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Renato de Albuquerque estava na casa dos 30 quando comprou a sua primeira peça de cerâmica chinesa num leilão. O engenheiro civil brasileiro não era especialista, herdeiro ou aspirante a coleccionador, mas a curiosidade transformou-se em interesse e este em paixão – e hoje, com 96 anos, tem um dos maiores acervos do mundo de porcelana chinesa de exportação, dinastias Ming e Quing e porcelana imperial. Essa primeira peça, adquirida de forma completamente amadora, conta entre risos a neta Mariana Teixeira de Carvalho enquanto conduz um grupo de jornalistas pelas obras da Albuquerque Foundation, na casa de férias da família no Linhó (Sintra), estava rachada de cima a baixo no verso – mas o episódio não arrefeceu o fascínio do construtor pela arte milenar da cerâmica, em particular dos séculos XV a XVIII.
Em Fevereiro de 2025, a colecção privada de Renato Albuquerque, reunida ao longo de 60 anos, e que conta com mais de 2600 peças, passa a poder ser vista por todos, num espaço que se quer dedicar totalmente à cerâmica e à história das importantes relações comerciais entre o Oriente e o Ocidente. A obra da herdade em Sintra, assinada pelo atelier brasileiro Bernardes Aquitetura, corre a todo o gás e divide-se em quatro partes. O edifício-mãe – onde ficarão o restaurante, a biblioteca, a loja e três suites para residências artísticas – e os jardins estão a ser renovados; enquanto a meia-cave, que vai acolher a colecção permanente no fundo de uma escadaria em caracol, sob uma enorme pala, e o edifício dedicado à arte moderna, onde irão rodar exposições temporárias dedicadas à cerâmica contemporânea, foram construídos do zero.
"A porcelana é um objecto difícil de mostrar e o projecto foi pensado para isso", explica Mariana, antiga advogada de direitos humanos e agora presidente do Conselho de Administração da Albuquerque Foundation, no escuro da sala ainda vazia. "Este espaço traz um pouco da luz exterior do jardim, que mudará ao longo do ano, mas o objectivo nunca foi criar um cubo de vidro." Também é nesta zona inferior que vão morar várias salas de depósito para guardar a totalidade das peças (só 25% da colecção estará exposta, não cabe tudo), algumas com paredes de vidro, outras sem nenhuma luz natural, para peças que precisam de condições de manutenção e restauro especiais.
Já no novo edifício para a arte moderna, na zona mais baixa do jardim, os visitantes vão poder conhecer três a quatro artistas contemporâneos por ano. "Vivos ou históricos, ceramistas tradicionais ou não – aqui teremos exposições individuais, um contraponto à falta de autoria da colecção permanente, que é na generalidade anónima", continua a neta do coleccionador, cuja relação com Portugal vem do tempo em que esteve envolvido na construção da Quinta Patiño ou da Quinta da Beloura.
O director artístico será o crítico e curador italiano Jacopo Crivelli Visconti e a mostra inaugural, prevista para Fevereiro, será dedicada à obra do artista norte-americano Theaster Gates, que se considera, acima de tudo, "um oleiro".
Em família
As exposições permanente e temporárias e o projecto de residências, para artistas, académicos, decoradores ou estudantes, não são as únicas apostas da fundação para promover o debate e a reflexão sobre o significado artístico, cultural e histórico da cerâmica. O projecto educativo quer chamar as famílias ao Linhó com programas especiais, que podem ir de visitas, palestras e workshops a piqueniques no jardim, onde poderá haver um parque de esculturas e espectáculos.
Mariana Albuquerque adianta ainda que está em negociações com a Câmara Municipal de Sintra para haver um dia por semana de entrada livre para estudantes.
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