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Uma carta aberta às primeiras chuvas de Outono (e às sarjetas de Lisboa)

Escrito por
O Provedor
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Sempre que chove em Lisboa é como se chovesse pela primeira vez. Os habitantes da cidade ficam pasmados – “Mas que substância é esta que está a verter do céu!?” – o trânsito torna-se caótico e todas as infra-estruturas da cidade são apanhadas de surpresa. “Que líquido é este que ousa perturbar a tranquilidade da nossa sofisticada urbe? Não estávamos a contar com isto.”

A prova mais evidente da falta de preparação ou total desconhecimento dos padrões meteorológicos são as sarjetas. As primeiras chuvas de Outono parecem servir para nos lembrar que elas existem e que cumprem uma função – mas apenas a cumprem se não estiverem entupidas. Como costumam estar.

Será que as autoridades competentes passam os meses quentes do ano intrigadas com aqueles buracos na berma da estrada? “O que é que são aquelas grelhas de metal e por que é que ainda não as vendemos para construir um hotel?”

Uma sarjeta entupida tem o poder de transformar uma estrada num riacho, mas várias sarjetas unidas podem fazer de Lisboa a Nova Atlântida. Pracetas transformam-se em lagos e escadarias íngremes tornam-se pequenos parques aquáticos.

As primeiras chuvas de Outono têm o dom de nos fazer acordar para a vida. Mas se calhar era melhor programar o despertador da vida para uns minutos antes. Sempre se evitavam problemas com a humidade.

O Provedor do Lisboeta é um vigilante dos hábitos e manias dos alfacinhas e de todos aqueles que se comportam como nabos e repolhos nesta cidade. Se está indignado com alguma coisa e quer ver esse assunto abordado com isenção e rigor, escreva ao provedor: provedor@timeout.com.

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