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Em 2016, a animação da Walt Disney ainda era capaz de produzir filmes de longa-metragem que tinham sucesso nas bilheteiras e eram bem recebidos pela crítica. Foi o caso de Vaiana (Moana, no original), realizado por dois dos mais consagrados nomes do estúdio, John Musker e Ron Clements, responsáveis por clássicos como A Pequena Sereia, Aladdin ou Hércules. O filme incluía-se numa nova filosofia de produção animada da Disney, que pretendia privilegiar personagens e histórias associadas a minorias étnicas, iniciada em 2009 com a produção anterior, A Princesa e o Sapo (também assinada por Musker e Clements, e recorrendo apenas a processos técnicos clássicos).
Primeira animação da dupla de realizadores feita inteiramente em computador, Vaiana passa-se na Polinésia com uma história que se inspira na mitologia local e segue as aventuras da jovem heroína do título (que tem a voz de Auli’i Cravalho, de ascendência portuguesa), a filha do chefe de uma aldeia costeira, num enredo com uma forte dimensão fantástica e em que Dwayne Johnson fala pelo parceiro de peripécias de Vaiana, o refilão semideus Maui. Inventiva, divertida, movimentada e exótica à maneira da Disney, e com uma agradável componente musical, a fita atingiu os 500 milhões de dólares de receitas nos EUA, repetindo os excelentes resultados de animações anteriores como Frozen ou Zootrópolis.
Oito anos depois de Vaiana ter brilhado por toda a parte, a Walt Disney encontra-se num dos piores períodos criativos da sua história, tendo coleccionado uma série de fracassos, com a excepção de Frozen 2 (2019). Foi o caso de Raya e o Último Dragão (2021), Encanto (2021), Estranho Mundo (2022) e Wish: O Poder dos Desejos (2023), em que a mediocridade das histórias é acompanhada por uma profunda falta de inspiração em termos visuais e estéticos. Para tornar o panorama ainda mais negro, também a sua subsidiária Pixar passou ao mesmo tempo por tempos de vacas magras criativa e comercialmente. Que poderão ter chegado ao fim com o colossal sucesso de Divertida Mente 2, a caminho de ser o filme mais lucrativo de 2024 nos EUA.
Tal como a Pixar recorreu a uma continuação de um filme muito popular para tentar contrariar a maré negativa dos últimos anos (e conseguiu), a Disney parece ter-lhe seguido o exemplo com a sua nova animação, Vaiana 2 (estreia-se esta semana) em que aposta num regresso à Polinésia em que foi tão feliz há quase dez anos, em vez de procurar uma história original ou recorrer a uma adaptação de material alheio. É significativo que o projecto de dar continuidade a Vaiana através de uma série animada musical intitulada Moana: The Series, destinada à Disney+, tenha sido abandonado para fazer uma continuação para o cinema (um comentador da indústria cinematográfica americana chamou a isto “a estratégia do desespero” da Disney).
Vaiana 2 já não conta com John Musker e Ron Clements ao leme, substituídos por um trio de estreantes: David Derrick Jr., Jason Hand e Dana Ledoux Miller, esta também responsável pelo argumento, em parceria com Jared Bush, que escreveu o primeiro filme. Auli’i Cravalho e Dwayne Johnson voltam a ser as vozes de Vaiana e de Maui, e os autores da banda sonora e das canções de Vaiana também estão de regresso, embora Lin-Manuel Miranda não participe nelas desta vez. A história passa-se três anos após a da primeira fita, envolvendo Vaiana, Maui e outros amigos seus num enredo cheio de referências mitológicas locais, em que vão encontrar velhos e novos inimigos, e que os vai conduzir aos confins dos oceanos.
Resta agora saber se é com Vaiana 2 que a Disney e a sua animação vão conhecer tempos mais risonhos e conseguir acabar com oito anos de sucessivas decepções, ou se a travessia do deserto vai continuar. Mesmo com um filme passado em pleno Oceano Pacífico.
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