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Se há coisa que podemos esperar de Francisco Martins, ou chef Kiko, como é mais conhecido, são ideias fora das caixa. Concretizou-as, por exemplo, n’ O Talho, que é simultaneamente loja e restaurante; na Cevicheria, que junta os sabores peruanos aos portugueses; e agora no Las Dos Manos, que acaba de abrir no Príncipe Real, junto ao Miradouro de São Pedro de Alcântara. “O Ctrl+C/ Ctrl+V nunca fez parte do meu ADN”, garante o chef, que nos recebe. “Dá-me gozo correr riscos”.
Arrojado, mas fiel à sua filosofia de viajante do mundo, o que Kiko faz no seu novo restaurante é juntar as cozinhas do México e do Japão, numa simbiose que respeita os clássicos mexicanos, mas que lhe acrescenta apontamentos e técnicas japonesas. “Sabia que queria fazer um mexicano high level, mas a meio dos testes achei que era engraçado dar uma tonalidade a isto, umas cores japonesas. A ideia, à partida, parecia-me absurda”, conta. “Mas há uma cozinha muito próxima ali que teve influência japonesa, que é a cozinha peruana, e que é uma cozinha que nós já trabalhamos muito na Cevicheria, então comecei a perceber que se calhar não era assim tão estranho ter aqui um Japão dentro”, acrescenta.
E não é preciso chegar a comida para nos apercebermos desta fusão – a decoração dá conta disso. O espaço, bonito e com um ambiente descontraído, é ornamentado com cactos, mas também barris onde antes se transportava o saké, e nas paredes de azulejo azul sobressaem as figuras da pintora mexicana Frida Kahlo e de uma gueixa japonesa. Nele cabe uma pequena estação de bar, de onde saem cocktails como o sakurita (13,60€), uma espécie de margarita, com tequila e triple sec, mas aqui com yuzu, um citrino asiático. As refeições fazem-se à mesa ou na barra.
A barra, com 16 lugares, é a melhor escolha para quem quer ver os cozinheiros a finalizarem os pratos, e no dia em que a Time Out almoçou no Las Dos Manos, era o chef Kiko quem lá estava. À boa maneira mexicana, começou por nos servir uns totopos de milho, acompanhados com edamame, guacamole, e um molho de queijo fundido (3,75€). Depois do couvert, foi a vez do fresco aguachile, “o primo do ceviche peruano”, com sashimi de lírio e gamba do Algarve (22,40€), brilhar. Seguimos para as tostadas e para os tacos, preparados com tortilhas caseiras, moldadas no momento. A tostada de barriga de atum (14,30€), uma parte muito nobre do peixe, é gulosa; e o clássico taco al pastor, de secretos de porco preto e ananás (7,30€) é um dos favoritos até ao momento.
Ainda houve espaço para um tonkatsu de barriga de leitão e arroz yakimeshi (29,80€), um dos pratos de carne, e para a sobremesa: um churro com doce de leite, milho e granizado de lima e tequila (8,60€).
Além da carta, o Las Dos Manos, à semelhança de outros restaurantes do chef Kiko, também tem um menu degustação (66,70€), que inclui cinco pratos e uma sobremesa, para os que desejarem uma experiência mais completa. “Os clientes que entraram aqui aceitaram o conceito melhor do que eu, na minha cabeça, a primeira vez”, confessa o chef. Satisfeito com esta nova aventura, Kiko Martins já está de olhos postos no futuro. “Há sempre planos para o futuro. No dia em que deixar de ter a ambição de fazer projectos diferentes vou perder muita alegria na vida. Não é de ter mais dez O Talho e dez Cevicharias. A minha ambição é sempre abrir conceitos únicos e irreplicáveis”, remata.
Rua de São Pedro de Alcântara 59 (Príncipe Real). Seg-Dom 12.00-23.30
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