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É uma injustiça que o corvo figure no brasão da cidade. Se Lisboa quer realmente ser “mui nobre e sempre leal”, como consta na sua heráldica, deve substituir o corvo pelo vertebrado ovíparo mais popular da capital: o pombo.
Pode não ser o bicho mais nobre, mas a sua lealdade não deve ser posta em causa. As praças, os candeeiros e as estátuas da cidade estão abundantemente povoadas por estes bichos, como se os CTT do Ar tivessem sido privatizados e todos os pombos-correio estivessem desempregados, ociosos, à espera de uma terceira guerra mundial e um apocalipse das telecomunicações para voltarem a ser úteis.
São cada vez menos os lisboetas que levam pedaços de pão velho para o jardim e alimentam estes amigos voadores. Mas vamos parar um momento para pensar: e se um dia eles se juntam todos e decidem virar-se contra nós? a) já todos vimos o Os Pássaros, de Hitchcock, b) ninguém sabe ao certo os efeitos secundários do milho contraceptivo que lhes andamos a dar.
Há dois outros pormenores que nos fazem temer os pombos: alguém alguma vez viu um pombo bebé? Alguém alguma vez viu um ninho de pombo? Adiante.
O pombo, essa ratazana alada, a barata do ar, não é um bicharoco nobre. Apenas a sua versão de gala, a pomba branca, parece colher algum entusiasmo junto do clero e de alguma nobreza. É o símbolo da paz, enquanto o pombo cinzento é o símbolo de “por que é que há uma data de animais a mandar abaixo as loiças e os restos de comida naquela esplanada?”.
Os pombos são os abutres da pastelaria semi-industrial portuguesa, lambuzando-se com as carcaças de bolos e, enfim, carcaças com manteiga. O Provedor quer assinalar aqui o seu apreço a todas as criaturas, aladas e terrestres, que vagueiam pelas superfícies e aerofícies da cidade.
O Provedor do Lisboeta é um vigilante dos hábitos e manias dos alfacinhas e de todos aqueles que se comportam como nabos e repolhos nesta cidade. Se está arreliado com alguma coisa e quer ver esse assunto abordado com isenção e rigor, escreva ao provedor: provedor@timeout.com
+ Uma carta aberta ao cagalhão no passeio
+ Uma carta aberta ao peão que se passeia descontraidamente na ciclovia