A geografia da gastronomia está cheia de casos destes, sítios onde só vamos para comer. A Adega da Bairrada fica na rua mais suja e feia do Pote d’Água, espécie de recuado manhoso do bairro de Alvalade. A entrada do restaurante é uma pequena porta em alumínio semifechada, as pessoas passam e julgam que dá para as traseiras de uma arrecadação.
Sucede o seguinte. Lá dentro é como se estivéssemos numa casa grande de gente feliz e ruidosa. Uma clientela fiel acorre ali há mais de 30 anos, de vários pontos da cidade, alguns de São Bento (Jerónimo de Sousa é cliente), muitos do Aeroporto (é poiso do pessoal da TAP) e da burguesa Avenida de Roma. No ar sente-se a camaradagem cúmplice de uma agremiação gastronómica que trata pelo nome empregados e cozinheiros, todos com décadas de serviço, cromos de uma caderneta colorida.
Para os habitués, a casa é conhecida pelo apelido dos fundadores e não pelo nome oficial. Os irmãos Rocha são dois irmãos migrados da Anadia. Há uns anos arrumaram as botas, deixando o negócio entregue às filhas (sala) e ao genro (cozinha). Daí resultaram mudanças na decoração (mais confortável e contemporânea) e na culinária (já com mão de escola de hotelaria). Mas não se perdeu o receituário nem a seriedade. Na carta, entre outras coisas, há pernil fumado com lombardo e enchidos (sexta-feira), polvo à lagareiro (com bom azeite), rojões, arroz de pato, bacalhau assado, cozido à portuguesa (bons enchidos, mas ganhava em ter mais sal, caldo quente e nabo), pescadinhas de rabo na boca, nos doces um bolo príncipe e uns pastéis de nata caseiros imperdíveis. Vá lá ao Pote.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.