1. Dallas
    ©Inês Félix
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  3. Dallas
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  4. Restaurante, Cozinha Americana, Dallas Burger Joint
    ©Inês FélixDallas Burger Joint
  5. Dallas
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  6. Dallas
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Crítica

Dallas Burger Joint

3/5 estrelas
  • Restaurantes | Americano
  • preço 2 de 4
  • Cais do Sodré
  • Recomendado
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A Time Out diz

“Hambúrgueres: o pilar de qualquer pequeno-almoço nutritivo.” Jules Winnfield, a personagem de Samuel L. Jackson em Pulp Fiction, disse-o enquanto mastigava um suculento hambúrguer da cadeia havaiana de hambúrgueres Big Kahuna. No Dallas ainda não se comem hambúrgueres logo pela manhã, mas pode encarnar a personagem do filme de 1994 de Quentin Tarantino – afinal a inspiração para a decoração vintage do espaço vem de lá e até vai conseguir tirar uma fotografia sentado numa das cabines com sofás vermelhos, ao estilo do clássico diner, antes de pedir um dos hambúrgueres da casa.

Crítica:

Tenho uma vaga ideia de Dallas, a série norte-americana. Lembro-me do Bobby Ewing, um canastrão texano um bocado choninhas; lembro-me da Pamela, outra choninhas; e sobretudo lembro-me de um Mercedes vermelho cabriolé, o 450-SL, de que tinha uma miniatura. Já lá vão uns 35 anos.

Tudo isto tive de explicar aos meus acompanhantes, três pré-adolescentes. Nenhum deles imaginava que uma telenovela, passada no Texas tivesse sido transmitida anos a fio em Portugal. E nenhum deles sabia que Dallas é porventura a cidade norte-americana onde mais carne se come.

Presumo que venha daqui o nome deste novo diner do Cais do Sodré. O conceito não é original, nem na forma nem no conteúdo. Aliás, na porta ao lado abriu precisamente outra casa de hambúrgueres, menos distinta, e precisamente na mesma altura. Mercado não falta, portanto. Na noite em que lá fui estavam ambos cheios, quase tudo turistas de um lado e do outro.

Os miúdos gostaram da experiência– e não apenas por causa do jantar. No caminho para o restaurante passaram por aventuras como as das séries da TV (do século XXI), a começar numa altercação de rua. “Give me the coke”, gritava um jovem empurrando um turista, a maralha da Praça de São Paulo assistindo de copo na mão, tranquila e indiferente como avozinhas dividindo a atenção entre o crochê e a saga dos Ewing. “Tio, eles estavam a brincar, não estavam?”, perguntou a minha sobrinha. Não. “Tio, coke não é Coca-Cola, pois não?”, perguntou o meu filho. Não.

Havia mais. Logo ali, à passagem pelo bar-gelataria Davvero, soprou um bafo a erva como se o Snoop Dogg e o João Quadros tivessem espirrado em uníssono. “Tio, este cheiro não é tabaco, pois não?”

Foi a terceira tentativa de ir ao Dallas. Na primeira, estava fechado ao almoço, na segunda vez ao jantar. Os horários são apertados. Apenas abrem aos jantares e apenas a partir de quarta-feira até domingo. Acho muito bem, o totó fui eu que não pesquisei antes. Restaurantes que dão descanso ao pessoal costumam ser melhores restaurantes. E os empregados que nos atenderam estavam, de facto, animados.

Chegámos, sentámo-nos e em segundos tínhamos a carta à frente. Há oito variedades de hambúrgueres com proteína animal e outro vegano. Nomes todos em inglês, a apresentação também em inglês (“our meat is 100% grass fed and ethically raised in Portugal”) – assim mesmo, sem tradução, que o Cais do Sodré é do mundo.

A secção vegan, por sua vez, tem vergonha de servir seitan (“acho que é seitan”, disse a empregada) e escreve “frango”, com as aspas, e também chama “cheddar” a outra mistela sem proteína animal. Falso frango, falso cheddar – já não se usa disso. Não há que ter medo nem vergonha dos vegetais, há que ter talento para os cozinhar. Todos os hambúrgueres estavam bons. Carne ligeiramente seca, talvez tempo a mais na chapa, mas com aquela crosta maravilhosa por fora. O pão em brioche, torrado por dentro – pena que tivesse mais gordura e ar do que farinha: assim que o agarrámos, esvaziou-se como um balão furado, transformando-se em duas camadas com a espessura de um disco vinil.

A gordura do pão somou-se à do recheio e faltaram vegetais para a cortar. Senti isso sobretudo no “sweet and spicy bacon”, com este bem fumado e estaladiço, mas só com uma fina lasca de picle de pepino a dar acidez; mas também senti no “spicy mexican chorizo”. Mais fresco o cheeseburger, verdadeiramente clássico, perfeito para mostrar aos miúdos o que é um McDonald’s em bom.

Batatas fritas em quatro variedades: batata doce às rodelas; em palitos simples; com bacon e cheddar; e com parmesão e cajun. Todas das congeladas industriais, sem personalidade mas gulosas, os queijos sumidos; o pó de cajun podia ser uma boa ideia, mas da célebre mistura de ervas e especiarias original do estado de Louisiana nenhum sinal.

O serviço foi rápido na entrega dos hambúrgueres mas não foi rápido nas bebidas. Os milkshakes vieram já tínhamos despachado os hambúrgueres. O “5 dollar shake”, por 5 euros, justificava que se usasse vagem em vez de extracto de baunilha; e o “vegan frozen Matcha”, por 7,5 euros, sendo bom, justificava que se usasse mais e melhor matcha, esse maravilhoso chá verde, aqui ofuscado pela banana.

Para terminar, só há uma sobremesa disponível, essa nova serradura, esse novo cheesecake – o brownie de chocolate. Versão com chocolate negro (e muito açúcar), amendoim torrado por cima, nem mal nem espectacular. O costume. Em síntese. O Dallas é uma hamburgueria onde se comem hambúrgueres acima da média. Carne saborosa, pão razoável, a técnica pode melhorar. Pedia-se mais cuidado nos acompanhamentos (há
picles caseiros em frascos nas prateleiras, “mas são só para decoração”). O sítio à noite é animado, música a condizer da boa, de Stevie Wonder antigo a Vanilla Ice foleiro.

Vejo-me a divertir-me aqui com gente graúda, a beber cervejas antes de ir dar um pezinho ao buraco do costume. Mas depois vejo que a cerveja mais barata custa quatro euros. E que não está ali nenhum Ewing para pagar a conta.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Detalhes

Endereço
Travessa dos Remolares, 41
Cais do Sodré
Lisboa
1200-019
Preço
15-25€
Horário
Seg-Sex 19.00-01.00, Sáb-Dom 11.00-01.00.
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