1. Aya Bistrôt
    Fotografia: Manuel Manso
  2. Aya Bistrôt
    Fotografia: Manuel Manso
  3. Aya Bistrôt
    Fotografia: Manuel Manso
  • Restaurantes | Japonês
  • preço 2 de 4
  • Grande Lisboa
  • Recomendado

Crítica

Aya Bistrôt

4/5 estrelas
Alfredo Lacerda
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A Time Out diz

Estava uma destas noites tempestuosas de Março, ruas desertas, acessos à ponte congestionados. Mesmo assim reservei mesa. Ia de Lisboa para a Cova da Piedade, na Margem Sul, o Google Maps dava-me 50 minutos de caminho. Não queria correr riscos.

À chegada, ficou claro que 
as cautelas eram exageradas. O restaurante estava vazio, só uma pessoa para take away e o homem que procurava: Cícero. Não Cícero, o extraordinário político e pensador romano que Marco António mandou decapitar, mas Cícero, o sushiman brasileiro,
 o mais discreto e simpático dos discípulos de mestre Takashi Yoshitake.

Se lê esta revista com regularidade, sabe que Takashi Yoshitake foi – e é – uma figura tutelar da gastronomia tradicional japonesa, em Portugal. Fundador do Aya, fechado em 2009, ensinou boa parte dos sushiman que hoje cortam peixe nas melhores casas da especialidade.

Ficamos os dois a sós. O espaço é pequeno, duas dezenas de lugares sentados, um snack bar travestido de tasca japonesa. Não há como não conversar. Para comer, peço-lhe um pouco do melhor que tiver. Ele acede. O aji, com o carapau emc ubos, vem fresco, apesar da pesca andar difícil por estes dias. “Visito vários mercados, se for preciso, logo de manhã. Desde o do Laranjeiro, passando pelo Mercado da Ribeira até ao 31 de Janeiro, em Lisboa. Só o atum é que me vêm aqui trazer.”

O périplo é comum a outros grandes chefs de Lisboa, mas Cícero não teve o mesmo sucesso que os seus colegas do Aya. Assistiu à falência dramática do célebre restaurante até ao fim e, talvez por isso, sempre foi cauteloso nos negócios. O seu projecto mais arrojado, desde 2012, aconteceu numa cave do centro comercial Apolo 70, que fecharia sem glória. “Só podia servir almoços, não dava. Depois disso, fui convidado para ir para o Bonsai, mas achei a proposta boa demais e tive medo”, confessa, arrependido, enquanto vai preparando os niguiris. O seu porto seguro, com rendas seguras, acabou por ser esta ruela escura da Cova da Piedade, a caminho de nada.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Atrás dele está uma peça magnífica, marmoreada, da barriga de atum. É da espécie rabilho?“ Não, este é albacora”, confessa, deixando logo claro uma ética nipónica. “Sou mais japonês que muitos japoneses”, garante, recordando com saudade a semana em que Yoshitake levou os seus cozinheiros num périplo “inesquecível” pelo Japão. Há-de seguir-se um “kiguiri” de enguia fumada (“normalmente ninguém pede, por isso passei a usar a de lata”) e com ele o primeiro pedaço de arroz de sushi. Como se sabe, o arroz não é um pormenor na cozinha japonesa, e este estava excelente, os bagos definidos, o vinagre e o doce equilibrados e discretos.

Seguem-se niguiris de pargo mulato e de barriga de salmão. “O salmão é classificado de 1 a 10. Eu uso do salmão número 10, que é
 o maior e o melhor”. A contenda avança depois para o toro, a barriga do atum em sashimi (peças de dominó nem sempre geométricas mas com a espessura indicada), e há-de acabar com tempurade camarão e de espinafres, estes últimos raros, só com os talos abertos, ligados na base.

E doces? Cícero sugere logo os gelados. Faz oito sabores, todos artesanais e “batidos à mão”, do de licor de ameixa ao de sésamo. Nesse dia, há para provar de café, gengibre, sésamo e de chá verde matcha, todos muito bons e pouco açucarados – um grande final para uma grande refeição.

Não se enganem. Estamos no concelho de Almada, terra de sushi de fusão, mas este Aya segue a cozinha tradicional do restaurante que lhe deu o nome. Apesar de vazio nesta noite chuvosa a meio da semana, enche às sextas e sábados, pelo que se aconselha reserva.

O restaurante não tem a sofisticação de outros japoneses lisboetas, nem no espaço nem no prato, mas tem um peixe bem trabalhado e fresco, um preço imbatível e um grande orador. Cícero está vivo. Cícero está na Cova da Piedade. Cícero podia estar em qualquer lado.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Detalhes

Endereço
Rua União Piedense, 43 C
Cova da Piedade
Almada
2805-169
Preço
15-25€
Horário
Todos os dias 12.00-15.30-19.00-23.00
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