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Wasted Rita: “Neste momento vejo misfortune a acontecer em todo o lado”

Com mais de 30 peças, feitas desde 2012 até hoje, a nova exposição de Wasted Rita é sobre uma relação que vai "por água abaixo". A relação é com Lisboa e mostra-se a partir de sábado, dia 9, nos Coruchéus.

Rute Barbedo
Escrito por
Rute Barbedo
Jornalista
Wasted Rita, no seu atelier, em 2023
Francisco Romão PereiraWasted Rita, no seu atelier, em 2023
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São mais de 30 peças e também escritos que têm feito companhia à artista na parede do seu atelier, nos Coruchéus, onde trabalha desde 2020. Rita Gomes, mais conhecida como Wasted Rita, embrulhou o conjunto numa frase longa, ao seu estilo, a que resumidamente podemos traduzir como "retrospectiva".

Em "works from before hang out with works from now and works from between before and now, in the same room", que inaugura no sábado, 9 de Novembro, no espaço Coruchéus – Um Teatro em Cada Bairro, a artista mostra criações que nunca foram exibidas em formato físico (por vezes só no mundo virtual) e que recuam até 2012. Sob que lógica? "Apesar de ter reflectido muito sobre a selecção de peças, só quando estávamos a montar a exposição percebi que muitas delas estão relacionadas com a existência (resistência?) numa cidade com grande especulação imobiliária e o cansaço e frustração que daí advêm. Assim sem pensar muito, consigo lembrar-me de algumas obras que serão objectos estranhos dentro desta narrativa, mas não desgosto dessa ideia de estranheza", descreve à Time Out.

Exposição nos Coruchéus
DRworks from before hang out with works from now and works from between before and now, in the same room

O arquivo de Wasted Rita é vasto, sobretudo recuando-se ao início da carreira, um período marcado por uma grande propulsão para os ecrãs, quando a artista criava "um número estúpido de peças por semana" porque a sua "estabilidade mental dependia de publicar peças online". Mas também era uma fase de "fascínio por Lisboa", quando a artista natural de Águas Santas se mudou para a capital. Os anos recentes, por contraponto (e talvez o vejamos nas paredes da exposição), fazem-se de "inquietação e desesperança com a cidade". "Apesar de isto ter alguma graça para mim, perceber o processo desta relação ir por água abaixo e como isto se reflectiu nos assuntos que abordo, não vai ter nenhuma graça para o público, porque me parece imperceptível para outra pessoa que não eu, uma vez que, mesmo quando vivia arrebatada de entusiasmo por Lisboa, o meu trabalho era imbuído em ácido", reflecte.

Os mupis que nunca chegaram a irritar a cidade

Entre as mais de 30 peças que compõem a exposição, há duas Misfortune Messages. "É uma série de 40 mensagens que criei para a minha primeira exposição em Lisboa, na Underdogs, inspirada em biscoitos da sorte. Em vez de uma profecia vaga positiva, escrevi 40 profecias, igualmente vagas, mas de má fortuna. Na peça original, estas mensagens estavam dentro de uma máquina de venda automática de brindes surpresa. Depois da exposição, a Underdogs e a GAU [Galeria de Arte Urbana] convidaram-me para fazer estas mensagens em formato mupi, para serem colocadas por Lisboa. Apesar de ter criado as peças este projecto nunca avançou", explica agora a artista.

Wasted Rita no seu atelier, em 2023
Francisco Romão PereiraWasted Rita no seu atelier, em 2023

As duas peças, de 1,16 por 1,50 metros, estariam então expostas no espaço público, com mensagens eventualmente difíceis de digerir, ideia que em 2015 fez sentido para Wasted Rita, mas que hoje já não executaria. Questionada pela Time Out sobre onde colocaria estas mensagens ácidas, ainda assim, a artista responde: "Se tivesse mesmo de as espalhar, daria preferência a sítios hiper-turísticos. Prefiro poupar locais da minha acidez e irritar pessoas que estejam de passagem."

Apesar de não querer ver mupis com estas frases por aí, Rita não consegue apartar o infortúnio, a desgraça, do caminho tomado por Lisboa. À volta, no entanto, não vislumbra um cenário muito melhor. "Neste momento vejo misfortune a acontecer em todo o lado e cada vez mais sinto ser essencial valorizar e proteger espaços comunitários e seguros para continuar a ter alguma esperança", remata a artista.

A exposição "works from before hang out with works from now and works from between before and now, in the same room" integra a programação do primeiro aniversário do espaço Coruchéus – Um Teatro em Cada Bairro, que se celebra este sábado, em Alvalade.

Rua Luís Lino (Coruchéus, Alvalade). 9 Nov-25 Jan. Ter-Sáb, 13.00-19.00. Entrada livre

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