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Antes de Tubarão, de Steven Spielberg, se ter estreado, em 1975, os tubarões no cinema eram apenas figurantes em filmes de aventuras, de acção, de guerra ou nos de 007, onde habitavam as piscinas e os lagos decorativos dos vilões e comiam quem eles lá atiravam para dentro.
O blockbuster de Spielberg, baseado num livro de Peter Benchley, não revolucionou apenas o modelo económico das estreias da indústria cinematográfica americana para o Verão. A fita, que explora de modo magistral o nosso medo primordial da ameaça que se esconde na vastidão dos mares, trazendo-a para perto das praias, mudou também radicalmente a representação dos tubarões no cinema (e depois na televisão), que a partir daí, na imaginação popular, se transformaram em monstros marinhos de serviço, esfomeados sobreviventes dos tempos pré-históricos. E passaram a manifestar-se das mais variadas formas, algumas realistas, mas a maior parte das vezes fantasistas. Quando não mesmo delirantes, como o testemunha a franquia Sharknado.
E agora temos Meg: Tubarão Gigante, de Jon Turteltaub, que põe Jason Statham e uma equipa de biólogos marinhos a combater um Megalodonte, um tubarão gigante extinto há milhões de anos, mas que Hollywood, e o dinheiro dos seus investidores chineses, ressuscitaram nesta superprodução.
No entanto, esta não é a primeira vez que um Megalodonte aterroriza os mares. Antes da fita de Turteltaub houve pelo menos duas séries B de terror, daquelas que vão directamente para vídeo, em que esta bisarma se manifestou: Megalodon (2004) e Attack of the Jurassic Shark (2012).
Tubarão não teve apenas três continuações, cada uma mais intragável que a outra. Originou também toda uma série de imitações manhosas, nos EUA, em Itália ou em produções italo--americanas, caso de O Último Tubarão, de Enzo G. Castellari (1981), ou O Monstro Destruidor, de Lamberto Bava (1984).
Os tubarões têm sido pau para toda a obra no cinema – e em geral, estapafúrdia. Já foram modificados geneticamente por cientistas para ficarem mais inteligentes, passando logo a seguir a devorá-los, como em Perigo no Oceano, de Renny Harlin (1999); por culpa do aquecimento global, entraram nos canais de Veneza e aterrorizaram a cidade, mastigando autarcas, gondoleiros e turistas, como em Tubarão em Veneza, de Danny Lerner (2003); manifestaram-se a seco, no deserto, como sucede em Sand Sharks, de Mark Atkins (2004); ou aterrorizaram uma estância de esqui, caso do inenarrável Avalanche Sharks, de Scott Wheeler (2014).
Isto para já não falar na miríade de telefilmes com tubarões mutantes, dos Megashark aos Sharktopus, passando pelos Ghost Sharks (os títulos são só por si esclarecedores).
Entre os filmes mais realistas, aceitáveis ou francamente bons com tubarões, podemos destacar O Tubarão do Pacífico, de Frank C. Clarke (1981), uma aventura étnica de recorte místico, passada nos Mares do Sul; o excelente Em Águas Profundas, de Chris Kentis (2003), baseado no caso real de um casal americano que foi fazer mergulho na Grande Barreira de Coral, acabou esquecido pelo barco do hotel e, cercado por tubarões, desapareceu no mar; ou de Águas Perigosas, de Jaume Collet-Serra (2016), com Blake Lilvely no papel de uma surfista americana cercada por um tubarão nos recifes de uma praia mexicana isolada e vazia.
Quem goste dos seus tubarões mais conformes à realidade, pode sempre recorrer aos documentários clássicos do comandante Cousteau, ou então à Shark Week.