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Uma carta aberta ao empregado que diz “queria, já não quer?”

Escrito por
O Provedor
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Todos nós já passámos por isto: chegamos ao balcão de uma pastelaria, ensonados e a sofrer os efeitos da privação de cafeína, quando um pedido simples desperta no nosso interlocutor uma súbita vontade de debater as nuances da gramática da língua portuguesa.

– Queria um café, por favor.

– Queria? Já não quer?

O zelo que os empregados de café têm acerca dos tempos verbais é comovente. Mas a graçola, repetida ad aeternum e leccionada, quem sabe, numa cadeira de 1º ano da Escola da Vida, não tem grande fundamento.

O pretérito imperfeito do indicativo, “queria”, é mais delicado, mais elegante, do que dizer “quero um café”. E está igualmente correcto. A situação agrava-se se, depois de bebida a bica, ficamos com sede.

– É um copo de água, por favor. – Copos de água não temos, só de vidro. Se quiser dou-lhe um copo com água.

Aqui o empregado-espertalhão mistura a língua portuguesa com a engenharia dos materiais. Gostávamos de saber o que este senhor extremamente literal acha que lhe vai ser servido quando pede um “prato de favas”. Uma circunferência feita a partir de favas solidificadas?

Da mesma forma que bebemos uma garrafa de cerveja ou comemos feijão de lata (e não feijão com lata), os copos que pedimos são de água. Beber um copo com água é ingerir um copo de vidro (presume-se) com ajuda de um pouco de água. E ninguém quer ter de passar por isso. 

O Provedor do Lisboeta é um vigilante dos hábitos e manias dos alfacinhas e de todos aqueles que se comportam como nabos e repolhos nesta cidade. Se está indignado com alguma coisa e quer ver esse assunto abordado com isenção e rigor, escreva ao provedor: provedor@timeout.com.

+ Uma carta aberta à pessoa que buzina assim que o sinal fica verde

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