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Estatuto: aniquilado. Vision, o super-herói sintético, sobre-humano e ultra-inteligente dos Vingadores, foi uma das vítimas de Guerra do Infinito (2018). Caiu por terra duas vezes. Primeiro, às mãos da própria mulher, a Feiticeira Escarlate, para impedir que Thanos se apoderasse da pedra cósmica que lhe conferia os mais extraordinários poderes; depois, pelo próprio Thanos, capaz de fazer o tempo andar para trás, que resgatou a ambicionada jóia amarela e o destruiu de seguida. E no entanto ei-lo aqui, numa série de televisão com ligação directa ao Universo Cinematográfico da Marvel (MCU, na sigla original, em inglês), e que dele deve ser uma sequência. O que aconteceu? É a pergunta de partida para os nove episódios de WandaVision, que se estreia nesta sexta-feira no Disney+.
A Wanda do título é Wanda Maximoff, a Feiticeira Escarlate. Uma personagem muito particular, feroz e mentalmente instável, que controla a realidade – e pode fazer com ela o que bem entender. Também ela foi vítima em Vingadores: Guerra do Infinito, fazendo parte da metade da população do universo que desapareceu com um estalar de dedos de Thanos, num evento higienicamente apocalíptico conhecido como The Snap. Ressuscitou, se assim o podemos classificar, cinco anos depois em Vingadores: Endgame (2019), um dos raros capítulos do MCU em que a acção não decorre no ano de estreia do filme. E é no seguimento de Endgame que deverá decorrer WandaVision, visto que o presidente da Marvel Studios, Kevin Feige, disse à Entertainment Weekly que a série estará directamente ligada a Doctor Strange in the Multiverse of Madness, filme a estrear-se em 2022 e que acompanhará a personagem de Benedict Cumberbatch, Doutor Estranho, pós-2023. Ainda assim, o enquadramento cronológico de WandaVision não é cristalino. Vamos por partes.
Antes de mais, a chamada Fase 4 do MCU nem sequer deveria arrancar com WandaVision. Não fosse a pandemia, Viúva Negra e Eternals teriam chegado aos cinemas em 2020, enquanto o serviço de streaming da Disney, dona da Marvel, teria estreado The Falcon and the Winter Soldier. Mas o Sars-Cov-2 alterou os planos de tudo e de todos, incluindo dos super-heróis. WandaVision, cuja produção é uma combinação de épico de encher o olho com o antiquíssimo, e caseirinho, formato das sitcoms gravadas ao vivo, era o que estava mais próximo da conclusão – e avançou para a linha da frente. Como é que a sua história se relaciona com o resto, especialmente com a destruição de Vision, é um dos segredos pelos quais teremos de esperar para ver. Entre os fãs, dominam duas teorias, segundo o Mashable: uma diz que Wanda criou uma realidade alternativa; a outra, que Wanda usou os seus poderes para reavivar Vision (o que não seria despropositado, visto que nos comics foi assim que “nasceram” os filhos deste casal feiticeira-andróide). Há um período cinzento e etéreo na vida de Wanda que permanece por explicar: em que espécie de purgatório aguardou ela, e tantos outros, entre The Snap e The Blip, o momento da ressurreição? No entanto, o título da série parece indicar que está tudo na cabeça – na visão… – de Wanda.
A forma como a série está construída não ajuda a dissipar a incerteza temporal: começando no preto e branco dos anos 1950 e percorrendo as décadas subsequentes até à de 2000, WandaVision é filmado como uma sitcom, interpretada em formato teleteatro, em palco e diante de um público que reage aos gags; o que propositadamente confere a estas personagens um carácter artificial, dirigido. Uma encenação dentro da encenação que é a realidade do MCU. Do qual, de resto, vale a pena ter em consideração outros quatro filmes para este capítulo televisivo: Vingadores: A Era de Ultron (2015) e Capitão América: Guerra Civil (2016), os capítulos em que fomos apresentados a Paul Bettany e Elizabeth Olsen nos papéis de Vision e Wanda, respectivamente (e são eles que cá continuam). Darcy Lewis (Kat Dennings), que entrou em Thor: O Mundo das Trevas (2013), e o ex-S.H.I.E.L.D. Jimmy Woo (Randall Park), introduzido no MCU através de Homem-Formiga e a Vespa (2018), também por cá andam, de olho em Wanda. Ter visto todos estes filmes, garante Kevin Feige, não é essencial para apreciar WandaVision – gostar deste formato de sitcoms é mais do que suficiente. Claro que, para quem viu os 23 filmes produzidos até agora, “haverá recompensas em abundância” à medida que a história evolui, assegura o executivo.
Uma delas já se sabe qual é: a versão adulta de Monica Rambeau, personagem de monta nos comics, nos quais chega até a liderar os Vingadores. Será interpretada por Teyonah Parris. E porque é que isso é uma recompensa? Porque Monica apareceu brevemente no ecrã, ainda criança, em Capitão Marvel (2019). Há ainda outros dois nomes a que vale a pena estarmos atentos: Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez, os premiados compositores de Frozen: O Reino do Gelo, responsáveis pelas canções originais da série. São eles que ajudarão a sublinhar a traço grosso a estranheza de vermos Wanda e Vision como um comum e feliz casal, enredado na sua vidinha suburbana.
WandaVision marca o início de uma nova era no MCU, que se vira para a televisão depois de conquistar as bilheteiras no cinema. É a primeira de seis séries a estrearem-se ao longo do ano no Disney+. Seguem-se The Falcon and the Winter Soldier, Loki, What If...?, Ms. Marvel e Hawkeye. O melhor é pegar no bloco de notas e começar a tirar apontamentos.
Disney+. Sex (Estreia).