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“Co-living”, ora aqui está uma palavra que traz consigo os ventos da mudança. Mas esses ventos trazem também o cheiro nauseabundo da especulação imobiliária.
Vamos por partes. O “co-living” consiste em dividir casa, tal como se faz nas residências de estudantes. É uma versão amadurecida e semipermanente daquele fim-de-semana num hostel durante um interrail.
Em bom português isto tem um nome: dividir casa. Na novilíngua da gentrificação chama-se “co-living” e está na moda, assim como a gripe está na moda.
De acordo com as brochuras, o co-living “é um modo de vida”. Não é um prédio onde vários desconhecidos partilham áreas comuns – é uma comunidade. Não é um sítio onde a casa de banho partilhada tem várias escovas de dentes e ninguém sabe ao certo qual é a sua – é a melhor maneira de fazer novos amigos.
Cada inauguração de um destes espaços em Lisboa é apresentada como um passo em frente, “uma nova forma de viver a cidade”. Mas a fina camada de sofisticação que envolve este conceito desfaz-se com a unha do dedo mindinho. E o que vemos são dormitórios glorificados a servirem de única solução para jovens incapazes de arranjar casa a preços decentes.
O “co-living” existe porque o preço do metro quadrado em Lisboa não pára de subir. O que nos leva a pensar que, se calhar, quando morrermos vamos ter de ir todos para a mesma vala comum – que na altura se chamará “co-dying”.
O Provedor do Lisboeta é um vigilante dos hábitos e manias dos alfacinhas e de todos aqueles que se comportam como nabos e repolhos nesta cidade. Se está indignado com alguma coisa e quer ver esse assunto abordado com isenção e rigor, escreva ao provedor: provedor@timeout.com.