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Muitas vezes, o que se passa na Amadora fica na Amadora. Território marcado por grandes desigualdades sociais, com bairros por regularizar há décadas, a maior densidade populacional do país (171 mil habitantes em 24 quilómetros quadrados) e o rótulo persistente de dormitório de Lisboa, a cidade de seis freguesias dificilmente se distancia do estigma da insegurança e dos rendimentos baixos (na Grande Lisboa, foi o município que apresentou os menores valores, com uma mediana de 11.200 euros anuais, registados pelo Instituto Nacional de Estatística em 2022). Com a saída de Carla Tavares, que foi presidente da Câmara durante 11 anos, para o Parlamento Europeu, Vítor Ferreira tomou posse a 15 de Julho. E aproveita o impulso já a pensar nas próximas eleições autárquicas, agendadas para 2025. Na Câmara Municipal da Amadora desde 2001 e com um longo caminho trilhado pelo seu partido, o PS (que lidera o município desde 1997), geriu recentemente pelouros como a Administração Urbanística ou a Mobilidade. A Time Out foi conhecer o arquitecto amadorense – que podia ter sido piloto de aviões – e os seus planos para a cidade. “Este ano vai ser decisivo”, começa por dizer.
Que relação tem com a Amadora?
É uma cidade que conheço muito bem. Cresci, estudei e vivo na Amadora. Nasci em 1972, em casa, ainda era concelho de Oeiras, freguesia da Amadora, lugar da Venteira. A minha mãe já não teve tempo de ir para a Maternidade Alfredo da Costa, que era para onde iam todos, e em frente à nossa casa morava uma parteira, que foi lá resolver o “problema”. Até ao 9.º ano, estudei na Amadora, mas como eu queria Artes Visuais, porque queria seguir Arquitectura, e aqui não havia, fui para o liceu de Queluz [concelho de Sintra]. Nem um quilómetro era de casa. Atravessava a ponte romana e estava logo lá.
Sempre quis ser arquitecto?
Quis ser piloto de aviões e arquitecto. É daquelas coisas de criança…
Arquitecto para projectar edifícios ou já a pensar no espaço público?
Em Arquitectura pensa-se logo mais nessa componente dos edifícios, mas tínhamos cadeiras de desenho urbanístico e planeamento urbano que eram muito fortes. Eu terminei o curso em 98, depois fiz um estágio curricular na Câmara Municipal de Lisboa, no Departamento de Urbanismo, e fiquei logo com o bichinho da actividade autárquica. Fiz o relatório de estágio sobre o Bairro da Encarnação [nos Olivais], e o bichinho manteve-se. Depois, em 99, fiz um estágio profissional na Câmara Municipal de Amadora. Fiquei ligado aos loteamentos urbanos. Em 2001, entrei para a Câmara; em 2011, fui para Chefe da Divisão de Intervenção Urbana...
E em 2017 fez parte da lista de Carla Tavares.
Aceitei logo. Eu estava aí sentado onde você está e ela aqui, deste lado. Ela ainda me perguntou se não queria pensar, ponderar, falar com a família… Mas para mim era uma honra.
E como é agora assumir o papel de presidente, de repente e a praticamente um ano das autárquicas?
Ninguém previa isto, nem a própria presidente. A ideia era seguir até ao fim e em 2025 apresentar uma lista que eu encabeçaria. Agora isto permite-me ganhar um bocadinho mais de calo em relação às funções de presidente. Enquanto somos vereadores temos sempre alguém lá em cima, que nos valida. Agora, a rede sou eu. Conheço bem o território, mas as pessoas não me conhecem. Vou apostar numa política de proximidade, o meu percurso sempre foi esse. Acho que este ano vai ser muito útil para isso.
Começa-se por onde?
A Amadora é uma cidade com vários desafios, muita gente a utilizar o espaço público, muita gente com necessidades relacionadas quer com o município quer com outras questões, como uma esquadra da PSP. A administração central não tem investido muito nas questões de segurança, fruto de vários governos. Nós, por exemplo, lançámos agora mão a dois projectos: vamos realizar obras, espero que até ao final deste mandato, em duas esquadras importantíssimas da cidade, a da Mina e a da Reboleira, que há anos não têm qualquer intervenção. Há que dignificar as condições de trabalho.
Mas depois há a falta de efectivos da polícia…
Sim. Mas, salvo erro, hoje [a entrevista foi realizada a 22 de Julho] vamos ter um reforço de dez efectivos no nosso território. Depois, temos um procedimento para adquirir mais duas viaturas. Temos investido muito na segurança, nomeadamente na videoprotecção. E estamos já a trabalhar numa terceira fase [59 câmaras], na qual vamos investir nem que seja mais um milhão ou um milhão e tal de euros, como fizemos na segunda fase [prevê-se a cobertura do concelho por um total de 200 câmaras].
[A videovigilância] não é um carimbo. É um alerta e funciona.
Colocar câmaras de vigilância não é dizer, automaticamente, que este território é perigoso?
Claro que não. Temos outros municípios que até nos têm perguntado como fazemos isto, como promovemos estes projectos, porque eles dão resposta às necessidades. E não é um carimbo. No fundo, acaba por ser um alerta e funciona. Se os resultados forem positivos, vamos fazê-lo sempre. Por exemplo, há dois ou três anos, na Quinta Grande, em Alfragide, houve um grande surto de roubos a veículos estacionados. E isso estava a acontecer, se calhar, porque era um lugar onde ainda não havia câmaras. A partir do momento em que instalarmos as câmaras, com certeza resultará.
Há um grande estigma associado ao concelho, e alguma comunicação social contribui para isso, certamente. Se pesquisarmos pela Amadora no Google, 90% dos resultados são sobre criminalidade e insegurança.
Os últimos dados do RASI [Relatório Anual de Segurança Interna] não dizem isso, dizem que a criminalidade grave tem descido brutalmente. Está a descer cerca de 50 a 60% todos os anos [a criminalidade grave e violenta registada terá diminuído 39,7% entre 2022 e 2023, segundo a PSP, e dados do INE referentes a 2022, indicam uma taxa de criminalidade geral de 35,7% na Amadora, contra, por exemplo, 59,2% em Lisboa ou 43,6% no Fundão]. E a aposta nos recursos humanos, na polícia, nos equipamentos como a videoprotecção, também têm dado frutos nestas áreas. Mas depois, sempre que se abre o Google, é isso que aparece, e não é verdade. Estamos sempre a levar por tabela relativamente a esta questão.
Há muitas razões para se falar da Amadora?
Há, muitas razões. A Amadora é uma cidade única. Da Amadora ao centro de Lisboa são 12 minutos de carro, temos 121 nacionalidades no concelho, somos uma cidade de multiculturalidade e de muitas misturas. Eu, por exemplo, sou filho de dois beirões, que criaram aqui a história da vida deles. Como os meus pais vieram da Beira Alta, também vieram muitas pessoas do Minho, do Alentejo, do Algarve, os cabo-verdianos, moçambicanos. É uma cidade acolhedora, coesa, de braços abertos, em que todos os que queiram construir o seu sonho de vida podem fazê-lo aqui.
Estamos a lançar um regulamento para arrendamento acessível, muito direccionado para os jovens.
Com a subida dos preços da habitação em Lisboa, muitas pessoas deslocaram-se para as periferias e a especulação chegou à Amadora. A maior fatia do orçamento municipal é, aliás, para a habitação. Será a grande prioridade nos próximos anos?
Sim, sem dúvida [21,5% dos investimentos orçamentados para 2024 são na área da habitação]. Temos seis candidaturas ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) na área da habitação. Nós, município da Amadora, somos proprietários, ou seja, temos um parque habitacional de cerca de 2200 fogos, fruto do investimento feito desde 1997, tendo em vista a resolução dos 36 bairros degradados do território. Todos eles estão ocupados e, portanto, o nosso desígnio é investir na componente de arrendamento acessível e noutra específica para idosos, como já temos no Bairro do Zambujal o Z3, no âmbito do realojamento. Neste momento, temos candidaturas aprovadas para [reabilitar] dois bairros, num total de 8 milhões de euros: o Casal do Silva, junto à [estação de metro] Amadora Este, na Quinta do Estado; e o Casal da Boba, na Mina de Água. Depois, temos um investimento, PRR, de cerca de 14 milhões de euros para [reabilitar] o bairro do Casal da Mira, junto ao [centro comercial] UBBO [na vertente Norte], que são 760 fogos. Temos, ainda, sete edifícios dispersos no bairro da Brandoa, também objecto da operação de realojamento, em que vamos investir cerca de 1,8 milhões. Também lançámos agora o programa Reabilitar para Arrendar, em que para um T0, por exemplo, apoiamos em 6000 euros a reabilitação do interior do fogo, sendo ele privado. Na candidatura recebem à cabeça 60% e no final os restantes 40%, se provarem que o contrato de arrendamento foi efectivamente com aquela pessoa, até ao fim de 36 meses. E estamos a lançar também um regulamento para arrendamento acessível, como Lisboa já faz, muito direccionado para os jovens. Estamos a fazer esse caminho.
E também está nos planos construir.
Há a construção de 48 fogos, tipologia T1, PRR, para arrendamento acessível, no Casal da Mira. Paralelamente, temos estado a trabalhar com o IHRU [Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana] no sentido da construção de 490 fogos em cerca de 10 hectares da Quinta do Estado [terreno que tem uma área total de 240 hectares, na zona da Falagueira-Venda Nova].
Construir mais num território que já é o mais densamente povoado do país não é uma má opção?
Não, claro que não. O problema da habitação é uma prioridade, para as próximas duas décadas, em muitos países da Europa, incluindo Portugal. Tem de haver mais resposta para que os preços também baixem. Agora, infelizmente nós também não temos muito território e o território não serve só para habitação. Por exemplo, na Quinta do Estado, abaixo da Estrada dos Salgados, numa colaboração da Câmara da Amadora com a Consest [empresa participada pelo Estado], vai crescer um novo centro empresarial para as áreas tecnológicas e uma nova residência de estudantes. E depois também há promoção privada [outro grande projecto imobiliário está projectado entre a Venda Nova e a Damaia, junto ao nó da CRIL], cujos terrenos expectantes têm sido alvo, há décadas, de vários projectos não concretizados]...
E as áreas verdes, que grau de prioridade têm para a Amadora?
As questões ambientais, para nós, são prementes. Aliás, numa parceria com a Câmara Municipal de Sintra, vamos levar adiante a renaturalização da ribeira de Carenque. Temos de voltar a usufruir das linhas de água. Mas, neste momento, nós temos cerca de 10 metros quadrados de espaço verde por cada habitante da cidade da Amadora. No total, são mais de 200 milhões de metros quadrados verdes no espaço público. Desde o Parque do Zambujal ao Parque da Ilha Mágica do Lido, Parque do Neudel, Parque Central, das Artes e do Desporto, Delfim Guimarães, da Fantasia, Aventura…
Quanto à arborização das ruas, praças, do restante espaço público, qual é o compromisso da Câmara?
Temos um procedimento desde 2013, de combate às alterações climáticas, para o plano de arborização da nossa cidade. Investimos cerca de 100 mil euros por ano na plantação de árvores e vamos continuar a fazê-lo. Sempre que a Câmara faz uma intervenção no espaço público, coloca árvores.
Mas na última inauguração, da requalificação do Largo Gandra Nunes, a grande queixa foi precisamente pelo facto de existir uma única árvore.
Isso tem uma explicação. No subsolo há um silo automóvel e uma árvore precisa de uma caixa de terra de cerca de um metro a um metro e vinte. Ora, o silo está a cerca de 80 centímetros da primeira laje. É um impedimento técnico. Portanto, criámos ali um quiosque, que tem uma pala de sombreamento, uma zona de estar e um percurso. É óbvio que um espaço daqueles precisaria de árvores, mas, do ponto de vista técnico, não era possível. Agora, a minha pergunta é: é melhor devolver à população um largo onde as pessoas possam estar sentadas, a ler um livro, ou o que existia antes, que era uma praça que não era utilizada? Um dos grandes objectivos que tenho é criar praças de estadia, com sombras, árvores, para as pessoas. Quero trazer as pessoas para o espaço público, e já identificámos, por cada freguesia, dois locais que podem ser devolvidos como praças.
Quais serão as próximas obras nesse sentido?
Posso dizer o que já fizemos: Largo de Cristóvão da Gama, na Damaia de Baixo; Largo Padre Ferreira do Amaral, junto ao Babilónia; o Gandra Nunes… Vamos avançar brevemente, ainda este ano, para a zona do Lido, na Praça Dom João I, que hoje funciona praticamente como uma rotunda oval. E depois haverá outras.
Não fazia sentido a Câmara adquirir o Lido, quando havia outros equipamentos para gerir.
Falando no Lido... Não falta uma grande instituição cultural ao município, um Lido, que a Amadora perdeu?
Eu nasci e cresci lá perto. Conheci muito bem o cinema Lido. Mas tudo tem um momento na sua vida. Assim como teve o seu momento o cinema no Babilónia. Hoje há outro tipo de equipamentos. Devolvemos à cidade o [Cineteatro] D. João V, que é um equipamento fantástico, com o seu foyer antigo. Foi reabilitado, está lá e tem espectáculos de várias naturezas. E, já comigo, fizemos um investimento num equipamento famoso da nossa cidade, que são os Recreios da Amadora, onde há mostras de cinema, dança, teatro… Temos várias respostas. Vamos também iniciar, penso que ainda este ano, uma intervenção no Mercado da Damaia, onde vamos abrigar o Quorum Ballet. O Lido teve o seu tempo e eu também vi lá os meus primeiros filmes, do Charlot ou dos Irmãos Marx. Houve um movimento para adquirir aquele espaço, mas não fazia sentido a Câmara fazê-lo, quando havia outros equipamentos para gerir.
E também para que o edifício fosse considerado de interesse municipal.
Mas o que está referenciado é aquela fachada icónica, que está protegida. Isso vai ficar lá.
Mas vai ser um edifício de habitação, privado.
Mas fica essa memória. Uma exigência já minha foi que se preservasse essa imagem, foi um critério para a aprovação para a viabilização do projecto por parte da Câmara. Atenção que os custos de gestão destes equipamentos são brutais. Quando temos nos Recreios da Amadora e no D. João V respostas às necessidades dos habitantes, comprar mais um espaço para reabilitar, muito similar em termos de áreas, não fazia sentido. Portanto, a iniciativa privada desenvolveu aquilo que achou bem, com o controlo municipal sobre um edifício que foi icónico para a cidade da Amadora.
O que vai acontecer no Mercado da Damaia?
Vai ser mercado e, ao mesmo tempo, vai ter uma área própria para o Quorum Ballet, de acolhimento e de apresentação de espectáculos. Fica muito próximo do D. João V, criando-se ali um triângulo cultural. E este é, aliás, um espaço que também queremos transformar [com obras]. A ideia é que o edifício possa ser devolvido para a praça, que as pessoas possam estar cá fora a ver um espectáculo que está a acontecer lá dentro.
Ainda não falamos de uma questão, que são as situações por resolver em alguns bairros do concelho, como a Cova da Moura, em que os terrenos são de privados. A Câmara disse, já há algum tempo, estar em negociações com os proprietários. Como está esse processo?
Continuamos no processo. A Câmara já fez uma avaliação relativamente aos terrenos e já houve reuniões, ainda com a anterior presidente. É um caminho que está a ser feito. Relativamente aos outros bairros, estamos numa fase final do realojamento da Quinta da Laje e o objectivo é completar o processo até Setembro/Outubro de 2025. Estamos simultaneamente a trabalhar na Estrada Militar da Damaia, que é um pouco mais complexo e tem muitas questões que nos preocupam, como a segurança e a salubridade, que não acontecem noutros bairros. Por exemplo, o Bairro 6 de Maio era completamente indigno, com esgotos a céu aberto e ruas onde as pessoas nem sequer viam o sol. É o que acontece um bocadinho na Estrada Militar, ainda que não tanto como no 6 de Maio. Por isso, sempre que chegamos a acordo com uma família, vamos logo a seguir demolir para criar espaços mais abertos no próprio bairro.
O que está previsto para esses terrenos?
No PDM de 94 está prevista uma ligação rodoviária com um parque, desde a Avenida Dom Carlos I [Reboleira] até cá acima, à Atalaia.
Com a população a aumentar, os serviços existentes conseguirão dar resposta?
Preocupam-me as questões de segurança de que falei há bocado, dos próprios polícias e das esquadras, por isso, vamos investir. Quanto ao hospital, o município de Sintra investiu naquela área [49 milhões de euros na construção do novo hospital, na freguesia de Mem-Martins], o que atenuará de certa forma a pressão aqui no nosso hospital [Fernando Fonseca, conhecido como Amadora-Sintra]. Depois, investimentos na saúde: construímos nos últimos seis anos dois centros de saúde novos, um na Reboleira e um na Damaia, e estamos agora a construir o último que nos falta, aqui na zona da Mina de Água, junto ao bairro do Casal da Boba. Todas as restantes áreas estão servidas por centros de saúde. E ainda vamos fazer obras de reabilitação aqui no centro de saúde na zona central [Venteira].
E as piscinas? De quatro que existem na Amadora, duas estão fechadas.
Sim, há duas questões para resolver, ambas com o Clube de Natação da Amadora [CNA], porque fecharam com a Covid. É um trabalho que temos de fazer, até porque temos projectada a grande área desportiva da Reboleira. Toda a área desde o Estrela da Amadora até à Escola Secundária da Amadora tem esse projecto, já bastante desenvolvido, em que estamos a trabalhar. Oportunamente, falaremos sobre ele.
Mas há prazos para a reabertura das piscinas?
Temos um projecto para a requalificação da Piscina da Damaia. A ideia é devolver condições que não tem. Do ponto de vista das acessibilidades, por exemplo, há bastantes carências e a maior parte dos alunos de hidroginástica são pessoas com carências de mobilidade. Ela tem boas características de tanque, mas é preciso reformular o resto. Na da Venteira, temos de falar com o CNA. Aquela área não pode estar assim.
Por que têm de falar com o CNA? Está nas mãos deles?
Não, está nas nossas mãos. A proprietária é a Câmara Municipal da Amadora, mas há um direito de superfície do CNA. Temos de reunir para ajustar questões. Ou declinam os acordos que têm connosco ou… Mas também se saberá sobre isso oportunamente.
Estamos a trabalhar afincadamente na ligação do metro ligeiro de superfície de Algés à Reboleira.
Falta-nos o tema da mobilidade.
Aí estamos a trabalhar afincadamente na ligação do metro ligeiro de superfície de Algés à Reboleira, com a área metropolitana de Lisboa e com o município de Oeiras [a ligação, anunciada há mais de dez anos, está em fase de estudos de procura e de viabilidade técnica].
Há investimento e planos para as zonas centrais, mas as carências não incidem sobretudo nas ligações e na frequência de transportes em bairros mais periféricos? O que está a ser feito nessa matéria?
Fizemo-lo já, através do grande concurso da Carris Metropolitana. Neste momento, temos o dobro das linhas que tínhamos há uns anos. Pagámos cerca de 1,6 milhões de euros para a Carris Metropolitana por este concurso que começou em Janeiro de 2023, para a nossa área. As áreas 3 e 4, na Margem Sul, começaram mais cedo. Nós abrimos mais tarde. Mas foi um reforço imenso da oferta de transporte público rodoviário.
Mas o reforço é para continuar?
Nós pagamos ao quilómetro, quando, antigamente, era à linha. O trajecto estava definido e ficava assim até ao fim, mesmo que tivesse menos ou mais pessoas, o que manietava os municípios no sentido de poderem reformular e acrescentar mais valor à procura. Não conseguíamos mexer nem que fosse para estender mais 500 metros. Neste momento, se quisermos que haja uma nova paragem 500 metros mais à frente, conseguimos trabalhar isso. Por exemplo, hoje temos carreiras em Alfragide em que circulam duas ou três pessoas diariamente, e temos de reajustar.
Mas também há o contrário: autocarros em sobrecarga.
Sim, mas lá está, isto permite-nos retirar esta carreira com duas ou três pessoas e fazer com que a carreira que tem um défice de autocarros seja reforçada. Estamos agora a fazer esse trabalho com a Carris Metropolitana, porque os dados da bilhética vieram só em Fevereiro. Agora, nós temos um número de quilómetros contratados e eu não posso acrescentar mais ao concurso. Tenho sempre de ajustar, retirar, compensar.
[Trazer as Gira para a Amadora] era o nosso grande objectivo.
No plano da mobilidade suave, o número de quilómetros de ciclovia na Amadora é bastante reduzido e, por outro lado, não há um sistema de bicicletas partilhadas, embora em 2022 já se falasse em trazer as Gira para o município. Como é que isso está?
Esse era o nosso grande objectivo, também por uma visão integrada da Área Metropolitana de Lisboa (AML). Nós temos três eixos de ligação: Odivelas, Sintra e Lisboa. Neste último, temos já 3,3 quilómetros de ciclovia, junto à Quinta do Estado, e a ideia era fazer uma perpendicular que ligaria ao concelho de Lisboa, através das Portas de Benfica, até ao Colombo. Ora, não faz sentido que uma pessoa que chega às Portas de Benfica tenha de trocar de bicicleta porque está a mudar de concelho, ou seja, deixar para trás uma Amadora Bike [nome fictício], porque ela não entra na cidade de Lisboa ou deixar às portas do nosso território uma Gira, que pertence à EMEL. Isso é penoso para o sistema de mobilidade.
Mas a conversa com a EMEL já aconteceu…
Já. Só que a EMEL é uma empresa pública, com capitais de Lisboa, que, segundo o que parece, quanto ao seu âmbito e estatuto, não pode desenvolver trabalho para lá da cidade de Lisboa. Isso estava a ser revisto, no sentido de ampliar a área de intervenção, até porque é uma coisa que também acontece na ligação a Oeiras. Isto tem de ser visto com a AML e em conjunto com os vários operadores. Na Carris Metropolitana, por exemplo, há quatro concursos com quatro operadores distintos. Se calhar, o caminho pode ser por aí.
Só que também é preciso haver estrutura ciclável. O que está planeado e em execução?
Temos três projectos de execução feitos, mas ainda não lançámos a empreitada: a ligação a Odivelas, desde a zona da Quinta do Estado até Alfornelos; uma [ciclovia] que liga a zona da Conde Castro Guimarães a Queluz, pelo Lido; estamos em fase de lançamento de projecto para a ligação a Oeiras, pela Serra de Carnaxide; e temos a tal ligação a Lisboa, que é a extensão da ciclovia da Elias Garcia à Estrada de Benfica, num troço de 800 metros, que será o primeiro a ser executado do ponto de vista de obra.
A ligação a outros concelhos é prioritária relativamente às ciclovias dentro do município?
Sim, porque as que têm condições [para existir] dentro do território estão feitas. No nosso concelho, temos investido em pistas pedonais, que é o que achamos que faz mais sentido.
Já disse que a sua intenção é continuar na presidência depois das autárquicas de 2025. Quais serão os seus centros de acção?
Se os amadorenses quiserem, continuarei por cá. Vou focar-me nas questões da habitação e segurança, sem dúvida, nas questões ambientais e em servir as pessoas. Sempre me dediquei muito à causa pública e quero continuar a resolver os problemas das pessoas. Mas também há outros meios em que temos de avançar, para uma cidade do século XXI, com o devido ênfase no digital, para o controlo do tráfego, tudo isso. Temos muito caminho a fazer.
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