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Partilhar conta é uma prática comum entre assinantes de serviços de streaming. Segundo um estudo divulgado em Outubro pela Magid, empresa norte-americana especializada em segurança, cerca de 46% das pessoas que pagam por conteúdos vídeo partilham pelo menos uma conta de streaming com alguém de fora do seu círculo doméstico. As perdas para as empresas são avultadas: 7,6 mil milhões de euros é o valor estimado só para 2019. Mas nada que tire o sono aos seus gestores. O próprio CEO da Netflix, Reed Hastings, falou abertamente sobre esta prática, há alguns anos, classificando-a como uma inevitabilidade benigna. Esta semana, no entanto, soube-se que a Netflix está a testar um método que a dificulta. Será que a “guerra” da concorrência vai pôr fim a uma era? Nem tanto.
A GammaWire, publicação dedicada ao noticiário de tecnologia, informou na quarta-feira que alguns utilizadores na Netflix, ao entrar no serviço, estavam a ser confrontados com um pedido de autenticação da conta. Para isso, podiam requerer que lhes fosse enviada uma mensagem de texto ou um e-mail, introduzindo depois o código recebido por essas vias. Como o destino dessas mensagens de verificação é o telemóvel ou endereço de correio electrónico do assinante, isso impediria que outros tivessem acesso à conta. Um porta-voz confirmou à notícia ao The Verge, dizendo tratar-se de um teste: “Este teste é feito para ajudar a garantir que quem usa as contas Netflix está autorizado a fazê-lo”. O que não é exactamente o mesmo do que está escrito neste passo de verificação: “Se não vive com o dono desta conta, precisa de ter uma conta própria para continuar a ver [filmes e séries]”.
Partilhar a conta só com quem vive na mesma casa. É um dos termos e condições da Netflix. Embora, voltando às declarações de 2016 de Reed Hastings, o co-fundador e responsável máximo pela empresa admitia então que a partilha da conta se pudesse fazer entre os elementos de um casal, ou com os filhos, que podem não viver fisicamente no mesmo sítio – no caso de jovens universitários, por exemplo. Portanto, casa é entendida como família. Assim como estar “autorizado” a usar uma conta é uma formulação que vai um pouco mais longe. Não é difícil imaginar um dos mais de 203,7 milhões de assinantes do serviço a reencaminhar os códigos de autenticação aos amigos. Para quê isto, então? Por questões de segurança.
É certo que a Netflix receberá de braços abertos cada novo subscritor de entre os que, sendo confrontados com este passo de autenticação, se decidam a assinar eles próprios o serviço. Mas não é esta a sua estratégia para fazer crescer o universo de pagantes (e continuar a manter a concorrência ao largo, em particular o Disney+, que está num crescimento acelerado). A estratégia é o conteúdo, é o número cada vez maior de grandes nomes de Hollywood associados aos seus filmes e séries, são as produções internacionais, feitas mais para seduzir os consumidores dos países de origem do que para diversificar o catálogo. Esta nova ferramenta de verificação visa sobretudo quem acede de forma fraudulenta e sem o conhecimento de quem paga a mensalidade – o que pode acontecer graças a duas práticas vivamente desaconselhadas na Internet: a partilha de passwords (inevitável nesta prática) e a utilização das mesmas credenciais para diferentes sites ou contas. Ou seja, se de facto a autenticação em dois passos vier a ser implementada após os testes, não é caso para alarme. Pelo contrário.
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