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Estávamos há muito tempo – demasiado – à espera. Parece que é desta, no entanto. Trinta anos depois de ter escrito as primeiras canções de Bright Eyes, Conor Oberst e companhia estreiam-se ao vivo em Portugal. A estreia está agendada para sábado, 12 de Julho, o último dia desta edição do NOS Alive, no Passeio Marítimo de Algés.
Apesar de ter lançado um novo disco em Setembro do ano passado, o projecto norte-americano não vai ficar preso ao presente. Five Dice, All Threes pode estar fresco na memória, ser a razão desta visita e até o disco mais representado no alinhamento, todavia as suas canções não deixam de ser uma fracção daquelas que estes filhos de Omaha andam a mostrar ao vivo. O resto, a maior parte, tem mais de 20 anos.
Faz sentido. Conor Oberst editou Water, a primeira cassete em nome próprio, em 1993. Tinha apenas 13 anos. A gravação foi financiada pelo seu irmão, Justin, e editada com o selo da então chamada Lumberjack Records, hoje conhecida como Saddle Creek e co-fundada por ele e pelo músico e produtor Mike Mogis – que acabaria por juntar-se ao cantautor nos Bright Eyes e continua ao seu lado até hoje.
Seguiram-se mais duas edições lo-fi com roupagem folk e as emoções à flor da pele, Here's To Special Treatment (1994) e The Soundtrack To My Movie (1995), a solo. Bem como a formação de uma série de bandas: The Faint, de onde sairia pouco depois; os pioneiro emo-indie Commander Venus, em que militava também um jovem Tim Kasher, antes da fundação dos Cursive, outro seminal grupo de Omaha; The Magnetas, com uma existência fugaz; e os Park Ave. que lançaram só um disco, When Jamie Went to London ... We Broke Up, quando já estavam separados, em 1999.
A música em carne viva e os olhos húmidos
Ao mesmo tempo que estes conjuntos se juntavam e separavam, Conor continuou a escrever e a registar canções sozinho, com uma fúria de viver adolescente. Reuniu-as em A Collection of Songs Written and Recorded 1995–1997, de 1998, o primeiro disco que assinou como Bright Eyes, em vez de se apresentar em nome próprio.
E, antes de o ano terminar, estava nas lojas o primeiro álbum concebido de raiz para Bright Eyes, Letting Off the Happiness, um retrato honesto e desarmante dos sítios mais podres e desolados onde a depressão, com que quase toda a vida ele se debateu, o levou naqueles meses frios. Produzido por Mike Mogis, que se tornou uma espécie de segundo membro, e gravado entre a sua Omaha, no Nebraska, e Athens, no estado da Geórgia, com membros do colectivo Elephant 6, é um tratado lo-fi adolescente, a meio caminho entre o emo e a canção alternativa americana.
Na actual digressão, a banda tem andado a tocar uma ou duas canções destes discos. Mais algumas dos EPs que lançou nos anos seguintes. E outra de Fevers and Mirrors (2000), porventura a sua obra-prima. Ou será Lifted or The Story Is in the Soil, Keep Your Ear to the Ground, de 2002, a obra-prima? O alinhamento não o esquece.
Os discos-gémeos I'm Wide Awake, It's Morning e Digital Ash in a Digital Urn, que saíram no mesmo dia, a 25 de Janeiro de 2025, também não ficaram esquecidos. Nem podiam. Afinal, foram eles que o colocaram definitivamente nas boas graças da imprensa musical – foi capa de revistas internacionais e gabado pelos plumitivos portugueses. Toca sempre várias canções do primeiro, documento country-folk dylanesco e o mais acarinhado pela crítica; e alguma do segundo, mais arrojado, meio indie, meio electropop e, entre os dois de 2005, o favorito deste que vos escreve.
O cantautor continuou concentrado neste projecto. Porém, após a recepção tépida de Cassadaga, em 2007, voltou a editar em nome próprio, e um ano depois do lançamento de The People's Key, em 2011, os Bright Eyes entraram em hibernação.
A partir daí, Conor Oberst voltou a tocar sozinho, e com The Mystic Valley Band, passando pelo Vodafone Paredes de Coura em 2014. Também ressuscitou os Desaparecidos, a sua banda pós-hardcore no início dos anos 2000; e juntou-se a Phoebe Bridgers no Better Oblivion Community Center, cujo álbum saiu em 2019.
Finalmente, em Janeiro de 2020, os Bright Eyes reuniram-se. O primeiro registo original em quase dez anos, Down in the Weeds, Where the World Once Was, data de 2020. Não só foi um regresso à forma, como um bálsamo para pelo menos um coração despedaçado pela pandemia. Seguiu-se um longo trabalho de reedição dos discos anteriores e regravação de alguns temas, com novas roupagens, que foi concluído pouco antes da edição de Five Dice, All Threes.
A 12 Julho de 2025, no NOS Alive, vamos ouvir tudo isto. Trinta anos de histórias, de corações partidos e de abuso de substâncias, que são combustível de uma grande depressão. O cantautor está há três décadas a documentar aquilo por que passa e muitos passam com ele. Durante anos, vimo-nos reflectidos nas suas canções febris e cantámo-las no mesmo tom, sozinhos, em quartos afastados. Continuamos a rever-nos nelas, mas dentro de seis meses não vamos estar sós. Pela primeira vez.
O cartaz do NOS Alive continua a crescer
Antes, há muitos outros concertos para ver. O NOS Alive começa a 10 de Julho, com Olivia Rodrigo no topo do cartaz e, (muito) abaixo dela, artistas como Artemas, Barry Can't Swim, Benson Boone, Glass Animals, Mark Ambor e Parov Stelar. No segundo dia, 11, ainda sem um nome que se destaque, apresentam-se FINNEAS, girl in red, Mother Mother, Sam Fender, Sammy Virji, St. Vincent, The Backseat Lovers e The Teskey Brothers. Por fim, a 12, além de Bright Eyes, estão confirmados Amyl and the Sniffers, CMAT, Dead Poet Society, Foster The People, Future Islands e Kings of Leon.
Os bilhetes para o festival, que regressa ao Passeio Marítimo de Algés em Julho, continuam à venda online e nos locais habituais. Os ingressos diários estão avaliados em 84€, enquanto os passes custam 168€ (dois dias) ou 199€ (o festival todo).
Passeio Marítimo de Algés (Oeiras). 10-12 Jul (Qui-Sáb). 84€-199€
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