[title]
Estão a ver aquela cena do filme 2001: Odisseia no Espaço em que os astronautas rodeiam um misterioso monólito sem fazer ideia do que é aquilo? Pois bem, a mesma expressão de incredulidade e fascínio pode ser observada a qualquer hora perto de uma máquina de venda automática de bilhetes para o metro.
Os estrangeiros parecem fascinados com aquela estrutura de metal, experimentando vários botões como uma criança que acaba de receber um novo brinquedo.
- E esta ranhura, para que serve?
- O que é que acontece se eu carregar neste botão aqui?
Já os lisboetas enfrentam-nas com uma mistura de frustração e desdém: repetindo os gestos da compra de bilhete de forma mecânica e repetitiva, numa coreografia de fúria.
Nos últimos anos, o aumento do turismo fez com que as filas crescessem. É comovente ver, por exemplo, o alívio de um casal de alemães que consegue finalmente comprar um Viva Viagem. Ou assistir às dinâmicas de entreajuda que se criam: os grupos de turistas que pedem aos que conseguiram decifrar a máquina para ficarem do seu lado enquanto eles próprios embarcam nessa viagem ao desconhecido. Uma odisseia que só termina quando chegamos, finalmente ao ecrã do NIF.
Aí nós sabemos precisamente o que fazer. Mas um turista vê-se perante o que parece ser o ecrã final de um elaborado enigma. O teste derradeiro. Felizmente, passados uns segundos o ecrã desaparece e o bilhete cai sorrateiramente. O utente do metro pega triunfante nesse pedaço de cartão verde e vai à sua vida. E a sua vida consiste, por regra, numa espera de 10 minutos pela próxima carruagem.
O Provedor do Lisboeta é um vigilante dos hábitos e manias dos alfacinhas e de todos aqueles que se comportam como nabos e repolhos nesta cidade. Se está arreliado com alguma coisa e quer ver esse assunto abordado com isenção e rigor, escreva ao provedor: provedor@timeout.com