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Quem viveu os anos 90 tem presente na memória a popularidade que as equipas da NBA alcançaram em todo o mundo. A Portugal também chegou a “NBA mania”, com os seus bonés e restante merchandising que faziam as delícias dos mais novos (e não só). Esse caminho começou a ser feito uma década antes, quando fora dos EUA ainda não existiam muitas oportunidades para assistir aos jogos daquela liga, a mais competitiva da modalidade. Os adeptos desportivos norte-americanos viram a NBA transformar-se nos anos 1980, quando passou a haver uma nova maioria de negros a disputar as tabelas, e a tornarem-se estrelas da nação. E tudo começou com a ascensão dos Los Angeles Lakers pelas mãos de Jerry Buss, empresário do ramo imobiliário que transformou a equipa californiana numa “dinastia”, começando com a contratação de um muito jovem Magic Johnson. Uma era dos Lakers que ficou conhecida como “showtime” e que se desenrolou entre 1979 e 1991.
É esse o ponto de partida para Winning Time: The Rise of the Lakers Dynasty, uma série baseada no livro Showtime: Magic, Kareem, Riley, and the Los Angeles Lakers Dynasty of the 1980s (2014), de Jeff Pearlman, mas também em entrevistas e outros livros com testemunhos de pessoas retratadas na série, algumas das quais interpretadas por estrelas de peso, num elenco também cheio de novos talentos. John C. Reilly interpreta Jerry Buss. Adrien Brody e Jason Segel estão no papel dos treinadores Pat Riley e Paul Westhead. Sally Field encarna Jessie Buss, a mãe de Jerry, e Gaby Hoffmann faz de Claire Rothman, a primeira e única gestora feminina de grandes arenas desportivas, que foi directora-geral do Forum, onde jogavam os Lakers, numa época em que as mulheres não mereciam especial destaque nestas instituições. Solomon Hughes, ex-Globetrotter, veste a pele de Kareem Abdul-Jabbar, e o estreante Quincy Isaiah é Magic Johnson. Há ainda Hadley Robinson como Jeanie Buss, filha de Jerry e actual proprietária e presidente dos Lakers.
“É uma série sobre um momento em que o basquetebol transformou a cultura. E vivemos agora numa era profundamente influenciada pelas mudanças que essa época nos deu”, diz Max Borenstein, showrunner, argumentista, produtor executivo e co-criador deste Winning Time, numa roundtable virtual em que a Time Out participou. Na verdade, e como explica por seu lado Rodney Barnes (produtor executivo e argumentista), na altura em que decorre a acção da série, o basquetebol era o quinto desporto mais importante nos EUA. “E agora acho que provavelmente está a disputar o segundo lugar, atrás do futebol americano. Mas vejam como a modalidade influencia a música ou a moda. O basquetebol passou a fazer parte da cultura popular americana de uma maneira que ninguém imaginaria. E quando olhamos para a série, para o começo de tudo, como o estilo de jogo se encaixa na cultura afro-americana... E tornou-se um desporto global, o que não teria acontecido sem o que os ‘Showtime Lakers’ trouxeram para o jogo, influenciando outras modalidades com a ideia de que o desporto é entretenimento, que há um espectáculo.”
Além de revelar como a modalidade renasceu na década de 80 do século passado, o argumento vai também sublinhando, ao longo dos episódios, a realidade de então relacionada com as questões do racismo e do sexismo. O tom da narrativa passeia entre o drama e a comédia, numa edição ritmada (há inclusive personagens que falam para a câmara) que também se serve de imagens de arquivo e recursos gráficos para contar a história, onde cada personagem é apresentada na primeira vez que aparece no ecrã, a bem do contexto. “Um drama tradicional far-nos-ia perder muitas possibilidades. E este tom, com personagens que podem dirigir-se à câmara, foi algo que nos deu liberdade para envolver o público da mesma forma que as pessoas de então envolveram o seu público”, sublinha Rodney.
Como em qualquer história criada a partir de factos verídicos, nem tudo o que vem à rede é verdade. Mas, promete Max, as situações menos verossímeis aconteceram mesmo: “A nossa regra era que as coisas mais inacreditáveis que acabam na tela têm que ser a verdade absoluta. O nosso papel, como curadores dessa história, era encontrar esses momentos que fariam o público inclinar-se para a frente e pensar ‘Espera, isso não pode ser verdade’ e irem confirmar no Google.”
Já vimos que o elenco é vencedor à partida e há algumas curiosidades à mistura. Por exemplo, DeVaughn Nixon interpreta o próprio pai, o jogador Norm Nixon, e Sally Field a mãe de Jerry Buss, senhora que na realidade já tinha morrido por altura destes acontecimentos. “Sou fã dos Lakers, estive lá nos anos 70 e início dos 80, e vi o Magic e o Kareem [Abdul-Jabbar], assisti a tudo. Portanto fazer parte disto foi um bónus para mim”, confessa a galardoada actriz. Quanto ao clã Dixon, DeVaughn revelou que pediu ao pai para lhe contar umas histórias, para criar uma espécie de cábula que, embora lhe tenha dado alguma vantagem, não evitou que o actor interpretasse um “Norm 2.0”, como descreveu. “Ele é um pouco mais descontraído, tranquilo, gosta de ouvir jazz e sair com a família”, diz. Sally Field acrescenta ainda o que acredita ser a magia desta série: “Usa o desporto, e o basquetebol em particular, para oferecer um olhar sobre a cultura de Los Angeles no final dos anos 70, início dos anos 80. A cultura negra, os bairros, aqueles jovens talentosos que foram retirados das suas famílias e empurrados para uma arena enorme. E também um olhar sobre o negócio e a reinvenção deste desporto. Porque antes de os Lakers trazerem estes jovens jogadores, habituados a jogar na rua num jogo caótico, rápido e apaixonado, antes disso era um jogo elegante e não tão popular.”
HBO. Dom (estreia)
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