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O ambiente tem vários sons, mas nem todos eles são agradáveis. O chilrear dos pássaros é muito bonito, ouvir o mar é relaxante, mas dentro da categoria “ambiente” há também as buzinas dos carros ou a conversa ao telefone de uma senhora que está a dizer à empregada quantas costeletas é que ela deve tirar da arca congeladora para o jantar.
Os sons do ambiente podem ser irritantes, mas só há uma maneira de tornar a experiência de estar na rua, sujeito à, vamos chamar-lhe, “banda sonora da vida”, ainda mais desagradável: a música ambiente.
Nos últimos anos temos assistido a uma vigorosa investida anti-silêncio. Um ataque absoluto à paz e ao sossego. Todas as esplanadas têm música, as lojas têm altifalantes poderosos aspergindo todo o tipo de lixo pop e até as igrejas investiram em colunas que emitem non-stop os grandes êxitos do canto gregoriano.
Lembram-se de quando o silêncio era de ouro? Bons tempos. A desvalorização da matéria-prima preferida dos bibliotecários e dos mimos é um dos grandes flagelos do século XXI.
Por que é que um bar de praia precisa de um DJ a passar reggae? Vamos mais longe: por que é que o mundo precisa de DJs de reggae? Onde há areia e mar, a melhor música ambiente vem do próprio ambiente.
Impor uma música ambiente – o ar condicionado dos sons – é uma forma arrogante e prepotente de condicionar os nossos ouvidos. E uma forma pomposa de dizer à natureza: “Bom trabalho com o som do vento, boa ideia isso das aves canoras, está giro o barulho da rebentação do mar, mas toma lá esta versão bossanova do “No Woman No Cry” para veres o que é bom”.
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+ Uma carta aberta ao carro estacionado na linha do eléctrico