O que é que significa estar a viver o momento da flor?
O momento mais bonito. O sonho de bastar estar vivo para viver a beleza, estar inteiro, não estar preocupado com como é que vai e para onde vai. Não. Tem de estar aqui hoje, fazer as coisas por inteiro, ter uma entrega de verdade a cada coisa. Não dá para fazer as coisas pela metade, não dá para ser infeliz, tem de viver intensamente essa coisa que é a mais linda do ciclo da gente: estar cá na terra, estar vivendo.
O que é que isso está a significar para ti, na tua carreira? Que flor é que estás a ser agora?
Acho que é ter 50 anos e estar num bom momento da minha carreira e nem pensar em parar. O Joël Robuchon, quando fez 50 anos, fechou o seu mítico Jamin, em França; o Ferrin [Adrià] fechou o El Bulli. Eu vou trabalhar mais, estou na parte mais legal, para que é que eu vou parar? Tenho um monte de coisas para fazer, estou feliz. Quando boto a minha jaqueta [de cozinheiro], não é a minha roupa de super-homem, é a veste da felicidade.
Como é que aconteceu esta evolução na tua carreira de passares de cozinheiro a activista?
Tem muito a ver com o começo, antes de eu ser cozinheiro, com aquela coisa da música, das drogas, do punk rock, já tem uma inquietação de personalidade que está clara desde a adolescência.
Quando percebeste que a biodiversidade e a sustentabilidade da Amazónia eram uma questão em que podias intervir?
Eu comprei umas terras na Amazónia e comprei um problema: uma comunidade achava que uma parte daquelas terras era dela e o dono achava que era dele. Como tinha mais terra do que eu precisava fui até à comunidade e disse que se pagassem o imposto daquela terra, nunca mais ninguém ia mexer nela e ia ser deles para o resto da vida, para as próximas gerações. Fizeram isso e eu comecei a sentir--me muito inteligente, achei que podia salvar a Amazónia desse jeito. Como travámos um bom conhecimento, comecei a mandar comida para eles, mandei cestas básicas — uma caixa com necessidades básicas. Não porque eles passassem fome, mas porque dava para ver que as crianças passavam alguma subnutrição. Voltei depois de seis meses encontrei lata e plástico jogado para todo o lado e resolvi dar uma bronca – como é que vocês fazem isso? Eles entenderam supermal, ficaram bravos comigo, virou quase uma briga, e no meio um dos senhores olhou para a minha cara e falou “Alex, isto é culpa sua”. Ele me explicou de uma maneira muito singela: “embalagem de bicho é pele, embalagem de fruta é casca, embalagem de peixe é escama”. Essa é a hora em que eu entendo que, como cozinheiro, eu estou pronto para lidar com ingredientes, não com o que precede os ingredientes, que é o homem. Se eu quiser um ingrediente incrível, preciso encontrar um outro homem que tenha a mesma paixão pelo ingrediente. Mas a minha vontade, meu querer e minha cultura não podem se sobrepor à dele.