1. Água pela Barba - Espaço
    Fotografia: Manuel Manso
  2. água pela barba
    Fotografia: Manuel Manso
  3. Taco de peixe frito, molho tártaro e verduras em pickle
    ©DR

Crítica

Água pela Barba

4/5 estrelas
  • Restaurantes
  • Chiado/Cais do Sodré
  • Recomendado
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A Time Out diz

Crítica
Assim como há espaços amaldiçoados, há outros destinados ao sucesso, conclui Marta Brown depois de voltar a esta tasca aprumada da Bica

Discordo a 100% da sabedoria popular no que 
à frase “nunca voltes ao sítio onde já foste feliz”, diz respeito. Sobretudo quando se trata de restaurantes. Voltar a um sítio, ou ter vontade de voltar, é, por si, um bom barómetro para decidir que um restaurante merece, à escala Time Out, as quatro ou as cinco estrelas.

Porém, contudo, todavia, estava com algum medo de voltar ao número 29 da Rua 
do Almada, bairro da Bica. No sítio onde abriu em meados 
de Dezembro o Água pela Barba, tinha funcionado até inícios de Dezembro o Isco da Bica – consta que a mudança 
se fez numa semana. E o que 
eu gostava do restaurante... Da ideia de ser uma tasca de peixe e marisco, do despretensiosismo do espaço e dos pratos, da decoração a fazer lembrar uma lota e até da confusão e barulheira que reinava em hora de ponta, mesmo quando isso afectava ligeiramente o serviço. Nem tudo o que se comia era de morrer, é certo, mas tinha aquele compromisso equilibrado entre boa comida, bom ambiente, preço ajustado. Viveu apenas nove meses – paz à sua alma –, mas viveu-os sempre em grande e sempre cheio.

Desconheço as razões que levaram ao fecho, mas foi com algum cepticismo que ruminei a notícia de abertura do Água pela Barba. Também um restaurante de peixe e marisco, também o chef João Magalhães à frente 
da cozinha. “Então mas gostava tanto do outro, Marta!”, podem indignar-se alguns leitores. Pois gostava. Mas temia que este seguisse o caminho das sequelas: regra geral piores que o original.

Jantei lá numa noite de fim-de-semana e trouxe o veredicto: não é pior nem melhor, é diferente. E é bom. Vejamos. O espaço perdeu aquele
ar trapalhão de doca pesca, ganhou um aspecto mais arrumadinho, com as paredes de madeira despidas dos quadros, bóias e peças de esferovite; a carta perdeu a rotatividade diária e ganhou pratos fixos; 
o restaurante perdeu Tânia Martins, cujas mãos estiveram em alguns dos bons projectos
 da cidade (Taberna Ideal, Petiscaria Ideal, Osteria), ganhou o dono de um ex-sushi de Matosinhos, o Quarenta e
 4. E a meu ver perdeu alguma alma. Isto é: era um sítio vibrante, agitado, agora é só um restaurante com bom ambiente, serviço simpático e eficiente.

Quanto à comida, parece-me, tal como a decoração, mais arranjadinha, com outro cuidado na apresentação, mas igualmente assente em produtos frescos. Gostei muito de alguns pratos, achei outros bons, outros assim-assim, mas o que importa reter é que o balanço final é positivo (hei-de voltar, portanto).

Muito bom o ceviche de salmão e pampo com puré de batata doce. A trazer cebola, abacate, o leite de tigre, tudo bem equilibrado. Excelente 
a burrata com camarões grelhados. Uma mistura que nunca tinha provado e que depende tanto da qualidade
dos produtos – um check nos dois casos –, e do tempo certo de chapa – outro check. Muito bons os tacos de salmão com molho tártaro, agridoce e soja. Doses individuais a chegar à mesa em pequenas tortilhas de milho, ligeiramente tostadas. Óptima
 a quinoa de tomate com filetes de peixe branco, a lembrar um arroz de tomate saboroso e molhadinho, com o peixe num polme mais próximo da tempura do que de um filete tradicional e sem resquícios de óleo. Uma acertada reinvenção.

Entre os pratos que não encheram o olho estão as bolinhas de bacalhau com creme de coentros, favas e chouriço, não pelo creme, muito bom, mas pelo excesso de batata nas bolinhas; e o polvo grelhado, com creme de grão e limão, que pedia um bocadinho menos de tempo na grelha.

Para sobremesa um tiramisù com vinho do Porto interessante e umas óptimas canilhas, feitas com massa crocante, recheada de creme pasteleiro, polvilhadas com açúcar e canela. Muito gulosas, muito boas. E este é um daqueles casos em que dividir sobremesa não é grande ideia.

Por tudo, com vinho e cervejas, pagou-se 30€ à cabeça. Um preço justo pela comida e bebida e por ser uma morada que tão bem junta qualidade, bom serviço, boa onda, boa música. Fui igualmente feliz e voltarei.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Detalhes

Endereço
Rua do Almada, 29/31
Lisboa
1200-020
Transporte
Metro Baixa-Chiado
Preço
Até 30€
Horário
Seg 19.30-00.00. Ter-Dom 12.30-15.30/19.30-00.00
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