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O Iluminismo produziu mudanças notáveis na cidade de Lisboa: o Marquês de Pombal, um déspota esclarecido, recuperou a cidade a régua e esquadro. Séculos mais tarde, outro movimento operou mudanças significativas na paisagem da capital – o aluminismo.
O aluminismo rege-se por um princípio básico: uma varanda, qualquer varanda, pode ser uma divisão extra. O lugar ideal para pôr a máquina de lavar, o equipamento de ginástica comprado nas televendas e aquelas caixas cheias de coisas que temos pena de deitar fora.
É neste ambiente de fossanguice que o aluminismo prospera. E eis que surge a marquise.
Fechar a varanda é abrir um mundo de possibilidades. Há centenas de famílias que preferem ter uma salinha envidraçada para estender a roupa nos dias de chuva, em vez de uma varanda onde tomar o pequeno-almoço nos dias de sol. O fenómeno parece reflectir as prioridades dos cidadãos. Ou então faz tudo parte de um rebuscado plano para candidatar a Caixilharia Lisboeta a Património Imaterial da Humanidade.
A marquise não é um toldo, não é um chapéu de sol. É uma vitória do cidadão comum sobre a arquitectura e o planeamento. É fechar uma casa sobre si própria, conquistando preciosos metros quadrados a esses grandes vilões que são o espaço público, o ar livre e os ninhos de andorinhas.
A varanda, essa divisão descapotável de gente pouco ambiciosa, lá vai resistindo. Tal como o alpendre e o terraço. Se não fazemos delas uma Espécie Protegida, o aluminismo acabará por transformar todas as áreas exteriores em versões mais compridas de cabines telefónicas.
O Provedor do Lisboeta é um vigilante dos hábitos e manias dos alfacinhas e de todos aqueles que se comportam como nabos e repolhos nesta cidade. Se está arreliado com alguma coisa e quer ver esse assunto abordado com isenção e rigor, escreva ao provedor: provedor@timeout.com
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