A única semelhança entre a Tragédia da Rua das Flores e a Taberna da Rua das Flores é a paixão. Paixão da protagonista do livro de Eça de Queirós pelos homens, e paixão dos taberneiros do Chiado, que a fundaram em 2012, pelos produtos portugueses. André Magalhães foi um deles.
O chef explica: “A nossa ideia foi montar um sítio divertido e simples, que revisita as tabernas antigas, com um espaço para mercearias.” E não é conversa fiada. Acredita numa abordagem à memória gastronómica nacional. Ajuda o facto de André ser um investigador da área? Ajuda, claro. Foi desse estudo que nasceram os dois pratos âncora da casa: iscas com elas e meia desfeita de bacalhau. Confeccionados à la princípio do século XX.
Para ter uma ideia, o molho das iscas, como manda a tradição, deve levar o baço. “Tive de estabelecer uma boa relação com a minha talhante para ter os ingredientes certos”, diz André. No caso do bacalhau com grão, usa a parte das asas, como nas receitas antigas. “Era um prato pobre das tabernas e as postas altas iam sempre para as casas boas.” Mas as recordações não se ficam por aqui. Há moelas, pipis, pezinhos de coentrada e por aí fora. Ao almoço há pratos fixos e ao jantar quem manda são os petiscos.
Fazem uma cozinha sazonal e não usam produtos refrigerados. Na mercearia, pode ainda contar com amostras de pequenos produtores. Exemplos? “Manteiga Marinhas, Broa de Avintes, conservas Luças, ou pão biológico da Herdade do Freixo do Meio.” Também eles à prova nas mesas.