Penalva da Graça
Francisco Romão Pereira

Crítica

A Penalva da Graça

4/5 estrelas
Junto aos carris do 28, José Margarido redescobre um lugar de aconchego para indígenas. E dá-lhe quatro, mesmo sem ficar de quatro.
  • Restaurantes | Português
  • São Vicente 
  • Recomendado
José Margarido
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A Time Out diz

Eis senão quando, dou por mim a escrever o mesmo texto. Melhor, então, antecipar a repetição. Acabarei a explicar que a avaliação que faço deste lugar está inflaccionada, que noutros tempos esta experiência mereceria três estrelas honestas, mas que, hoje, lugares assim são cada vez mais preciosos e que por isso lhe concedo uma estrelinha extra. Ora, como não é original ouvir-me dizer isto de uma tasca, e reconhecendo o risco de alguém ouvir o que eu digo, atalho caminho.

A Penalva da Graça é uma boa casa, mas é sobretudo uma casa que me faz falta. É daqueles lugares que sempre julguei eternos, mas que hoje suspeito não vão durar para sempre (no fundo, o mesmo pensamento que tenho desenvolvido sobre a minha própria existência). Talvez me engane (sobre o futuro destes lugares, não sobre o meu), mas constato que a espécie tem cada vez menos exemplares. E embora a Penalva não escape aos circuitos do turismo (a porta fica a um metro dos carris do 28), temo que esteja cada vez menos ao gosto do tempo (e chega de parêntesis, que põem o texto aos solavancos). 

E que lugares são esses? São lugares de aconchego improvável, talhados a inox, azulejo branco, toalhas de papel, luzes fluorescentes e ementas previsíveis, empregados atentos, de simpatia altiva e piada fácil. São mais ou menos cervejarias, a meio caminho entre um restaurante familiar e uma marisqueira popular, que tanto servem para refeições em conta, como para petiscarias épicas em que se batem recordes de imperiais. 

Do restaurante, direi que é bonzinho e se recomenda para almoços. As minhas expedições diurnas incluíram umas boas iscas, finas q.b., irrepreensível vinha d'alho, servidas com elas bem boas em prato de ferro; uma chanfana feita a preceito e com tempo, a cabra bem amaciada em tinto; e um cachaço de porco sem grande história, com umas batatas aos palitos que, sendo de boa linhagem, chegaram fritas num óleo entardecido. Há sempre peixe para grelhar ou cozer, e um arroz de marisco muito gabado, a que ainda não me atirei. Mesmo alambazado com entradas de queijinho e azeitonas, vinho e sobremesas que não deixaram memória, nunca daqui saí descontente nem a pagar mais de 18 euros. 

Só que é ao fim do dia que mais me apetece trepar a Graça. Na Penalva há sempre marisco para dias de festa, das sapateiras e santolas às lagostas e lavagantes. Mas no campeonato da cervejaria é que a casa me ganha, entre boas gambas da costa (cozidas ou ao alhinho), óptimas amêijoas e berbigão (ao natural ou num competente Bulhão Pato), cadelinhas e burriés, percebes das Berlengas (diz que são frequentes, mas andamos desencontrados), canilhas e navalheiras frescas (e com isto voltaram os solavancos). Some-se um óptimo pica-pau de vaca mais uma mão-cheia de jolas, e temos uma gloriosa aventura marisqueira, que o comum mortal pode cobiçar sem ter de hipotecar um rim.

Detalhes

Endereço
Rua da Graça, 26
Lisboa
1170-166
Preço
15 €
Horário
Ter-Dom 12.00-22.00
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