz a actriz. Stephen Frears é mais directo: “Ela interpreta um monstro. Uma ditadora, talvez em tudo, excepto no nome. Mas que também tem muitas ansiedades e é insegura como todos nós”, descreve. No entanto, há lugar para diversas dimensões humanas dentro e fora das portas de O Regime, com destaque ainda para as personagens de Hugh Grant, na pele do encarcerado líder da oposição; Martha Plimpton na de Judith Holt, secretária de Estado norte-americana que tem por missão defender os interesses do seu país neste território; ou de Andrea Riseborough (actualmente nomeada ao Óscar de Melhor Actriz, no filme Para Leslie) como Agnes, a relutante mão direita da chanceler no palácio.

Seja como for, os pormenores da criação deste regime e da sua grande líder vão sendo revelados a cada episódio. Certo é que os Estados Unidos da América, e a sua constante tentativa de ingerência na vida política e económica além fronteiras, não saem incólumes desta sátira. Assim como o populismo, culto de personalidade e paranóias de certos e determinados líderes políticos da vida real que, nesta caricatura, poderão encontrar reflexos de si mesmos.

HBO Max. Estreia a 4 de Março

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