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"O subsolo da cidade é como um arquivo de ficheiros" e, medindo o peso de diferentes corpos que não vemos, é possível fazer uma espécie de radiografia do que lá está, como descreve António Marques, do Centro de Arqueologia de Lisboa (CAL), que colaborou, juntamente com o Portuguese Quantum Institute, com a empresa francesa Exail no primeiro teste mundial de um novo método de prospecção arqueológica: um rastreamento não intrusivo do subsolo, aplicado à arqueologia e com recurso a tecnologias de gravimetria quântica. A operação decorreu de 9 a 11 de Outubro, entre a Rua Augusta e a Rua da Assunção, na Baixa de Lisboa.
Que vantagem pode representar uma tecnologia como esta? Em primeiro lugar, "podemos antecipar decisões, antes de escavar". Em zonas como a Baixa ou Alfama, em que "estamos perante uma grande presença arqueológica", ter uma leitura prévia do subsolo, através de meios não invasivos, "pode ser muito útil para se perceber se se pode avançar ou não com uma obra", explica o arqueólogo, apontando para uma poupança de custos e de tempo nos processos de análise associados à construção ou reabilitação no núcleo histórico da cidade.
Por outro lado, "se o método funcionar, poderemos esclarecer informações quanto às estruturas que existem no subsolo, mas que não sabemos exactamente onde", explica António Marques, referindo-se a "peças" que estão descritas em livros ou noutros documentos, mas que na verdade nunca foram localizadas e documentadas. "Não estamos à espera que apareça algo de novo na Baixa Pombalina, é um território que conhecemos muito bem. Mas pode sempre haver uma surpresa." Seria, ainda, "muito interessante", acrescenta o técnico, cruzar esta nova tecnologia quântica com escavações arqueológicas, "para detectar eventuais anomalias no subsolo".
Investigadores "saíram daqui felizes"
Do gravímetro, que tem por base medir o peso dos corpos, recolheram-se, durante estes três dias, informações em formato numérico, que depois resultarão em gráficos e eventualmente imagens. "O aparelho poderá ser mais fiel do que outros no cálculo das profundidades, por exemplo, e ajudar a ler situações em que há quatro ou cinco realidades arqueológicas sobrepostas, como é o caso da Baixa." A escolha de Lisboa para este primeiro teste tem precisamente a ver com isso. Entre cabos eléctricos e vestígios da Idade do Ferro, o instrumento deverá ter a capacidade de medir diferentes densidades e apresentar as suas conclusões. "Vamos ver o que acrescenta à tecnologia que temos hoje disponível. Mas os investigadores saíram daqui felizes. Como eles dizem, 'há perturbações'", o que é bom sinal, explica António Marques.
Aplicada a áreas como a defesa ou a saúde, a gravimetria quântica começa agora a dar os primeiros passos no campo do património arqueológico. Os resultados preliminares desta experiência inaugural serão apresentados na EQTC – European Quantum Technologies Conference, de 18 a 20 de Novembro.
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