1. Arca Bistrô
    Francisco Romão Pereira
  2. Arca Bistrô
    Francisco Romão Pereira
  3. Arca Bistrô
    Francisco Romão Pereira
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Crítica

Arca Bistrô & Bar

3/5 estrelas

O jantar não começou bem, mas foi melhorando. Alfredo Lacerda regressou ao Bairro Alto.

Alfredo Lacerda
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A Time Out diz

Quando lá cheguei tive a sensação de já lá ter estado. Acho que é o terceiro restaurante que conheço naquele mesmo lugar, em poucos anos. Mau augúrio? 

Pareceu-me tudo remodelado, bar à entrada metido na pequena sala estreita, a cozinha também curta, separada dos clientes por vidro fosco. O espaço é bonito, com uma vibração muito Bairro Alto, mas ainda assim sem artistas e jornalistas. 

(Para onde foram eles?)

Tivemos de nos dobrar para passar para a nossa mesa, apertada entre a fileira de outras mesas. Cada centímetro conta no Arca, agora com mais lugares sentados. 

Ao nosso lado, os únicos portugueses na casa – cheia a um dia da semana –, casal de quarentões, Asics Tiger nos pés e camisa, porventura saudosos do tempo do Bairro Alto do Frágil, como nós. 

Estavam muito contentes com o seu risoto de choco em sua tinta, e também com a vazia com puré de raiz de aipo, e também com o ambiente arty e internacional da clientela, onde se misturavam surfistas franceses, eslavos com calças baggy e correntes ao pescoço e o que presumi serem jovens sofisticados de Beirute. 

Nós pedimos coisas pequenas, para o arranque. Sendo os donos russos, apostámos nos picles: vieram quiabos (nunca visto) e veio couve roxa. Foi a primeira vez que comi picles de quiabos, servidos inteiros, ainda com a sua seiva: sem intensidade, sem estarem estaladiços, pouca acidez e pouco sal. 

Desiludiu também a couve roxa, tristonha e simples, sem condimentos, sem nos espevitar as papilas e o espírito.

Já o pão do couvert era de massa mãe, e era do country loaf do costume, insuficientemente reaquecido, com manteiga à base de banha de porco batida. Já vimos isto noutros lugares – no Prado, por exemplo –, mas em melhor. 

Houve também “croquetes à moda da costeleta de Kiev”, que é um bonito e ao mesmo tempo estranho nome para um prato. A empregada alertou gravemente para o perigo de nos queimarmos: quando mordêssemos iria escorrer um líquido fervente do interior. 

O alerta seria repetido por outra empregada mais experiente, com o mesmo drama, e nós ficámos apreensivos, contemplando as bolinhas como pequenas granadas. 

A fechar os acepipes da abertura, azeitonas verdes de frasco a que foram adicionadas raspas de citrinos. 

Não foi um começo entusiasmante, mas melhorou com os principais. Nos peixes, cavala curada num creme com pistáchios. Tudo muito agradável, o peixe mantendo a sua gordura, limpo de aromas maus, os frutos secos a darem-lhe um abraço fofo, a darem conforto. 

O segundo principal foi também muito bom. Tratava-se de uma beringela roxa assada e caramelizada, como no nasu dengaku, assessorada por um creme de nozes sedoso e magnífico, por cima uns bagos de romã. Grande cruzamento entre Japão e Pérsia. 

Por fim, nos doces, só a já omnipresente tarte basca como opção. Teria de ser uma tarte basca incrível para merecer este trono, solitário, mas não era. Era só uma tarte basca banal, abaixo da média, até, servida demasiado fria. 

Quanto a vinhos, uma razoável disponibilidade de vinhos a copo, de cariz natural, como é d’habitude neste tipo de casas, com opções nacionais e internacionais – mas sem ninguém para os explicar e servir como deve ser.  

No final, o casal ao nosso lado pediu a conta e pareceu menos alegre com o que viu: quase 60€ por cabeça. Houve troca de sinais de desalento e espanto, mas tudo feito com discrição. Compreendo-os. 

Em síntese. O Arca é um bistrô bonito em Lisboa, com vinhos naturais e comida fora da caixa, onde se repetem algumas ideias boas, nem sempre bem executadas. 

Detalhes

Endereço
Rua Luz Soriano 44
Lisboa
1200-223
Preço
30-60€
Horário
Seg-Sex 18.00-00.00, Sáb-Dom 10.00-15.00/18.00-00.00
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